Biden (em 2023) e Trump (em 2021) na fronteira em El Paso.
Biden (em 2023) e Trump (em 2021) na fronteira em El Paso.Doug Mills/The New York Times

Troca de culpas deverá marcar visita de Biden e Trump à fronteira

Presidente e candidato republicano estarão a menos de 500 quilómetros de distância, no Texas. Sondagens indicam que a imigração é o problema mais importante para os eleitores.
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A imigração é hoje considerada o problema mais importante nos EUA para 28% dos norte-americanos, segundo uma sondagem Gallup, ultrapassando as questões da governação, da economia e da inflação. Não é por isso de estranhar que tanto o presidente Joe Biden como o seu provável adversário nas eleições de novembro, Donald Trump, se foquem nesta preocupação, numa tentativa de culpar o outro pelo número recorde de imigrantes ilegais e conquistar votos. O estranho é que ambos escolham o mesmo dia para visitar a fronteira com o México.

A fronteira sul dos EUA estende-se ao longo de mais de 3200 quilómetros, mas Biden e Trump estarão esta quinta-feira a menos de 500 quilómetros de distância, no estado do Texas. Biden visita Brownsville, no vale do Rio Grande, encontrando-se com agentes dos Serviços de Fronteira, autoridades policiais e líderes locais. A visita foi anunciada na segunda-feira, já depois de terem vindo a público os planos de Trump de viajar para Eagle Pass, outro dos pontos quentes da imigração. “Planeei a visita para quinta. O que não sabia é que o meu bom amigo, aparentemente, iria também”, disse Biden.

O tema gera acusações cruzadas entre os dois adversários, que se preparam para a provável repetição do duelo de 2020. O ex-presidente acusa a atual Administração de ser responsável pelo número recorde de entradas ilegais nos EUA - quase 250 mil só em dezembro do ano passado, depois de um máximo de 2,2 milhões no ano de 2022. Por seu lado, Biden culpa Trump pela rejeição da legislação bipartidária sobre a imigração. “Ele prefere transformar esse problema numa arma do que resolvê-lo”, acusou o presidente, consciente que esta pode ser uma das principais armas da oposição contra si.

A proposta bipartidária no valor de 118 mil milhões de dólares previa o reforço das restrições ao asilo, além de criar limites diários no número de pessoas que podem cruzar a fronteira. A legislação incluía ainda um pacote de ajuda à Ucrânia, Israel e Taiwan, que os republicanos tinham dito que só apoiariam se fosse parte de um reforço das restrições à imigração. No final, esta ajuda passou no Senado (está presa na Câmara dos Representantes), mas a lei sobre imigração não. 

Trump, que defende que os imigrantes ilegais estão a “envenenar o sangue do país” (tendo sido criticado pelo uso de uma linguagem semelhante à de Hitler), pediu aos seus apoiantes no Congresso que a bloqueassem. Trump alegou que esta seria um presente político para Biden num ano eleitoral, já que “absolvia” os democratas do “trabalho horrível” que fizeram nas questões de imigração e “punha tudo em cima dos ombros dos republicanos”. Indo mais longe, os congressistas republicanos aprovaram o impeachment do secretário da Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, acusando-o de ser incapaz de travar a imigração. O julgamento será no Senado, tendo poucas hipóteses de passar.  

Confronto de políticas

A visita à fronteira com o México, no mesmo dia, permitirá confrontar as políticas migratórias de ambos. Na campanha de 2016, Trump prometeu construir um muro na fronteira entre os EUA e o México, alegando que este seria pago pelos mexicanos. Parte do muro foi construído durante o seu mandato, mas o México não pagou nem um cêntimo. O então presidente apoiou ainda a separação de pais e filhos à entrada nos EUA, mas acabaria por recuar após ser alvo de críticas.

Biden na fronteira de El Paso, no Texas, em janeiro de 2023 FOTO:Doug Mills/The New York Times

Enquanto candidato e presidente, Trump fez várias viagens à fronteira, sendo a questão da imigração central na sua campanha para regressar à Casa Branca. Já Biden, desde que chegou à presidência, só foi uma vez à fronteira, em janeiro do ano passado, não tendo estado em contacto direto com migrantes. 

O presidente prometeu na campanha de 2020, contra Trump, uma política migratória mais humana, recuando em muitas políticas do antecessor. Mas com os números de entradas ilegais a subir, foi forçado a defender medidas mais restritivas - depois da legislação bipartidária ter falhado, falou-se da hipótese de o presidente assinar ordens executivas. Segundo a AP, não está previsto nada nesse sentido durante a visita desta quinta-feira, mas até ao discurso do Estado da União (dentro de uma semana) isso pode mudar.

A campanha de Trump, reagindo ao anúncio da visita de Biden disse que esta era prova de que o presidente está à defesa no que diz respeito às questões de imigração, considerando que será um problema na campanha para a reeleição. A porta-voz da campanha do ex-presidente acusou Biden de ser responsável pela “pior crise de imigração da história”. Para Trump, a visita à fronteira serve para reforçar o tema junto dos seus eleitores em véspera da Super-Terça-Feira - quando mais de uma dúzia de estados vão a votos nas primárias. 

O então presidente Trump, em 2021, a visitar o muro ainda em construção em El Paso. FOTO: Doug Mills/The New York Times

susana.f.salvador@dn.pt

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