No dia em que se assinalam três anos e sete meses da invasão russa da Ucrânia, Volodymyr Zelensky subiu ao pódio da Assembleia Geral das Nações Unidas com um recado claro para a comunidade internacional. “Estamos a viver a corrida ao armamento mais destrutiva da história, porque desta vez inclui a inteligência artificial”, afirmou o presidente ucraniano. “A Ucrânia é apenas a primeira, e agora os drones russos já estão a sobrevoar a Europa, e as operações russas já se estão a espalhar por vários países, e Putin quer continuar esta guerra, expandindo-a”, numa referência às recentes incursões russas no espaço aéreo de três países da NATO - Polónia, Roménia e Estónia.O líder ucraniano lembrou que há dez anos “a guerra parecia diferente e ninguém poderia imaginar que os drones baratos pudessem criar zonas de morte que se estendiam por dezenas de quilómetros, onde nada se movia, nenhum veículo, nenhuma vida. As pessoas costumavam imaginar isso apenas após um ataque nuclear. Agora, a realidade dos drones, e ainda sem IA, é real”.Olhando para o presente, Zelensky admitiu que “ninguém, além de nós próprios, pode garantir a segurança. Só alianças fortes, só parceiros fortes e só as nossas próprias armas. O século XXI não é muito diferente do passado. Se uma nação quer a paz, ainda precisa de trabalhar em armas. Não o direito internacional, nem a cooperação, mas as armas decidem quem sobrevive.”Notando que “a cada ano que esta guerra continua, as armas tornam-se ainda mais mortíferas, e só a Rússia merece ser culpada por isso”, o presidente ucraniano lembrou que Kiev teve de construir escolas e hospitais subterrâneos para salvar outras pessoas ou ensinar os agricultores a proteger os seus equipamentos de ataques com drones.“Têm proteção contra ameaças semelhantes?”, perguntou Zelensky aos líderes mundiais. “Parar esta guerra agora e dentro da corrida ao armamento global é mais barato do que construir creches subterrâneas ou bunkers enormes para infraestruturas críticas mais tarde. Parar Putin é agora mais barato do que tentar proteger todos os portos e todos os navios de terroristas com drones marítimos. Parar a Rússia é agora mais barato do que estar a pensar quem será a força para criar um simples drone que transporta uma ogiva nuclear”, avisou.Apesar do seu discurso ter sido centrado na Rússia, Zelensky quis deixar claro que estas ameaças são globais, referindo crises noutras partes do mundo, como Gaza, Somália, Sudão, Síria, ou a Geórgia e a Moldova, esta última que terá eleições parlamentares no domingo e cuja campanha tem sido dominada pela interferência russa. “Se as garantias de segurança funcionarem para a Ucrânia, algo mais do que apenas amigos e armas, isso significará que as pessoas foram capazes de fazer da segurança nacional não um privilégio de algumas nações, mas um direito de todos”, disse.Os alertas deixados por Volodymyr Zelensky tiveram eco nos discursos de outros líderes europeus na Assembleia Geral da ONU. Como o presidente checo, Petr Pavel, que referiu que “fazer vista grossa à Ucrânia hoje é luz verde para qualquer futuro agressor em qualquer parte do mundo”, e o chefe de Estado da Letónia, Edgars Rinkevics, que avisou que “a Rússia quer um mundo onde a força bruta prevaleça sobre o direito internacional”.Estas declarações foram feitas um dia depois de uma aparente mudança no posicionamento do presidente dos Estados Unidos em relação à Rússia e à Ucrânia e que foi dada a conhecer por Donald Trump depois de um encontro que manteve com Zelensky.Numa mensagem publicada na Truth Social, Trump afirmou que a Ucrânia “com o apoio da União Europeia, está numa posição de lutar e reconquistar todo o seu território de volta à sua forma original. Com tempo, paciência e com o apoio financeiro da Europa e, em particular, da NATO, as fronteiras originais desde que a guerra começou são uma opção”. O líder dos EUA declarou ainda que a Rússia tem lutado “sem objetivo numa guerra que uma verdadeira potência militar deveria ter levado menos de uma semana a vencer”, dizendo que este conflito está a fazer com que Moscovo pareça “um tigre de papel”. Trump foi ainda mais longe e defendeu que a Ucrânia pode, além de recuperar o seu território, avançar sobre a Rússia. “É o momento para a Ucrânia agir”, prosseguiu, garantindo que “continuaremos a fornecer armas à NATO para que esta faça o que quiser com elas”. O Kremlin reagiu ontem a estas palavras, afirmando que “não havia alternativa” para a Rússia senão continuar a sua ofensiva contra a Ucrânia “para garantir os nossos interesses e alcançar os objetivos” definidos pelo presidente Vladimir Putin.Rejeitando os comentários do presidente norte-americano, que urgiu a Ucrânia a fragilidade económica russa e a retomar o território ocupado, porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov garantiu que a Rússia está numa situação economicamente estável e que o seu exército está a avançar na Ucrânia. “É claro que o presidente Trump ouviu a versão de Zelensky sobre os acontecimentos. E, aparentemente, neste momento, essa versão é a razão para a avaliação que ouvimos”, prosseguiu, sublinhando que “a dinâmica, repito, mostra que, para aqueles que não estão dispostos a negociar agora, a situação será muito pior amanhã e depois.”Os aliados europeus também não ficaram indiferentes às palavras de Trump, com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão a afirmar que a Europa deve “crescer” e intensificar o apoio à Ucrânia. “Precisamos de nos tornar mais soberanos”, disse Johann Wadephul. “E é por isso que precisamos de analisar o que podemos alcançar. Podemos alcançar muito mais, nem todos os Estados europeus cumpriram o que prometeram à Ucrânia. Precisamos analisar que outras opções financeiras e militares temos.”.Zelensky diz que Rússia não vai parar até ser derrotada e avisa: "Não há garantias de segurança sem armas”.Debate na ONU abre com Trump versus resto do mundo