“Chisinau disse-nos ‘fizemos a nossa parte, agora esperamos que vocês, União Europeia, façam a vossa”, disse na semana passada à polaca TVP Miroslav Lajcák, conselheiro de segurança nacional da Eslováquia e veterano da expansão da UE, à margem do Fórum de Segurança de Varsóvia. Uma mensagem de urgência que já tinha sido transmitida pela vice-primeira-ministra moldava, Cristina Gherasimov, logo depois da votação de 28 de setembro. “Esperamos que a UE retribua, tendo em conta os resultados das eleições, porque, para aproveitarmos este momento histórico em que estamos no alargamento, precisamos de agir rapidamente”.Os moldavos, nas recentes eleições parlamentares, e apesar da forte influência russa verificada durante a campanha, deram mais um sinal de que querem continuar a ver no poder, e com maioria absoluta, o Partido de Ação e Solidariedade (PAS) da presidente Maia Sandu e seguir assim o caminho em direção à adesão à União Europeia que começaram a trilhar há três anos. No entanto, esta vitória representa um teste para Bruxelas, que precisa de mostrar que está preparada para responder de forma rápida ao voto de confiança que lhe foi dado pelos eleitores da Moldova - uma antiga república soviética de 2,4 milhões de habitantes entre o flanco leste da UE e a Ucrânia -, sabendo que estes continuarão a ser pressionados por Moscovo. Um alerta que já tinha sido dado por Florent Parmentier, secretário-geral do Centro de Investigação Política da Sciences Po, dias antes dos moldavos irem às urnas. “Independentemente do resultado das eleições, a experiência moldava oferece já lições decisivas para a política de alargamento. Em primeiro lugar, encoraja-nos a considerar a necessidade de repensar os prazos: num contexto de guerra híbrida, a tradicional lentidão das negociações de adesão torna-se um factor de vulnerabilidade”, referiu numa análise para o think tank Fundação Robert Schuman. “A União Europeia deve aprender a acelerar os seus processos sem sacrificar as suas exigências democráticas, a integrar explicitamente a proteção contra a interferência externa e a guerra híbrida, e a melhorar e repensar as suas políticas de pré-adesão, a fim de gerar benefícios tangíveis e imediatos, os únicos capazes de resistir às promessas demagógicas das forças antieuropeias”.O objetivo da Moldova é que o seu processo de adesão fique completo nos próximos três anos, uma data que mostra alguma ambição, mas também realismo, já que Chisinau concluiu em setembro o chamado processo de screening, um exercício formal e técnico, dividido em 35 capítulos, realizado pela Comissão Europeia a fim de preparar as negociações de adesão. Mas a Moldova está também dependente do andamento do processo da Ucrânia, já que as duas candidaturas - que foram apresentadas quase em simultâneo nos primeiros dias da invasão russa - estão “algemadas” e têm sido tratadas em paralelo, ou seja, um país não pode avançar sem o outro. Nos últimos meses chegou a falar-se na possibilidade de se separar as duas candidaturas, de forma a não prejudicar a Moldova, mas esta hipótese foi afastada tanto por Bruxelas, como por Kiev e Chisinau. Uma boa notícia é que a Ucrânia completou o seu processo de screening na última semana, podendo assim iniciar também as negociações com vista a fazer parte do bloco comunitário. “Este é um processo baseado no mérito. Tanto a Moldova como a Ucrânia cumpriram os seus compromissos e estão prontas para os próximos passos. Esperamos sinceramente que uma decisão positiva seja tomada em breve”, disse a presidente moldava, Maia Sandu, esta quinta-feira em Copenhaga, à margem da cimeira da Comunidade Política Europeia, quando questionada sobre o início das negociações de adesão à União Europeia.O plano desbloqueador de António CostaNo entanto, além da tradicional morosidade dos processos de adesão - o último país a entrar para o bloco foi a Croácia em 2013 - a Ucrânia, e consequentemente a Moldova, tem o seu caminho travado por um obstáculo adicional: a oposição da Hungria a que Kiev se junte ao bloco, o que impede que o processo avance, já que é preciso unanimidade no Conselho Europeu para avançar com as reformas necessárias para ser tornar membro da União Europeia. De forma a desbloquear este entrave, António Costa defende a ideia de que estas regras devem ser flexibilizadas, tendo sugerido aos líderes dos 27 que podem votar por maioria qualificada para abrir os chamados grupos de negociação, os principais marcos jurídicos para se chegar à adesão, deixando a unanimidade apenas para o seu encerramento e a aprovação final para a entrada, o que poderá ajudar a diminuir a frustração de Kiev e Chisinau. Este foi um plano que o português apresentou aos líderes durante a sua digressão pelas capitais europeias em setembro e que estava na agenda do Conselho Europeu informal da última quarta-feira em Copenhaga - e ao qual deverão voltar na reunião marcada para o final deste mês. Para já, este projeto do presidente do Conselho Europeu, um grande defensor do alargamento, tem o apoio do executivo de Ursula von der Leyen, mas também de países como a Finlândia ou a Roménia. “Há um desejo de ambos os lados pela adesão da Moldova. No entanto, tem havido muita discussão sobre a oposição da Hungria à inclusão da Ucrânia, pelo que este problema técnico precisa de ser resolvido. Mas existe uma forte vontade da União Europeia para que a República da Moldova passe a fazer parte da UE até 2028, o mais tardar”, afirmou o presidente da Roménia, Nicusor Dan, depois da cimeira de Copenhaga da Comunidade Política Europeia. A Dinamarca, que à partida poderia ser mais conservadora quanto a este projeto, deu também na quinta-feira um sinal de que poderá apoiar António Costa, o que ganha especial relevância devido ao facto de Copenhaga estar à frente, até final do ano, da presidência rotativa do Conselho da União Europeia. “Acredito que temos de nos cingir à estratégia, e o alargamento da União Europeia faz parte dela. É uma questão que diz respeito a toda a União Europeia e, na verdade, a todo o continente europeu. Temos de construir uma Europa o mais forte possível, o que, na minha opinião, significa alargar a União Europeia”, disse a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen, não escondendo a frustração, ao garantir: “não permitirei que um país, e certamente não permitirei que o senhor Orbán, tome decisões sobre todo o futuro europeu”.Por outro lado, o líder do governo húngaro Viktor Orbán, que sem surpresas já disse ser contra esta manobra, parece ter ao seu lado aliados improváveis como a Grécia, a Bulgária e a Croácia, que querem manter o seu poder de veto para bloquear adesões que veem como problemáticas, como a Turquia (no caso dos gregos), a Macedónia do Norte (para os búlgaros) ou a Sérvia (na visão dos croatas). Na opinião de Clara Volintiru, diretora da divisão de Bucareste do think tank German Marshall Fund, o alargamento é, neste momento, uma questão de vontade política e não apenas um processo burocrático. “As pressões geopolíticas estão muito elevadas e penso que Bruxelas percebe muito bem os riscos que estão envolvidos”..Diplomacia de pressão em CopenhagaTanto Maia Sandu como Volodymyr Zelensky aproveitaram a cimeira da Comunidade Política Europeia, que agrega 47 nações, para discutirem o processo da adesão dos seus países com vários líderes dos 27, como França, Dinamarca ou Polónia, e representantes das instituições europeias, como António Costa, Ursula von der Leyen e Kaja Kallas, mas também entre si. Os dois chefes de Estado, segundo a presidência ucraniana, tiveram uma “conversa detalhada sobre o caminho conjunto da Ucrânia e da Moldova para a União Europeia” e deixaram claro que “partilham uma posição comum: é importante encontrar formas de garantir a abertura simultânea do primeiro cluster à Ucrânia e à Moldova”.A questão do alargamento foi também levantada por Zelensky na sua intervenção durante a cimeira. “Apoiar a Moldova, a Ucrânia e os Balcãs Ocidentais no seu caminho para a adesão à UE é fundamental. Precisamos de progresso real. A Ucrânia concluiu o processo de screening. Estamos prontos para abrir o cluster 1, e isso tem de ser feito. Tal como acordado. Isto irá certamente fortalecer a situação geral”, referiu o líder ucraniano, que no dia no dia anterior ao falar, por vídeo, no Conselho Europeu informal, já havia enfatizado que “a Europa tem de cumprir as suas promessas, tal como os países candidatos fazem a sua parte”..Partido populista ANO vence legislativas na Chéquia .Ucrânia propõe aos aliados a criação de um escudo comum contra as ameaças aéreas russas