Até terça-feira o militar russo de mais alta patente morto fora do campo de batalha na guerra da Ucrânia era o capitão Valery Trankovsky, comandante da 41.ª brigada da frota do Mar Negro. Morreu no dia 13 de novembro, quando o carro em que seguia explodiu em Sebastopol, na Crimeia anexada. Trankovsky era considerado um criminoso de guerra por Kiev por ter ordenado o lançamento de mísseis contra civis. Os ucranianos não se esquecem que, em julho de 2022, 29 civis morreram em Vinnytsia, cidade no centro do país, devido a três mísseis Kalibr lançados das forças navais russas. Passado pouco mais de um mês, nova operação, agora em Moscovo, tendo como alvo o tenente general Igor Kirillov, responsável pelas forças de defesa nuclear, biológica e química da Rússia desde abril de 2017. Na véspera, o Serviço de Segurança da Ucrânia, SBU, acusou Kirillov de ser responsável pela utilização maciça de armas químicas proibidas na Ucrânia e disse que as forças russas levaram a cabo mais de 4800 ataques com armas químicas sob o comando de Kirillov. O militar já tinha sido alvo de sanções dos Estados Unidos depois de determinar que a Rússia utilizou cloropicrina, um agente asfixiante utilizado durante a I Guerra Mundial, contra as tropas ucranianas, em violação dos acordos assumidos por Moscovo no âmbito da Convenção sobre Armas Químicas de 1993. Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido também já o tinham sancionado, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico a classificá-lo de “importante porta-voz da desinformação do Kremlin”. Em concreto, difundiu falsidades como a de que os EUA criaram um laboratório de armas biológicas na Ucrânia - um dos pretextos utilizados para a “operação militar especial”. Acusou também os norte-americanos de terem destruído a central hidroelétrica de Nova Kakhovka, em Kherson, para espalhar doenças contagiosas através de insetos. O golpe em Kirillov e no seu assistente, o major Ilya Polikarpov, foi uma mensagem - mais uma - de que a Ucrânia não baixa os braços, e que tem recursos poderosos longe da frente da batalha, onde continua a perder terreno no leste. O SBU é uma das armas mais mortíferas da Ucrânia: herdou as estruturas, recursos e conta com 30 mil funcionários e a cartilha do soviético KGB. Ao Financial Times, Valentyn Nalyvaichenko, deputado que chefiou o SBU, disse que a agência “recolheu muitas informações e dados de contraespionagem” sobre os militares russos e as chefias dos serviços secretos. E não são os únicos alvos. Mikhail Shatsky, diretor-adjunto de uma unidade de engenharia balística sediada em Moscovo, foi assassinado na semana passada. Tinha a tarefae de incorporar tecnologia de inteligência artificial em drones, aviões e naves espaciais russos e supervisionou a modernização dos mísseis de cruzeiro Kh-59 e Kh-69. “Qualquer pessoa que, de uma forma ou de outra, esteja envolvida no desenvolvimento do complexo militar-industrial russo e no apoio à agressão russa na Ucrânia é um alvo legítimo”, disse uma fonte da defesa ucraniana ao jornal Kyiv Independent. Propagandistas como a filha de Aleksandr Dugin, Darya, ou um blogger apologista da guerra, Vladlen Tatarsky, foram mortos à bomba, respetivamente em Moscovo e São Petersburgo. Em abril, Vasyl Maliuk, diretor do SBU, avisava: “A Rússia deve esperar mais ataques”, mas que a natureza dos ataques muda porque “a Ucrânia nunca se repete”..Outros casos.A filha do ideólogo.Darya Dugina, filha do ideólogo do regime russo, o ultranacionalista Aleksandr Dugin, é morta num ataque à bomba no veículo em que seguia na região de Moscovo, em agosto de 2022. A Rússia acusa Kiev e os serviços de informações dos EUA desconfiam dos ucranianos. O gasoduto Em setembro de 2022 várias explosões inviabilizam os gasodutos Nord Sream 1 e 2, que ligavam a Rússia à Alemanha no Mar Báltico numa altura em que Moscovo ameaçava cortar o fornecimento de gás à Europa. Em novembro, porém, uma investigação alemã aponta para uma operação de serviços especiais ucranianos. Os drones em Moscovo Em maio de 2023, dias antes da comemoração do Dia da Vitória na Praça Vermelha, dois drones de ataque atingem o topo do Senado do Kremlin, causando apenas danos no edifício. Foi o início de uma campanha cada vez mais sofisticada e hoje capaz de atingir alvos em território russo a 1800 quilómetros da Ucrânia. O massacre no Mali Em julho deste ano, os rebeldes tuaregues infligiram uma derrota ao exército do Mali - às ordens de uma junta militar que rompeu os laços com a França e virou-se para Moscovo - e dos mercenários russos do grupo Wagner. A batalha de Tinzaouatene saldou-se em 84 russos mortos, segundo os tuaregues. Andrii Yusov, porta-voz dos serviços de informações militares da Ucrânia (GUR), reconheceu que o seu país forneceu informações, “e não só informações”, para o sucesso contra “os criminosos de guerra russos”.