A esperança para o retomar das conversações para colocar um ponto final ao conflito étnico renasceu quando os cipriotas turcos elegeram há uma semana como presidente Tufan Erhurman com mais de 62,8% dos votos, um moderado que fez campanha pelo regresso às negociações por uma federação de duas zonas com os seus vizinhos do sul cipriotas gregos após oito anos de impasse. Um claro sinal de que os eleitores não queriam a continuação de Ersin Tatar no poder e da sua visão de uma solução de dois Estados em Chipre, bem como a sua relutância em iniciar negociações formais de paz, o que alienou ainda mais os cipriotas turcos da rota da União Europeia. Este conflito entre os dois lados da ilha teve início a 15 de julho de 1974, quando foi encenado um golpe de Estado por nacionalistas greco-cipriotas e elementos da junta militar de Atenas, ação que precipitou a invasão turca de Chipre a 20 de julho, que capturou o atual território do norte da ilha. Nove anos mais tarde, em 1983, foi estabelecida por uma declaração unilateral a existência de um Estado turco-cipriota separado no norte - ocupando menos de um terço desta ilha no Mediterrâneo -, ação que continua a ser reconhecida apenas pela Turquia, que mantém lá cerca de 35.000 soldados, numa disputa que continua até aos dias de hoje. De notar ainda que Chipre aderiu à União Europeia em 2004, mas apenas o sul greco-cipriota - onde se encontra o governo internacionalmente reconhecido - usufrui de todos os benefícios de fazer parte do bloco. Apesar das críticas ao seu antecessor por se ter mantido afastado das negociações e defender uma solução de dois Estados, em linha com Ancara, Erhurman garantiu no seu discurso de vitória que “exercerei as minhas responsabilidades, particularmente em questões de política externa, em consulta com a República da Turquia. Que ninguém se preocupe”. Na sexta-feira, na sua tomada de posse, deu um roteiro para as futuras negociações, dizendo que estas devem envolver, além dos cipriotas gregos, instituições como UE, ONU, Organização dos Estados Turcos e a Organização de Cooperação Islâmica..Numa entrevista à Euronews na semana passada, o presidente cipriota, Nikos Christodoulides, por seu turno, disse estar pronto para “retomar as negociações já na próxima semana”, suspensas desde o fracasso da última ronda de conversações apoiadas pela ONU em 2017. E classificou a eleição de Erhurman e a sua defesa de uma federação como “um desenvolvimento positivo”.Para Christodoulides, se Erhurman “falar claramente de uma federação bizonal e bicomunitária, então acredito que estará aberto o caminho para a solução do problema de Chipre com base na resolução do Conselho de Segurança da ONU”. Ao mesmo tempo que rejeitou a solução de dois Estados proposta pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.“A sua vitória oferece esperança de paz para Chipre”, disse o académico e antigo eurodeputado Niyazi Kizilyürek, depois de serem conhecidos os resultados. “Os apoiantes dizem esperar mudanças reais na vida quotidiana, começando com medidas de reforço da confiança, e todos esperam que ele queira retomar as negociações com base nas resoluções da ONU muito em breve.”Mas, embora este resultado seja um bom sinal para o retomar das negociações formais, existem desafios para que se consiga chegar a um acordo de paz. Começando pelo facto de o próprio Erhurman ter rejeitado as alegações de que procuraria abolir os direitos de intervenção militar da Turquia em vigor em qualquer acordo de paz - a minoria cipriota turca afirma que a presença militar turca é necessária para a sua proteção, os cipriotas gregos veem como um meio de Ancara afirmar o controlo sobre toda a ilha.Erdogan parabenizou Tufan Erhurman pela sua vitória nas eleições, mas deixou um aviso face às suas aspirações sobre o futuro do norte da ilha, ao garantir que “continuaremos a defender os direitos e interesses soberanos da República Turca do Chipre do Norte, juntamente com os nossos irmãos e irmãs turco-cipriotas em todas as plataformas”.Mehmet Ali Talat, que presidiu ao lado cipriota turco entre 2005 e 2010, disse acreditar que Ancara poderá adaptar o seu discurso. “Pode mudar? Acredito que sim. Depende do que a Turquia ganhar com a solução”, disse numa entrevista ao jornal cipriota grego Politis, citado pela Reuters. De recordar, por exemplo, que a Turquia pediu recentemente para participar na Iniciativa de Ação de Segurança da UE para a Europa (SAFE), que pretende atribuir 150 mil milhões de euros às empresas de defesa europeias, um pedido que está a ser bloqueado por Grécia e Chipre. .“Chipre é uma ilha pequena. Por que é que não conseguimos encontrar uma forma de viver juntos?”