O executivo europeu de Ursula von der Leyen apresentou esta quarta-feira, 17 de setembro, os seus planos para pressionar Telavive a melhorar as condições humanitárias em Gaza e que passam por suspender algumas disposições comerciais do Acordo de Associação entre a UE e Israel, afetando cerca de 5,8 mil milhões de euros de bens israelitas exportados, resultando em cerca de 227 milhões por ano em tarifas, entre outras medidas. As propostas, que não contam com o apoio unânime dos 27, foram classificadas pelo líder da diplomacia israelita como “moral e politicamente distorcidas”.De recordar que a União Europeia é o maior parceiro comercial de Israel, representando 32% do seu comércio de mercadorias em 2024, enquanto que Telavive é o 31.º maior parceiro comercial do bloco dos 27.Dados de Bruxelas apontam que o comércio de mercadorias entre as duas partes ascenderam a 42,6 mil milhões de euros, notando que as importações da UE provenientes de Israel ascenderam a 15,9 mil milhões de euros, 43,9% das quais máquinas e equipamentos de transporte.As medidas anunciadas esta quarta-feira incluem ainda sanções aos dois ministros de extrema-direita do governo de Benjamin Netanyahu - Itamar Ben Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) - bem como a colonos israelitas violentos e a dez membros seniores do Hamas.A Comissão Europeia pretende também suspender o seu apoio bilateral a Israel, com exceção do apoio à sociedade civil e ao Yad Vashem, o centro mundial de documentação, investigação e educação sobre o Holocausto, afetando as futuras dotações anuais entre 2025 e 2027.De acordo com o Times of Israel, o anúncio de Bruxelas levou a uma queda das ações na Bolsa de Telavive, o que acontece pelo sexto dia consecutivo. “Cada vez ouvimos mais críticas diretas à conduta de Israel em Gaza, o que está a alimentar o nervosismo nos mercados financeiros, criando incertezas para os investidores sobre as implicações da ofensiva na cidade de Gaza e na guerra com o Hamas”, disse ao mesmo jornal o economista-chefe do Mizrahi Tefahot Bank, Ronen Menachem. Israel abriu esta quarta-feira, por 48 horas, uma segunda estrada que atravessa o enclave palestiniano, para obrigar a população a abandonar a cidade de Gaza, onde começaram na segunda-feira uma grande ofensiva terrestre e aérea. Só esta quarta-feira morreram, pelo menos, 62 palestinianos nos ataques, sendo que, segundo a Al-Jazeera, 13 pessoas foram mortas numa ação israelita junto ao Hospital al-Shifa, na cidade de Gaza Criticada pela sua inaçãoO pacote de medidas, que havia sido abordado por Ursula von der Leyen no seu discurso do Estado da União na semana passada, representa uma grande mudança na posição política da alemã, que há meses é criticada pela sua inação face a Gaza por líderes europeus, como o espanhol Pedro Sánchez (que pediu a revisão deste acordo de associação há 18 meses), grupos políticos e até funcionários da União Europeia.“Quero deixar bem claro. O objetivo não é punir Israel. O objetivo é melhorar a situação humanitária em Gaza”, explicou a líder da diplomacia europeia, Kaja Kallas. “É por isso que as propostas que estamos a fazer não estão realmente a tocar ou a afetar as pessoas, mas sim a pressionar o governo israelita para mudar de rumo.”O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Sa’ar - que já tinha enviado uma carta a Ursula von der Leyen na qual a acusava de “empoderar grupos terroristas” - disse esta quarta-feira que as propostas europeias são “moral e politicamente distorcidas, e é de esperar que não sejam adotadas”.Sa’ar poderá não estar longe da verdade, já que a imposição de tarifas a Israel tem de ser aprovada por uma maioria qualificada dos países da UE, enquanto as sanções devem ser unânimes. E até agora contam com a oposição de países como a Alemanha, a Áustria, a Itália e a Hungria, sendo que Berlim afirmou esta quarta-feira que “o governo alemão ainda não formou uma opinião final” sobre as medidas..Comissão da ONU diz que Netanyahu incitou o genocídio na Faixa de Gaza.Mais de 50 países apelam à revisão das relações com Israel