Zelensky exige mais pressão contra a Rússia após ataque no Domingo de Ramos
Os cristãos ucranianos juntavam-se para assinalar o Domingo de Ramos quando dois mísseis balísticos russos caíram no centro de Sumi, uma cidade a pouco mais de 25 quilómetros da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia. Pelo menos 34 pessoas morreram, entre elas duas crianças, havendo ainda 117 feridos. “Destruição deliberada de civis num importante dia festivo na igreja”, denunciou o ministro do Interior ucraniano, Ihor Klymenko. Foi o ataque russo mais mortífero desde setembro de 2024, numa altura em que Kiev aceitou uma proposta de cessar-fogo do presidente dos EUA, Donald Trump, mas Moscovo ainda não.
“É muito importante que ninguém no mundo se cale, que não fiquem indiferentes. Os ataques russos só merecem condenação. É preciso que seja feita pressão sobre a Rússia para que acabe a guerra e garanta a segurança das pessoas. Sem pressão realmente forte, sem o apoio adequado à Ucrânia, a Rússia continuará a prolongar esta guerra”, reagiu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas redes sociais.
Zelensky lembrou ainda que já passou mais de um mês desde a proposta de cessar-fogo “total e incondicional” de Trump. “Infelizmente, em Moscovo estão convencidos de que podem continuar a matar com impunidade. É necessária ação para mudar esta situação”, concluiu. O seu chefe de gabinete, Andriy Yermak, alegou que os russos usaram bombas de fragmentação, num ataque que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrii Sybiha, apelidou de “crime de guerra”.
O enviado de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, foi um dos poucos responsáveis norte-americanos a reagir. No X escreveu que o ataque no Domingo de Ramos (quando os cristãos assinalam a entrada de Jesus em Jerusalém) “ultrapassa qualquer linha de decência”. O secretário de Estado, Marco Rubio, limitou-se a apresentar condolências às vítimas do “ataque horrível” sem condenar a Rússia. Falou num “trágico lembrete da razão pela qual o presidente Trump” está a “investir tanto tempo e esforço para tentar pôr fim a esta guerra e alcançar uma paz duradoura”.
O Kremlin disse ontem que os contactos com a equipa de Trump estão a avançar, mas que é cedo para esperar resultados - isto depois de o presidente russo, Vladimir Putin, se ter reunido na sexta-feira, em São Petersburgo, com o enviado especial Steve Witkoff. Sobre esse encontro, Trump disse que o diálogo está a correr bem, mas “há uma altura em que ou fazes ou calas-te”.
Europa com a Ucrânia
“Toda a gente sabe: esta guerra foi iniciada só pela Rússia. E hoje é claro que só a Rússia escolhe continuá-la - com um flagrante desrespeito pelas vidas humanas, a lei internacional e os esforços diplomáticos do presidente Trump”, lembrou o líder francês, Emmanuel Macron, numa mensagem em francês, inglês e ucraniano no X. “São necessárias medidas fortes para impor um cessar-fogo à Rússia. A França está a trabalhar incansavelmente para atingir este objetivo, junto com os seus parceiros”, acrescentou.
“Um exemplo horrível do intensificar dos ataques russos quando a Ucrânia aceitou um cessar-fogo incondicional”, indicou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, fazendo referência ao acordo que Kiev aceitou após negociações mediadas pelos EUA em Jidá, a 11 de março. “Zelensky mostrou o seu compromisso com a paz. Putin tem que concordar com um cessar-fogo total e imediato sem condições”, indicou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
Segundo a Missão de Monitorização de Direitos Humanos das Nações Unidas, só em março morreram pelo menos 164 civis em ataques russos na Ucrânia e 910 ficaram feridos, um aumento de 50% de vítimas em relação a fevereiro (129 mortos e 588 feridos). “Ataques russos todos os dias. Todos os dias as pessoas estão a morrer. Só há uma razão para isto continuar: a Rússia não quer um cessar-fogo e vemos isso. O mundo inteiro vê isso”, afirmou Zelensky.
Estas declarações foram feitas depois de um ataque à sua cidade natal de Kryvyi Rih, já em abril, no dia 4, que matou 20 pessoas (nove delas crianças). Em março, esta cidade foi atacada cinco vezes, com um balanço de seis mortos. O ataque mais mortífero para os civis no mês passado foi ainda antes de a Ucrânia aceitar o cessar-fogo. A 7 de março, 11 civis morreram após um míssil atingir Dobropillia, em Donetsk. No total, desde o início da guerra e até 31 de março, foram registadas as mortes de 12 910 civis.