Os neerlandeses vão esta quarta-feira, 29 de outubro, às urnas pela segunda vez em apenas dois anos para votar numas legislativas antecipadas causadas pelo colapso do curto governo de direita liderado pelo tecnocrata Dick Schoof. Na corrida pelos 150 lugares do parlamento estão 27 partidos e, embora há pouco mais de uma semana 47% dos eleitores diziam ainda estar indecisos, as sondagens apontam que o partido mais votado deverá ser outra vez o Partido pela Liberdade (PVV), de extrema-direita, liderado por Geert Wilders. Mas, ao contrário do que aconteceu há dois anos, é pouco provável que a formação acabe no governo. “O governo de Schoof durou apenas 11 meses e foi prejudicado desde o início pela inexperiência (três dos quatro partidos nunca tinham governado antes), pela instabilidade e pelas profundas divisões entre parceiros de coligação. Conseguiu pouco (salvo algumas exceções, como na área da defesa). Acabou por ser derrubado por Wilders devido a evidentes divergências sobre as suas políticas migratórias”, sintetiza Katja Bego, investigadora sénior do think tank britânico Chatham House. Olhando para as sondagens, o PVV poderá vir a perder alguns lugares no Parlamento (atualmente tem 37), mas tudo indica que continuará a ser o partido mais votado. O mesmo não acontecerá com os restantes partidos que integraram a coligação, começando pelo Movimento Agricultor-Cidadão (BBB) e o Novo Contrato Social (NSC), de centro-direita, que se arriscam a perder a maioria ou mesmo a totalidade dos seus deputados. Já o liberal Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD) - que enquanto foi liderado pelo antigo primeiro-ministro Mark Rutte ganhou quatro eleições consecutivas - poderá não conseguir segurar a sua posição de terceiro maior partido. A par disto, há que ter ainda em conta, nomeadamente para o futuro do PVV de Wilders (que, apesar de ter ganho há dois anos, teve de prescindir de ser primeiro-ministro ou fazer sequer parte do governo para conseguir formar um), que os principais partidos neerlandeses, começando pelos que faziam parte do executivo, afastassem a possibilidade de fazerem parte de uma aliança com o PVV, justificando esta decisão com o extremismo político de Wilders e a sua falta de fiabilidade como parceiro de coligação. Tomada de posição que Geert Wilders abordou num comício durante o último fim de semana. “Se o PVV for o maior partido na quarta-feira e vocês nos deixarem pendurados e nem sequer quiserem falar connosco ou governar connosco, então a democracia está morta nos Países Baixos”, afirmou o líder da extrema-direita neerlandesa, dirigindo-se aos restantes líderes partidários.Face a este cenário, três partidos estão na corrida para formar uma coligação de formações tradicionais: a aliança entre a Esquerda Verde e o Partido Trabalhista, liderada pelo antigo vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans, que se deverá manter como a segunda força mais votada; os Democratas Cristãos (CDA), de centro-direita, que depois de uma derrota histórica em 2023 surgem em terceiro nas intenções de voto graças à popularidade de Henri Bontebal; e o liberal D66, que poderá ser o quarto mais votado graças ao bom desempenho do seu líder, Rob Jetten, nos debates. De acordo com as sondagens, estes três partidos deverão conseguir formar um governo minoritário, precisando de várias pequenas formações centristas para obter votos suficientes para executar o seu programa, ou obter uma maioria unindo-se ao VVD que, apesar de ter dito não querer alianças com a esquerda, poderá vir a mudar de ideias na altura das negociações. Poderá também desenhar-se uma coligação mais à direita, liderada pelo CDA, e com a participação de D66, VVD e do populista JA21, mas continuaria a não ter uma maioria e teria de enfrentar divisões em temas como a imigração e a relação com Bruxelas.“Uma ‘coligação centrista’ ver-se-ia confrontada com a difícil tarefa de restaurar a confiança numa altura em que a fé do público na política está no seu nível mais baixo. Procuraria também restaurar a influência dos Países Baixos em questões como a Ucrânia e a segurança europeia - um regresso sem dúvida bem-vindo em Bruxelas e fora dela”, refere Katja Bego, notando que “sob o governo de Schoof, os Países Baixos mantiveram-se como um dos maiores financiadores da Ucrânia, mas perderam o seu lugar à mesa quando se tratou do lado diplomático e estratégico dos debates sobre segurança europeia”. A imigração é a razão pela qual os dois últimos governos neerlandeses colapsaram e pela qual hoje vão novamente às urnas, com Geert Wilders a continuar a insistir nesta última campanha que o problema dos Países Baixos são o excesso de refugiados e culpando os imigrantes pela crise imobiliária. No entanto, o tema da imigração, que deu a vitória ao PVV em 2023, perdeu alguma relevância, apesar de ainda continuar a preocupar metade dos eleitores, segundo uma sondagem de final de setembro da EenVandaag. Outro ponto forte desta campanha foi a política habitacional, indo de encontro à preocupação dos eleitores - 46% dos neerlandeses considera a escassez de habitação a questão mais importante destas eleições, com quase todos os partidos a fazerem desta área um ponto importante do seu programa, embora com diferentes abordagens. Questões mais relacionadas com a política europeia e internacional foram pouco abordadas durante a campanha. .Eleições antecipadas nos Países Baixos marcadas para 29 de outubro