As autoridades ucranianas acusaram esta terça-feira sete pessoas no âmbito de um escândalo de corrupção de 100 milhões de dólares (cerca de 86 milhões de euros) que envolve altos responsáveis do setor energético e que está a provocar forte indignação pública no país. A operação foi conduzida pela Oficina Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU), numa altura em que Kiev enfrenta pressões internas e internacionais para reforçar o combate à corrupção, condição essencial para avançar na adesão à União Europeia e garantir o apoio financeiro do Ocidente.Segundo um comunicado da NABU, citado pela agência Reuters, cinco suspeitos foram detidos e dois outros identificados, num esquema de subornos e controlo de contratos públicos em várias empresas estatais, com destaque para a Energoatom, a agência nuclear nacional. Nenhum dos suspeitos foi oficialmente nomeado pelas autoridades, mas uma fonte próxima da investigação confirmou à Reuters que o principal mentor do esquema é Timur Mindich, antigo parceiro de negócios do presidente Volodymyr Zelensky na produtora audiovisual Kvartal 95, criada antes de este entrar na política.Os restantes acusados incluem um antigo assessor do ministro da Energia, o chefe de segurança da Energoatom e outros quatro funcionários da empresa. A NABU revelou também que um antigo vice-primeiro-ministro está entre os suspeitos.O ministro da Justiça, German Galushchenko, que anteriormente ocupou a pasta da Energia, foi alvo de “ações de investigação”, confirmou o seu ministério, sem detalhar se está formalmente incluído no processo. Fontes próximas do caso, citadas pela Reuters, afirmam que a voz de Galushchenko surge numa gravação de conversas entre alguns dos suspeitos, divulgada pela NABU. O ministro ainda não reagiu publicamente.A investigação, que decorreu durante 15 meses e incluiu mais de 70 buscas em todo o país, visa desmantelar uma rede que alegadamente cobrava comissões ilegais entre 10% e 15% a fornecedores de serviços e equipamentos energéticos, em troca da manutenção de contratos com a Energoatom.Descontentamento interno e pressões internacionaisAs acusações chegam num momento particularmente delicado: a Ucrânia enfrenta apagões diários prolongados devido aos ataques russos às infraestruturas energéticas, e a aproximação do inverno agrava o mal-estar da população. A notícia de que altos responsáveis terão enriquecido à custa de um sistema em colapso gerou revolta pública e críticas à classe política.Internamente, o caso reacende divisões políticas e críticas à concentração de poder presidencial. A oposição acusa o Governo de Zelensky de não conseguir travar práticas sistémicas de corrupção, enquanto parte da sociedade civil vê na atuação da NABU um sinal positivo de que as instituições começam finalmente a funcionar.O caso também coloca maior pressão sobre Kiev no momento em que o país tenta reforçar a confiança dos parceiros europeus e ocidentais. O combate à corrupção é uma das exigências centrais da Comissão Europeia para o avanço do processo de adesão da Ucrânia à UE.Recorde-se que em julho deste ano o governo aprovou uma lei que restringia a independência dos órgãos anticorrupção , provocando protestos internos e críticas da União Europeia. Sob pressão, Zelensky reverteu a decisão.A NABU sublinhou agora que a operação decorre de forma independente e que “ninguém está acima da lei”. O Governo, por sua vez, reiterou apoio à investigação e Zelensky afirmou que “qualquer pessoa implicada deve responder perante a justiça”..UE elogia caminho para a adesão da Ucrânia, mas alerta para combate à corrupção