Zelensky recebe aliados em Kiev e admite que Ucrânia não será da NATO

Três primeiros-ministros europeus viajaram até à capital ucraniana, onde foi decretado recolher obrigatório após novos ataques a edifícios residenciais. Negociações com a Rússia esbarram em "contradições fundamentais" mas continuam hoje.
Publicado a
Atualizado a

Os primeiros-ministros da Polónia, República Checa e Eslovénia viajaram ontem de comboio até Kiev, para mostrar pessoalmente o apoio da União Europeia ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Isto numa altura em que continuam os bombardeamentos russos à capital e foi decretado um recolher obrigatório. Zelensky, que hoje discursa para o Congresso norte-americano, continua a insistir na necessidade de se criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, mas já admitiu que o seu país nunca fará parte da NATO. O presidente norte-americano, Joe Biden, viaja para a semana para Bruxelas para participar na cimeira da Aliança Atlântica e no Conselho Europeu.

"É aqui, na Kiev devastada pela guerra, que a história está a ser feita. É aqui que a liberdade luta contra o mundo da tirania. É aqui que o futuro de todos nós está em risco. A União Europeia apoia a Ucrânia, que pode contar com a ajuda dos seus amigos - trouxemos hoje esta mensagem a Kiev", escreveu no Twitter o primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki, partilhando uma foto com os homólogos checo, Petr Fiala, e esloveno, Janez Jansa, e com o seu vice-primeiro-ministro (e líder do partido) Jaroslaw Kaczynski, debruçados sobre um mapa. A viagem foi ideia dos polacos, com a UE a alertar para o potencial perigo. "A visita deles a Kiev neste momento difícil para a Ucrânia é um poderoso testemunho de apoio", escreveu Zelensky no Facebook.

Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/zelenskiy.official/posts/3031862363730786

Os líderes europeus chegaram à capital ucraniana no dia em que foi decretado um recolher obrigatório de 35 horas. O presidente da câmara de Kiev, Vitali Klitschko, disse que a medida surge diante da iminência de um "momento perigoso", ao 20.º dia da invasão. As forças russas continuam a pressionar a capital, tendo atingido zonas residenciais e causado a morte a pelo menos cinco pessoas, segundo Zelensky. As negociações entre os dois lados continuaram por videoconferência, depois da "pausa técnica" da véspera. "Vamos continuar amanhã [hoje]. Um processo de negociação muito difícil e viscoso. Há contradições fundamentais", escreveu o principal negociador ucraniano, Mikhail Podolyak.

Twittertwitter1503817372205043724

Zelensky admitiu ontem que a Ucrânia não entrará na NATO. "Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos de a reconhecer", disse o presidente numa videoconferência com a Força Expedicionária Conjunta do Reino Unido, que inclui mais oito países do norte da Europa. Zelensky defendeu contudo "novos formatos de cooperação", lamentando que a NATO pareça "hipnotizada pela agressão russa" e recuse uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia.

Este tem sido um pedido repetido pelo presidente ucraniano aos aliados, que rejeitam contudo intervir diretamente no conflito lembrando que a única forma de garantir essa zona de exclusão aérea seria abatendo os aviões russos. Além disso alegam que essa medida não iria travar os ataques - os mísseis que no fim de semana devastaram uma base militar em Lviv, no oeste da Ucrânia, causando 35 mortos e 134 feridos, foram lançados a partir de espaço aéreo russo, por exemplo.

"Podemos parar a Rússia. Podemos parar a morte de pessoas. Será mais fácil se o fizermos juntos, parar a destruição da democracia e pará-la agora na nossa terra. Ou então eles vão atrás de vocês", disse Zelensky por videochamada no mesmo encontro. No Twitter, o presidente ucraniano lançou à noite um apelo ao corte total das relações comerciais com a Rússia "para que não possa patrocinar a morte das nossas crianças" - diz que já morreram 97. Zelensky defende que "o preço desta guerra contra a Ucrânia tem que ser extremamente doloroso para a Rússia" e pede aos ucranianos em todo o mundo que façam pressão sobre políticos, jornalistas e empresários para que haja um corte total com Moscovo. "Todos no mundo têm que tomar uma posição moral. Não só o Estado, mas também as empresas", escreveu.

Twittertwitter1503801054143696904

Num dia de contactos internacionais, e na véspera de discursar no Congresso dos EUA, o presidente ucraniano fez uma intervenção emotiva no Parlamento canadiano. Zelensky pediu ao primeiro-ministro Justin Trudeau para imaginar a cidade de Vancouver cercada como Mariupol - onde alegadamente 400 médicos e doentes estão feitos reféns num hospital tomado pelos russos - ou a famosa CN Tower em Toronto atingida pelos bombardeamentos. "Vocês precisam de fazer mais para parar a Rússia, para proteger a Ucrânia e, ao fazer isso, proteger a Europa da ameaça russa".

Trudeau é um dos nomes incluídos numa lista de 300 canadianos proibidos de entrar na Rússia, anunciou Moscovo, numa resposta ao apoio a Kiev. O mesmo acontece com Biden e outros altos responsáveis norte-americanos. Esta medida "é a consequência inevitável do curso extremamente russofóbico seguido pela atual Administração", indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em comunicado. Em resposta à invasão da Ucrânia, além das sanções económicas e financeiras que procuram isolar Moscovo, os EUA proibiram a entrada no país do presidente russo, Vladimir Putin, e do chefe da diplomacia, Sergei Lavrov.

A Casa Branca anunciou entretanto que Biden irá participar na cimeira extraordinária da NATO de 24 de março, em Bruxelas, para mostrar o "apoio de ferro" aos aliados. "Iremos abordar a invasão da Ucrânia pela Rússia, o nosso forte apoio à Ucrânia e o reforço da dissuasão e defesa da NATO", indicou o secretário-geral, Jens Stoltenberg, adiantando que, "neste momento crítico, a América do Norte e a Europa devem continuar unidas".

Biden marcará também presença no encontro dos líderes europeus, no mesmo dia. No Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembrou que "a unidade e coordenação transatlântica continuam a ser cruciais para aumentar a pressão sobre o Kremlin no sentido de parar com esta guerra injustificada".

susana.f.salvador@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt