Sadiq Khan, a mulher, Saadiya, e a cadela do casal, Luna, antes de votarem para as eleições locais.
Sadiq Khan, a mulher, Saadiya, e a cadela do casal, Luna, antes de votarem para as eleições locais.EPA/TOLGA AKMEN

Trabalhistas selam vitória com reeleição histórica de Khan em Londres

Labour elegeu mais 185 membros de assembleias municipais do que em 2021. Tories foram ultrapassados pelos Liberais Democratas nestas eleições locais.
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Sadiq Khan foi reeleito este sábado para um histórico terceiro mandato como mayor de Londres, numa corrida que pode ser classificada de dramática e que representa também o selar de uma esmagadora onda de vitórias conquistada pelo Partido Trabalhista nas eleições locais realizadas esta quinta-feira. O Labour também viu ontem reeleitos os presidentes das câmaras de Liverpool, Grande Manchester, East Midlands e West Yorkshire. 

“É a honra da minha vida servir a cidade que amo e sinto-me muito humilde agora”, disse Khan no seu discurso de vitória. O trabalhista prometeu ainda aos londrinos “retribuir a confiança que depositaram em mim” e construir uma cidade “mais justa, mais segura e mais verde”. Referiu também que os últimos meses foram difíceis, enfrentando uma “negatividade ininterrupta”, mas que a sua campanha “respondeu ao fomento do medo com factos” e rebateu as tentativas de divisão com esforços de união. “Hoje não se trata de fazer história, trata-se de moldar o nosso futuro”, referiu o agora histórico mayor de Londres.

Sadiq Khan chegou a classificar esta eleição como uma “corrida apertada a dois” - apesar de na altura lhe ser dada uma vantagem de 25 pontos sobre a conservadora Susan Hall -, uma declaração que foi vista como uma forma de tentar chamar às urnas o maior número possível de eleitores trabalhistas e de londrinos a pender para a abstenção. 

Mas a verdade é que nas horas antes de ser anunciado como vencedor, Khan chegou a pensar que a sua reeleição poderia estar em risco, com os media britânicos a noticiarem que a diferença entre o trabalhista e a conservadora era demasiado pequena. Num cenário de derrota, Khan teria perdido a oportunidade de conquistar um inédito terceiro mandato em Londres e a perda da câmara da capital britânica ensombraria a vitória esmagadora dos trabalhistas sobre os conservadores nestas eleições locais. 

Depois de contados os votos, Khan e os trabalhistas tinham apenas razões para sorrir. Recebeu 43,8% dos votos, 11,1 pontos à frente dos 32,7% de Susan Hall, naquela que é a maior margem de vitória de todos os tempos numa eleição para presidente de câmara e o melhor resultado de reeleição de sempre de um mayor de Londres.

A vitória em Londres foi mais um sinal positivo para o principal partido da oposição do Reino Unido pois, se os resultados das eleições locais de quinta-feira se repetissem nas eleições gerais (que têm de acontecer até final de janeiro), o Partido Trabalhista afastaria os conservadores do poder pela primeira vez desde 2010. Um cenário que é apoiado pelas sondagens, que desde dezembro de 2021 dão o Labour como vencedor - a mais recente, realizada na quinta e sexta-feira pela We Think, dá uma vantagem de 20 pontos ao partido liderado por Keir Starmer em relação aos conservadores do primeiro-ministro Rishi Sunak. 

Voltando às eleições locais, este sábado o Labour também viu reeleitos os presidentes das Câmaras de Liverpool, Grande Manchester, East Midlands, West Yorkshire. Contabilizados os votos da maioria das 107 autarquias que foram a votos, o Partido Trabalhista elegeu 1140 membros de assembleias municipais e de freguesias, mais 185 do que em 2021. Já o Partido Conservador elegeu 513, menos 473, tendo sido ultrapassado pelos Liberais Democratas, que elegeram 521, mais 104 do que há quatro anos. 

Apesar dos maus resultados, Rishi Sunak reivindicou a reeleição do mayor de Tees Valley, no nordeste de Inglaterra, como importante, enquanto esperava que Andy Street se mantenha à frente da autoridade de West Midlands - à hora de fecho desta edição Street encontrava-se na liderança, mas havia ainda votos a serem recontados. 

“Os resultados de quinta-feira mostraram que os eleitores estão frustrados”, reconheceu ontem o primeiro-ministro conservador, num texto publicado no jornal Daily Telegraph. No entanto, Rishi Sunak notou que os trabalhistas de Keir Starmer continuam sem ganhar em muitas zonas, nomeadamente em áreas fortemente muçulmanas devido à posição pró-Israel relativamente à guerra em Gaza.

Este é um problema admitido pelo Labour. “Espero que o Partido Trabalhista faça algumas perguntas que eles têm e algumas pesquisas por sua conta”, disse ontem a deputada trabalhista Jess Phillips. Em zonas com uma população muçulmana inferior a 5% a quota de votos do Partido Trabalhista aumentou em 1,1 pontos percentuais. Mas as áreas com uma população muçulmana acima de 20%, o  o partido perdeu 17,9 pontos. 

“Uma das questões que se pensa estar a afetar o voto muçulmano é a posição do Partido Trabalhista na guerra entre Israel e o Hamas. Os trabalhistas perderam o controlo das autarquias em Oldham e Kirklees, com vitórias para candidatos independentes que se opunham à posição do partido na guerra em Gaza”, refere uma análise da Sky News. No entanto, “é difícil cristalizar o impacto exato nas eleições, uma vez que vários vereadores trabalhistas desertaram do partido devido à posição trabalhista sobre o conflito no Médio Oriente”, refere a mesma análise. 

A próxima ida às urnas no Reino Unido está nas mãos de Sunak, que  ainda não escolheu uma data, mas indicou que será no segundo semestre. Agora, Starmer exortou-o  a não esperar. “Chegou a altura de virar a página do declínio do Partido Conservador e dar início a uma década de renovação nacional com o Partido Trabalhista”, escreveu na rede social X.

ana.meireles@dn.pt

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