Zelensky no Fórum de Davos para não deixar cair o apoio à Ucrânia
A pouco mais de um mês de se assinalar o segundo aniversário da invasão da Ucrânia, e diante de um cenário geopolítico onde as atenções estão divididas com a guerra entre Israel e o Hamas, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky está em Davos para participar, pela primeira vez de forma presencial, no Fórum Económico Mundial. Depois de dois anos em que este encontro de elites na localidade suíça dos Alpes foi dominado pela guerra na Ucrânia, Zelensky tem pela frente a difícil tarefa de conseguir que o apoio a Kiev não se esfume, diante de um conflito que arrisca ficar congelado.
O tema do 54.º Fórum Económico Mundial é Reconstruir a Confiança. Até sexta-feira, as elites políticas e económicas, junto com académicos e líderes da sociedade civil - num total de 2300 pessoas de 120 países -, vão discutir desde a resiliência económica à transformação energética e às alterações climáticas, passando pelo reforço das instituições, a globalização, a Inteligência Artificial ou a desinformação. Sempre tendo como pano de fundo a escalada das tensões geopolíticas a nível mundial e a crítica de que, por estes dias, se discutem muitos temas, mas se encontram poucas soluções.
Nos últimos dois anos, a Ucrânia dominou as discussões, com Zelensky a intervir via ligação vídeo - em 2022 o encontro (o primeiro em pessoa depois de dois anos de pandemia) foi só em maio e não em janeiro, como habitual. Este ano, com o conflito entre Israel e o Hamas (o presidente israelita Isaac Herzog também estará presente), a tensão no Mar Vermelho e até mesmo as eleições de novembro nos EUA a distraírem as atenções, o líder ucraniano estará presencialmente na estância de esqui. O discurso está previsto para esta terça-feira.
Zelensky chegou na segunda-feira à Suíça, tendo na agenda, em Berna, encontros com líderes políticos, incluindo a presidente da Confederação Helvética Viola Amherd. “Vou expressar gratidão à Suíça pelo seu apoio consistente à soberania e integridade territorial da Ucrânia”, escreveu no Twitter, alegando que a “experiência” do país pode ajudar a alcançar “a nossa visão de uma paz justa”. O presidente disse ainda que tinha previsto discutir o regresso das crianças ucranianas “roubadas pela Rússia”, além de sanções, formas de congelar os ativos russos e assistência financeira.
Já em Davos, Zelensky disse que iria ter “importantes reuniões bilaterais com os representantes da União Europeia e da NATO, de forma a avançar na integração euro-atlântica, assim como com outros líderes e CEO, de forma a fortalecer a defesa e a resiliência económica da Ucrânia”.
Na localidade suíça está prevista a presença, entre outros, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do presidente francês, Emmanuel Macron, ou do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Na Suíça está também uma importante delegação chinesa de dez ministros, liderada pelo chefe de governo Li Qiang, segundo o Politico, que dá conta da preocupação norte-americana com esta “pseudo-visita de Estado”. A China é vista pelos ucranianos como importante para o processo de paz, tendo em conta a ligação que tem com a Rússia. Contudo, os chineses não estiveram presentes na reunião para falar do plano de paz de Kiev.
No domingo, conselheiros de Segurança Nacional de 83 países estiveram reunidos em Davos para falar do plano de paz de dez pontos defendido pela Ucrânia - um deles a retirada completa da Rússia de todos os territórios ucranianos. O encontro foi o quarto do género, sendo que no anterior só tinham participado 65 delegações. Moscovo rejeita o plano.
“Teremos, de uma forma ou de outra, de encontrar uma maneira de incluir a Rússia. Não haverá paz sem que a Rússia tenha uma palavra a dizer”, observou o chefe da diplomacia suíça, Ignazio Cassis, que coordenou o encontro com o chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak. Mas “tal não significa que devamos (...) esperar que a Rússia faça alguma coisa. A cada minuto que passa, dezenas de civis, na Ucrânia, são mortos ou feridos. Não temos o direito de esperar eternamente”, acrescentou.
Yermak, por seu lado, rejeitou a ideia de um cessar-fogo, dizendo que isso não levaria à paz, apenas daria tempo aos russos para se reforçarem. “Definitivamente não é o caminho para a paz. Os russos não querem a paz. Eles querem a dominação. Portanto, a escolha é simples: ou perdemos e desaparecemos, ou vencemos e continuamos a viver. E estamos a lutar”, disse o chefe de gabinete, citado pela agência ucraniana Ukrinform.
susana.f.salvador@dn.pt