Esta quinta-feira de manhã, 26 de junho, à entrada para o Conselho Europeu, o primeiro-ministro húngaro foi questionado pelos jornalistas sobre como se sentiria se um dos seus cinco filhos decidisse participar no Budapest Pride, evento da comunidade LGBT+ marcado para este sábado, 28 de junho, e cuja realização foi proibida pelo seu governo. “São todos adultos. Fazem as suas próprias escolhas sobre as suas próprias vidas”, respondeu Viktor Orbán.O tom desta resposta destoa dos comentários que fez na noite anterior em reação à tomada de posição da presidente da Comissão Europeia sobre o Budapest Pride e a sua proibição. “Apelo às autoridades húngaras para que permitam a realização do Budapest Pride, sem receio de quaisquer sanções criminais ou administrativas contra os organizadores ou participantes. À comunidade LGBTIQ+ na Hungria e não só: serei sempre vossa aliada”, partilhou Ursula von der Leyen nas redes sociais.A alemã usou também os canais oficiais da Comissão para tornar pública uma mensagem mais alargada, onde recorda que “a nossa União é uma união de igualdade e não-discriminação. Estes são os nossos valores fundamentais, consagrados nos nossos tratados. Devem ser respeitados em todos os momentos, em todos os Estados-membros”. Orbán usou igualmente o X para responder a Von der Leyen, exortando a “Comissão Europeia a abster-se de interferir nos assuntos de aplicação da lei dos Estados-membros, onde não tem qualquer papel a desempenhar.”O Parlamento da Hungria, controlado pelo Fidesz de Orbán, aprovou em março a proibição da realização anual do Budapest Pride, alegando, entre outras coisas, que esta iniciativa LGBTQ+ pode ser considerada prejudicial para as crianças e protegê-las substitui o direito de reunião. Na mesma ocasião foi também aprovada legislação que permite que a polícia utilize câmaras de reconhecimento facial para identificar as pessoas presentes. De referir ainda que participar num evento proibido implicará multas de até 200 mil florins húngaros (cerca de 502 euros).No âmbito desta legislação, a polícia húngara anunciou que a realização, este sábado, do Budapest Pride é proibida. No entanto, o presidente da câmara da capital húngara, Gergely Karácsony, prometeu que o desfile iria ter lugar, como um evento municipal em celebração da liberdade, tentando contornar, assim, a lei do governo de Viktor Orbán, já que os eventos municipais não requerem aprovação da polícia. “Nesta cidade, não existem cidadãos de primeira ou segunda classe. Nesta cidade, sabemos que só podemos ser livres juntos”, disse Karácsony a 16 de junho, acrescentando que “nesta cidade, nem a liberdade, nem o amor podem ser proibidos, e o Budapest Pride também não pode ser proibido.”Mesmo assim, o ministro da Justiça húngaro Bence Tuzson insiste que o evento está proibido, tendo mesmo enviado esta semana uma carta a várias embaixadas, reiterando que os organizadores podem ser presos e que as celebrações são ilegais: “Por gentileza, garantam que os vossos colegas de trabalho e colegas são devidamente informados destes factos, de forma a manter a clareza”, escreveu o governante na missiva obtida pelo Politico.Dias antes, Portugal, França, Reino Unido e outros 30 países, além de institutos como o Camões, haviam manifestado numa carta aberta o seu apoio ao Budapest Pride. Tomada de posição que se seguiu a uma outra, em final de maio, quando 16 países da União Europeia, entre os quais França, Alemanha, Países Baixos e Portugal, pediram ao executivo comunitário que penalize a Hungria devido à proibição deste evento, tendo recebido como resposta o silêncio de Ursula von der Leyen, que só agora foi quebrado. Esta onda de apoio vai materializar-se também este sábado em Budapeste, onde irão estar presentes no desfile da comunidade LGBT+ cerca de 70 eurodeputados de vários quadrantes políticos, bem como o ministro da Cultura espanhol Ernest Urtasun, o ministro da Educação holandês Eppo Bruins, representantes do governo francês, o ex-primeiro-ministro belga Elio Di Rupo e o antigo líder do governo irlandês Leo Varadkar. A comissária europeia para a Igualdade, Hadja Lahbib, vai estar em Budapeste já esta sexta-feira, 27 de junho, prevendo-se que dê uma conferência de imprensa conjunta com o presidente da câmara da capital húngara, Gergely Karácsony. A organização do Budapest Pride espera que este sábado saiam à rua cerca de 35.000 pessoas..Autarca de Budapeste avança com 'Marcha Pride' em desafio a Orbán.Dezasseis países da UE querem a Hungria penalizada por proibição do 'Budapeste Pride'