Trumpista Marjorie Taylor Greene enfrenta a ira do Congresso
Em menos de um mês na Câmara dos Representantes, Marjorie Taylor Greene conseguiu levantar tanta poeira que os democratas multiplicam-se em ações contra a congressista eleita pela Georgia. Jimmy Gomez anunciou uma resolução para votar a sua expulsão; Nikema Williams e Sara Jacobs planeiam um voto de censura e pedem a consequente demissão; Ro Khanna defende uma audição; e Steny Hoier, líder dos democratas na Câmara, fez um ultimato ao congénere republicano, Kevin McCarthy: ou a retiram das comissões da Educação e do Trabalho ou avançam com legislação nesse sentido.
O que fez a congressista para merecer tão firme repúdio? No dia da invasão ao Capitólio, quando os eleitos foram transferidos para uma sala segura, Greene e outros republicanos recusaram usar máscara. Dias depois três colegas democratas testaram positivo ao coronavírus e apontaram o dedo a quem não usou máscara, mas Marjorie Taylor Greene, que usa máscaras com mensagens políticas, afirmou à Fox News que as "pessoas saudáveis não espalham covid".
Dias depois, conta a representante Cori Bush, uma Marjorie Taylor Greene sem máscara e a falar muito alto aproximou-se dela, ao que a democrata a advertiu para usar máscara e esta e a sua equipa responderam em maus modos, tendo um deles dito "pare de incitar violência com o Black Lives Matter". Na sequência deste incidente, Bush mudou o seu gabinete, que era vizinho do de Greene, temendo pela sua segurança. Greene recusa-se a passar pelos controlos de segurança à entrada do Capitólio e é fervorosa defensora do porte de armas.
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Se o seu comportamento em Washington é alvo de reparos, são as suas opiniões que deixam adversários e colegas de partido com os cabelos em pé. O adversário vencido nas primárias, o republicano John Cowan, não deixa nada por dizer: "Sou neurocirurgião. Diagnostico a loucura todos os dias. Demorou cinco minutos a falar com ela para perceber que tinha macacos no sótão. E depois vimos que ela tinha esqueletos no armário", disse ao Politico.
Perante a pressão de democratas e até de críticas entre os seus pares, Marjorie Taylor Greene, de 46 anos, passou os últimos dias a tentar apagar o seu rasto incendiário e lunático nas redes sociais. Por exemplo, em 2018, defendeu no Facebook a teoria de que os incêndios florestais na Califórnia eram obra de empresários judeus que utilizariam um laser espacial a fim de libertar espaço para um projeto ferroviário de alta velocidade.
Noutras ocasiões defendeu a execução da "traidora" Nancy Pelosi, e "gostou" de mensagens a defender violência contra outros políticos como Barack Obama, John Kerry ou Hillary Clinton. A adepta das teorias da conspiração QAnon, que afirma que o ex-presidente Donald Trump lidera uma guerra secreta contra satânicos e pedófilos, também defende que os tiroteios nas escolas são fabricados.
Inclusive perseguiu um sobrevivente do tiroteio de Parkland: quando o jovem David Hogg saiu do Capitólio depois de se ter reunido com congressistas, Greene assediou-o: "Eu tenho uma arma [...] e você usa o seu lóbi e o seu dinheiro para acabar com os meus direitos."
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Sabendo do peso que Trump continua a exercer no Partido Republicano, Greene disse que tem o apoio do ex-presidente e irá visitá-lo em breve. E nunca irá pedir desculpa. Se Kevin McCarthy hesita, tal como hesitou perante Trump, já o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, condenou-a com uma clareza rara: "As mentiras lunáticas e as teorias da conspiração são um cancro para o Partido Republicano e para o nosso país. Alguém que sugeriu que talvez nenhum avião tenha atingido o Pentágono no 11 de Setembro, que os horríveis tiroteios escolares foram encenados, e que os Clinton despenharam o avião de JFK Jr. não está a viver na realidade", disse o homem que parece ter rompido de vez com Trump.