"Que isto fique muito claro para todos: Edmundo [González] lutará desde o exterior junto com a nossa diáspora e eu continuarei a fazê-lo aqui, junto de vocês.” Horas depois do anúncio de que o ex-diplomata que disputou as presidenciais contra Nicolás Maduro tinha deixado a Venezuela a caminho de Espanha, que lhe concederá asilo político, aquela que é a verdadeira líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, escrevia uma mensagem no X a pedir “serenidade, coragem e firmeza” e a deixar claro que ela não planeia sair do país. “Esta luta é até ao fim e a vitória é nossa”, indicou. .González, que muitos países reconhecem como o verdadeiro vencedor das eleições, chegou ontem a Madrid (onde vive uma das filhas) num avião da Força Aérea Espanhola. Viajou acompanhado da mulher e do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros espanhol, Diego Martínez Belío, tendo garantido o asilo político como outros opositores venezuelanos..O ex-diplomata de 75 anos tinha sido visto em público pela última vez dois dias depois das eleições, num protesto em Caracas, sabendo-se este domingo que esteve refugiado na embaixada dos Países Baixos. Só na quinta-feira foi transferido para a espanhola, sendo que o ex-primeiro-ministro José Luis Zapatero terá servido de mediador no acordo que possibilitou a sua saída no país..González era alvo de um mandado de captura da parte das autoridades venezuelanas, que o acusam de vários crimes relacionados com a sua denúncia de fraude eleitoral. Para muitos opositores, esse mandado não se destinava verdadeiramente a conseguir a sua detenção, mas a pressioná-lo a partido para o exílio..Maria Corina Machado fica.Quem parece determina em não sair é Corina Machado, que venceu com mais de 90% as primárias da Mesa da Unidade Democrática para ser candidata às presidenciais, mas foi impedida de o fazer pela justiça venezuelana (controlada pelo regime). A ex-deputada de 56 anos, com raízes portuguesas, acabaria por apoiar o quase desconhecido ex-embaixador na Argélia e na Argentina..Os dois fizeram campanha juntos e a popularidade dela traduziu-se nos votos para ele - segundo as atas eleitorais apresentadas pela oposição, foi ele que venceu as eleições e não Maduro. Na mensagem que escreveu no X, María Corina Machado lembrou que González saiu do país porque “a sua vida corria perigo”, acreditando que ele a 10 de janeiro tomará posse como deve como presidente da Venezuela..A líder opositora também tem estado escondida, surgindo em público apenas em alguns protestos da oposição. Filha de um empresário metalúrgico cujas empresas foram nacionalizadas por Hugo Chávez, Corina Machado estudou Engenharia Industrial e Finanças. Ganhou destaque à frente de uma organização que recolheu assinaturas para o referendo revogatório contra Chávez, que viria a realizar-se em 2004, sendo então apelidada de colaboradora do “golpismo imperialista” por ter estudado e ter ligações com os EUA..Foi eleita deputada independente em 2010 e perdeu, dois anos depois, as primárias da oposição para Henrique Capriles. Sempre teve um discurso mais radical do que outros opositores, tendo sido a primeira a apelidar o governo de Maduro de “ditadura”. Também rejeitou qualquer negociação com o regime, apelidando os que aceitaram de “colaboracionistas” e defendeu o uso da força para derrubar o presidente..Outros opositores no exílio.Juan Guaidó O ex-líder da Assembleia Nacional proclamou-se presidente interino em 2019, depois da reeleição contestada de Nicolás Maduro. Mas não conseguiu uma mudança de regime, acabando por em abril de 2023 partir para a Colômbia e, depois, seguir para Miami, nos EUA, onde vive.EPA/.FOTO: EPA.FOTO: Paulo Spranger / Arquivo Global ImagensLeopoldo López O antigo autarca de Chacao foi detido em 2014 por liderar os protestos contra o governo ainda de Hugo Chávez, já depois de ter sido impedido de se candidatar a cargos públicos por alegada corrupção. Em 2017 foi posto em prisão domiciliária, aproveitando a tentativa de golpe militar contra Maduro em 2019 para se refugiar na Embaixada de Espanha em Caracas. Em outubro de 2020, saiu para a Colômbia e está agora em Madrid. .Antonio Ledezma O antigo autarca de Caracas também está na capital espanhola com a família. Em 2015 foi detido, acusado de liderar uma tentativa de golpe contra Maduro - algo que sempre negou. Por questões de saúde, ficaria em prisão domiciliária, acabando por fugir da Venezuela em novembro de 2017, cruzando a fronteira com a Colômbia antes de seguir para Espanha. .FOTO: AFP.Julio Borges O antigo presidente da Assembleia Nacional venezuelana é outro dos que vive em Espanha, depois de em 2018 ter conseguido asilo político na Colômbia. Foi acusado de alegada corrupção e por supostamente planear e financiar um atentado com drone contra Maduro, em 2018, sendo também procurado por traição à pátria na tentativa de levantamento militar em 2019..susana.f.salvador@dn.pt