Von der Leyen sofre revés na véspera de ir a votos
Ursula von der Leyen sofreu esta quarta-feira um revés, na véspera de o Parlamento Europeu aprovar (ou não) a sua reeleição como presidente da Comissão, quando o Tribunal Geral da União Europeia decidiu que a alemã não foi transparente com o público em relação aos contratos das vacinas contra a covid-19.
Na opinião do tribunal, a Comissão Europeia errou ao editar detalhes dos contratos milionários que assinou para garantir a aquisição de vacinas, tendo falhado também no teste do “interesse público” ao manter secretos os nomes dos oficiais da UE envolvidos no processo. O Executivo de Ursula von der Leyen não conseguiu igualmente comprovar como a divulgação dos detalhes de possíveis compensações poderia prejudicar os interesses comerciais dos grupos farmacêuticos envolvidos no negócio das vacinas, refere o Tribunal Geral da União Europeia.
A decisão representa uma vitória para os eurodeputados e particulares que tinham pedido detalhes dos acordos no valor de 2,7 mil milhões de euros negociados entre 2020 e 2021, depois de a Comissão liderada por Ursula von der Leyen - que também enfrenta problemas por supostamente manter segredo e excluir mensagens de texto com o chefe da Pfizer sobre compras de vacinas - ter divulgado apenas versões editadas dos contratos que assinou.
Ao mesmo tempo representa também um revés para a alemã, que hoje tem o seu futuro político nas mãos do Parlamento Europeu - para ser reeleita para um segundo mandato precisa do voto de 361 dos 720 eurodeputados numa eleição com voto secreto e que deverá ser renhida. Algo a que a alemã já está habituada, pois há cinco anos garantiu a sua eleição com uma margem de nove votos. “É uma votação, uma votação secreta, por isso não sabemos quem pode trair ou deixar de respeitar os compromissos”, lembra Pascale Joannin, diretora da Fundação Robert Schuman.
O Partido Popular Europeu, a família política da alemã, é a maior força do Parlamento, com os seus 188 eleitos. Aliado aos Socialistas & Democratas (136) e aos liberais do Renovar Europa (77) é esperado que consiga os votos suficientes. Uma fração dos deputados desses grupos poderá muito bem votar contra Von der Leyen, mas ela espera que eleitos de outros grupos compensem a diferença, nomeadamente entre os Verdes e também no grupo de extrema-direita Conservadores e Reformistas Europeus, dominado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, cujos eurodeputados checos já disseram que a apoiam.
Na terça-feira, António Costa, futuro presidente do Conselho Europeu, esteve em Estrasburgo reunido com o grupo do S&D - no qual ainda há indecisos, como os oito socialistas portugueses - para “manifestar apoio à eleição da presidente Ursula von der Leyen”.
ana.meireles@dn.pt