O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, encurtou esta quarta-feira a sua viagem à Arábia Saudita para liderar a resposta ao ataque terrorista da véspera contra turistas na região de Caxemira controlada pela Índia - e fonte de tensão com o Paquistão. Enquanto centenas de membros das forças de segurança procuram os atiradores responsáveis pela morte de 26 pessoas, Modi prometeu que os responsáveis “não serão poupados” e, após uma reunião do gabinete de segurança, Nova Deli anunciou a redução dos laços com o Paquistão devido à sua alegada ligação aos autores do ataque. A Índia anunciou assim a suspensão imediata de um tratado que permite a partilha das águas do rio Indo e os adidos de Defesa da embaixada do Paquistão foram considerados persona non grata e convidados a deixar o país. O número de funcionários da representação indiana em Islamabad passará dos atuais 55 para 30 e as fronteiras serão fechadas, sendo proibida a entrada de paquistaneses na Índia exceto se tiverem um visto especial.É a resposta ao ataque de terça-feira que, além dos 26 mortos - 25 indianos e um nepalês do sexo masculino (as mulheres e as crianças foram poupadas) -, deixou 17 feridos. As autoridades procuram quatro atiradores, sendo que três já terão sido identificados. Uma recompensa equivalente a cerca de 20 mil euros está a ser oferecida em troca de informações que levem à captura dos responsáveis, que continuavam ontem em fuga. Segundo a Reuters, o ataque foi reivindicado pela Frente de Resistência, um grupo que surgiu em 2019 e é considerado um ramo do paquistanês Lashkar-e-Taiba. Fundado na década de 1980, este grupo terrorista tem como objetivo englobar a região de Caxemira no Paquistão. Foram responsáveis, por exemplo, pelos ataques de novembro de 2008 em Mumbai (antiga Bombaim), que fizeram 166 mortos. O ataque de terça-feira é o mais grave contra civis desde então. A Frente de Resistência não tinha, até agora, nenhum ataque no seu currículo. Mas as autoridades indianas diziam, já há dois anos, que estaria a planear ataques contra as forças de segurança e civis em Jammu e Caxemira, além de recrutar militantes e traficar armas e drogas ao longo da fronteira com o Paquistão. Os especialistas dizem que, apesar de alguma autonomia, o ataque de terça-feira teria que ter o aval do Lashkar-e-Taiba. O ataque ocorreu perto da cidade de Pahagalm, no vale Baisaran, um popular destino turístico conhecido como mini-Suíça pelas suas florestas de pinheiros e paisagem montanhosa. Os atiradores saíram do meio das árvores para disparar contra os turistas. Até agora, o setor do turismo - muito importante para esta região dos Himalaias e uma aposta de Modi depois de revogar o estatuto de autonomia de Jammu e Caxemira - tinha sido poupado nesta disputa entre os dois países vizinhos e potências nucleares.A Índia acusa o Paquistão de apoiar e treinar os grupos terroristas que atuam em Caxemira, algo que o Paquistão nega. Islamabad admite apenas oferecer apoio moral e diplomático aos habitantes da região que querem a autodeterminação. Mas, ainda na semana passada, lembra a BBC, o líder do exército paquistanês, o general Asim Munir, disse que “o Paquistão vai ficar ao lado dos habitantes de Caxemira na sua luta contra a ocupação indiana”, considerando a região a “veia jugular” do Paquistão. O Ministério dos Negócios Estrangeiros paquistanês lamentou o ataque. Os mais de mil turistas que estavam na área procuravam ontem sair, com as companhias aéreas a organizar voos extraordinários. “É desolador ver o êxodo dos nossos hóspedes”, disse o chefe do governo de Jammu e Caxemira, Omar Abdullah, no X Na reivindicação, a Frente de Resistência queixou-se dos 85 mil “estrangeiros” que se estão a instalar na região de maioria muçulmana, desencadeando uma “mudança demográfica”. Numa segunda mensagem, o grupo alegou que os alvos não eram turistas, mas indivíduos “ligados e afiliados com agências de segurança indianas”. Nova Deli não reagiu a essas alegações.