França prepara-se para lidar com as consequências de uma das suas maiores catástrofes humanitárias deste século, após a passagem do ciclone tropical Chido nas ilhas de Mayotte, arquipélago no Oceano Índico entre Madagascar e a costa de Moçambique. As autoridades temem "vários milhares" de mortos em Mayotte.."O que estamos a viver é uma tragédia, sentimo-nos como se estivéssemos no rescaldo de uma guerra nuclear... Vi um bairro inteiro desaparecer”, disse Mohamed Ishmael, um morador da capital Mamoudzou, em declarações à Reuters..De acordo com o serviço de meteorologia Meteo-France, o ciclone Chido atingiu Mayotte durante a noite com rajadas de vento que atingiram mais de 200 km/h..Numa entrevista ao canal público de televisão local Mayotte la 1er, o delegado do Governo francês no departamento de Mayotte, François-Xavier Bieuville, declarou que será "muito difícil" fazer um balanço final e que, na pior das hipóteses, o número de mortos será "próximo de um milhar ou mesmo de vários milhares"..No caso de se confirmarem estes números, o ciclone Chido em Mayotte ficará para a história como uma das piores catástrofes do século XXI em território francês..Sistema de saúde de Mayotte ficou muito degradado com passagem do ciclone Chido.A situação do sistema de saúde no arquipélago francês de Mayotte, devastado por um ciclone, está “muito degradada com um hospital muito destruído e centros médicos igualmente inoperantes”, disse esta segunda-feira a ministra da Saúde da França..“O hospital sofreu danos significativos de água e também degradação, nomeadamente nas áreas de cirurgia, reanimação, urgência, maternidade, partes essenciais do funcionamento do hospital”, descreveu Geneviève Darrieussecq..Em declarações ao canal França 2, a ministra da Saúde e Solidariedade francesa mostrou-se preocupada com a situação, mas garantiu que o equipamento continua a funcionar..“Apesar de tudo [o hospital] continua a funcionar ainda que de forma precária”, disse a governante que também descreveu a existência de “centros médicos igualmente inoperantes”..Pelo menos quatro mortos e 37 feridos na passagem do ciclone Chido em Moçambique.Pelo menos quatro pessoas morreram e outras 37 ficaram feridas na sequência da passagem do ciclone Chido nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, anunciaram organizações no terreno..Do total de mortes, três foram registadas em Cabo Delgado e uma em Nampula, no norte de Moçambique, esta última reportada, no domingo, pela Organização Não-Governamental (ONG) ActionAid.."No Hospital de Pemba, os profissionais de saúde registaram 37 feridos, três mortes (uma criança devido à queda de um muro)", lê-se num balanço do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef, na sigla em inglês), a que a Lusa teve hoje acesso..No documento, o Unicef relata ainda a destruição de barcos, telhados e queda de árvores.."Caiu uma árvore em cima do nosso escritório e causou apenas danos na estrutura do edifício, não perdemos, felizmente, nada, nem computadores, nem arquivos (...), mas a cobertura do edifício ruiu por causa da queda dessa árvore", disse à Lusa o coordenador da Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa Helpo, Carlos Almeida, falando do seu escritório situado em Cabo Delgado..Segundo Carlos Almeida, as pessoas em Pemba estavam "muito assustadas", havendo ainda algumas infraestruturas destruídas, entre as quais hotéis, sobretudo as que estavam junto à costa..O ciclone tropical intenso Chido, de escala 3 (1 a 5), atingiu a zona costeira do norte de Moçambique na noite de sábado para domingo, segundo o Centro Nacional Operativo de Emergência (CNOE)..O mesmo serviço indicou que o ciclone enfraqueceu para tempestade tropical severa, mas que continua a fustigar aquelas duas províncias do norte, com "chuvas muito fortes acima de 250 mm [milímetros]/24 horas, acompanhada de trovoadas e ventos com rajadas muito fortes".."Este cenário apresenta elevado risco de inundações urbanas e erosão nas cidades de Pemba, Nacala e Lichinga, assim como em áreas baixas e ribeirinhas das bacias dos rios Muaguide, Megaruma, Lúrio", refere a informação do CNOE, consultada pela Lusa..Cerca de 200 mil clientes ficaram sem eletricidade em Nampula e Cabo Delgado devido aos efeitos da passagem do ciclone Chido, divulgou, no domingo, a Eletricidade de Moçambique (EDM) e pelo menos três voos com destino à região norte foram, no mesmo dia, cancelados pela companhia aérea Linhas Aéreas de Moçambique (LAM)..As autoridades moçambicanas já tinha admitido na quinta-feira, que cerca de 2,5 milhões de pessoas poderiam ser afetadas pelo ciclone Chido nas províncias de Nampula, Cabo Delgado e Niassa, no norte, e na Zambézia e Tete, no centro..Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril..O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país..Já na primeira metade de 2023, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, de acordo com dados oficiais do Governo."Ativado o satélite Copernicus da UE para monitorizar Mayotte e Moçambique".A comissária europeia para a Gestão de Crises anunciou no domingo a ativação do sistema Copernicus, responsável pela monitorização da Terra, para acompanhar a situação no arquipélago francês de Mayotte e em Moçambique, após a devastadora passagem do ciclone Chido..Hadja Lahbib, a acompanhar "de perto" a situação desde o dia anterior para preparar a resposta humanitária da União Europeia, indicou ainda que a Comissão Europeia está em contacto com França e preparada para fornecer ajuda.."Foi ativado o satélite Copernicus da UE para monitorizar Mayotte e Moçambique. Estamos em contacto com França e prontos para prestar apoio", escreveu a comissária europeia nas redes sociais..Utilizando imagens em tempo real e dados de alta precisão, o programa de observação da Terra Copernicus permite que as autoridades monitorizem as áreas afetadas por catástrofes naturais e coordenem as equipas de emergência para responder da forma mais rápida e eficiente possível..Lahbib, ex-ministra dos Negócios Estrangeiros belga, referiu-se aos "preocupantes" efeitos do Chido, que "ceifou vidas e causou muitos danos".."Os nossos pensamentos estão com as famílias das vítimas", afirmou..Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou hoje que a UE está pronta para ajudar França, na sequência da passagem do ciclone Chido em Mayotte, um arquipélago francês no oceano Índico, situado a sudeste do continente africano.."Estamos inteiramente com França, após a passagem devastadora do ciclone Chido em Mayotte. A Europa está ao lado dos Mahorais nesta terrível provação. Estamos prontos para fornecer ajuda nos próximos dias", escreveu Ursula von der Leyen na rede social X (antigo Twitter).