Zelensky a 40 km da fronteira russa antes de intervir em reunião da UE

Presidente ucraniano visitou Kharkiv, sendo a primeira vez desde a invasão que deixou a região de Kiev. Europeus procuram hoje um acordo para um embargo "diluído" ao petróleo russo
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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou ontem Kharkiv, a segunda maior cidade do país que fica a apenas 40 quilómetros da fronteira com a Rússia. Segundo o seu gabinete, 31% do território desta região ainda está nas mãos dos russos, com a Ucrânia a ter conseguido apenas recuperar 5% do que tinha sido ocupado. Horas depois, voltaram a ouvir-se explosões. O presidente visitou a zona leste, mas é a sul que os ucranianos estão a preparar a contraofensiva, em Kherson, enquanto os russos concentram os seus esforços para conquistar Severodonetsk na região do Donbass.

"Nesta guerra, os ocupantes estão a tentar arrancar pelo menos algum resultado", escreveu Zelensky no Facebook, partilhando imagens da visita a Kharkiv. "Mas deviam ter percebido há muito tempo que vamos defender a nossa terra até ao último homem. Eles não têm hipótese. Vamos lutar e vamos definitivamente ganhar", acrescentou o presidente.

No leste do país, Zelensky despediu o responsável pelos serviços de informação na região, acusando-o de não ter organizado a defesa da cidade e só pensado em si, e entregou medalhas aos soldados ucranianos. "Arriscam a vossa vida por todos nós e pelo nosso país", terá dito, segundo a mensagem divulgada pelo seu gabinete. "Quero agradecer a cada um de vós pelo vosso serviço", referiu.

A cidade de Kharkiv foi um dos alvos iniciais da ofensiva russa, logo em fevereiro, tendo sido alvo de bombardeamentos constantes até meados de maio, quando, já em retirada da região de Kiev, as tropas de Moscovo ainda tentaram cercar a localidade. A 13 de maio, os ucranianos conseguiram forçar os russos novamente para lá da sua fronteira, mas ainda na quinta-feira nove civis morreram, incluindo uma bebé de cinco meses, e 19 ficaram feridos num ataque na região, segundo o governador Oleh Synehubov. Horas depois da visita de Zelenky, voltaram a ouvir-se explosões na cidade

O próprio presidente, na sua mensagem vídeo diária, tinha dito no sábado à noite que Kharkiv era uma região onde "a situação é muito difícil", tal como no Donbass. Vestido com colete à prova de bala, o presidente visitou a cidade e os arredores. "Há 2229 casas destruídas em Kharkiv e em toda a região. Vamos restaurá-las, reconstruí-las e trazê-las de volta à vida. Em Kharkiv e em todas as outras cidades e vilas onde o mal veio", disse.

Enquanto Zelensky está no leste, as tropas ucranianas estarão a lançar uma contraofensiva a sul, aproveitando que os russos estão concentrados em Donbass. Na região de Kherson, que foi uma das primeiras a cair nas mãos dos russos nos primeiros dias de invasão, os militares ucranianos alegam que terão obrigados os russos a recuar do rio Ingulec até à posição mais vantajosa de Kostromka. Kherson é uma das regiões em que os russos facilitam a concessão de passaportes, no que Kiev considera uma violação da sua soberania.

No Donbass, as atenções continuam centradas em Severodonetsk, onde os combates já estão a decorrer rua a rua, e na vizinha Kramatorsk. A Rússia alegava no sábado já ter a cidade cercada, mas um responsável ucraniano negou-o. O governador de Lugansk, Sergiy Gaiday, diz contudo que Severodonetsk está sob bombardeamento constante e qualquer tentativa para retirar os 15 mil habitantes que ainda lá estarão não é segura. "A próxima semana será muito difícil, já que a Rússia vai pôr todos os seus recursos para capturar Severodonetsk ou cortar as comunicações com a Ucrânia", acrescentou.

Os líderes europeus vão reunir-se hoje e amanhã numa reunião especial do Conselho Europeu para discutir a Ucrânia, sendo esperada uma intervenção de Zelensky. O presidente ucraniano deverá voltar a pedir mais armas aos parceiros, que ainda não conseguiram chegar a acordo para um novo pacote de sanções à Rússia.

O problema é o embargo às importações de petróleo, com a Hungria a rejeitar essa possibilidade, temendo os efeitos na sua economia - 65% do seu petróleo vem da Rússia pelo oleoduto de Druzhba. Os diplomatas dos 27 estiveram ontem reunidos para acertar os últimos pontos do que poderá ser um acordo de compromisso, "diluído", que poderá passar por fazer um embargo apenas ao petróleo que chegue por navio à União Europeia. Logo, os húngaros, sem costa, ficariam de fora.

Entretanto a Sérvia chegou a acordo com a Rússia para importar gás russo que permita responder à procura no próximo inverno. O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, promete divulgar os pormenores nos próximos dias, mas garante que conseguiu "os melhores termos" da Europa, sendo esperado que pague um terço do que os outros países pagam. Apesar de Belgrado ter criticado a invasão russa nas Nações Unidas, recusou entrar nas sanções a Moscovo.

susana.f.salvador@dn.pt

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