Yaqeen, a mais jovem 'influencer' de Gaza, é uma das vítimas dos ataques israelitas
Numa Faixa de Gaza onde há longos meses a rotina parece resumir-se a sirenes, destruição e luto, uma menina de 11 anos encontrava motivação para responder à guerra com vídeos curtos e sorrisos desarmantes. Yaqeen Hammad não era só uma influenciadora digital com mais de 100 mil seguidores no Instagram; era um símbolo improvável de resistência num dos territórios mais devastados do planeta. Tentava, como a própria resumia, “trazer alegria a outras crianças” e “ajudar a esquecer a guerra”.
Na passada noite de sexta para sábado, no entanto, a menina cujo sorriso desafiava as bombas israelitas morreu, com a maior parte da sua família, num bombardeamento israelita sobre Deir el-Balah, no centro da Faixa de Gaza. O ataque — parte de uma escalada de guerra que também vitimou várias outras crianças, nove delas da mesma família (de uma médica palestiniana) — silenciou uma das poucas vozes de esperança que restavam no enclave. A confirmação, segundo o jornal The Guardian, chegou pelo irmão mais velho, Mohamed, com quem Yaqeen fazia trabalhado de voluntariado: “Yaqeen, a minha campeã. A minha irmãzinha, a minha alma, foi morta.”
Yaqeen participava ativamente nas ações da ONG Ouena, acompanhando o irmão na distribuição de comida, roupas e brinquedos a deslocados e órfãos. Era vista frequentemente com um colete da organização ou um colete à prova de bala, enquanto filmava vídeos que ensinavam como aquecer comida sem gás, como improvisar um fogão com latas, ou simplesmente uma dança, uma brincadeira que fosse, tentando manter a infância entre os escombros.
Nas redes sociais, os seus vídeos tornaram-se virais, partilhados por milhares de pessoas dentro e fora da Palestina. “Em Gaza, nada é impossível”, repetia, como uma oração, mesmo quando falava de problemas como a falta de água e comida, que deixam desnutridos milhares de crianças e adultos, ou a escassez de medicamentos que antecipa sentenças de morte mesmo para muitos dos que conseguem escapar às bombas.
Um rosto entre milhares de vítimas
Segundo a UNICEF, só desde março mais de 950 pessoas morreram na Faixa de Gaza após o fim do cessar-fogo. A Save the Children estima que quase metade da população vive em fome extrema e pelo menos 4500 pessoas precisam ser retiradas urgentemente para receberem cuidados médicos. Os hospitais continuam a ser alvos dos bombardeamentos e o sistema de saúde está colapsado.
Yaqeen soma-se agora a uma estatística que, segundo a agência da ONU para assistência aos refugiados da Palestina e do Médio Oriente (UNRWA), ultrapassa 15 mil crianças mortas desde o início da guerra.