O espaço aéreo da NATO tem vindo a ser violado pela Rússia nos últimos anos, mas nada se aproximou do sucedido entre as 23:30 de terça-feira e as 6:30 de quarta, quando pelo menos 19 aeronaves não tripuladas entraram no espaço aéreo da Polónia. A este “ato de agressão” - nas palavras das forças polacas -, aviões do país violado bem como dos Países Baixos abateram alguns e outros acabaram por cair em 12 localidades. O primeiro-ministro Donald Tusk invocou o artigo 4.º da Aliança Atlântica, desencadeando consultas entre os embaixadores dos 32 países membros. Entre estes não residem dúvidas sobre a origem do ato e Varsóvia não duvida da intencionalidade, quando se aproximam manobras militares na Bielorrússia, junto da fronteira com a Polónia. Sem surpresa, Moscovo nega responsabilidades e acusa Varsóvia de “espalhar mitos” para “agravar a crise ucraniana”. Os habitantes de três regiões do leste da Polónia receberam avisos nos telemóveis por parte das autoridades. “Atenção! No âmbito da operação de neutralização de drones que violaram a fronteira polaca, por favor informem as autoridades sobre a presença de drones ou dos seus locais de queda!”. Por motivos de segurança, os dois aeroportos de Varsóvia, bem como os de Lublin e Rzeszów foram encerrados durante a noite. A queda dos aparelhos - serão Gerbera, cópias dos Shahed iranianos -, ou dos seus destroços não provocou vítimas, apenas danos materiais em várias aldeias. E provocou, sobretudo, a multiplicação de tensões. .Tusk: "Esta situação aproxima-nos mais do que nunca de um conflito aberto desde a Segunda Guerra Mundial". . O primeiro-ministro polaco, após ter reunido o Gabinete de Segurança Nacional dirigiu-se ao Sejm (Parlamento), tendo aí revelado que acionara o artigo 4.º da organização militar depois de ter realçado que, pela primeira vez, foram abatidos drones russos em território da NATO. O artigo em questão, até agora invocado em sete ocasiões, estipula que “as partes consultar-se-ão entre si sempre que, na opinião de qualquer uma delas, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer uma das partes esteja ameaçada”. Na prática, Tusk agilizou a inclusão do tema na agenda do Conselho do Atlântico Norte, que se reuniu de manhã. O secretário-geral da NATO é quem preside a esta reunião e este, em declarações aos jornalistas, disse que, enquanto “uma avaliação completa” está em curso por parte das autoridades polacas, a incursão dos drones, “intencional ou não, é absolutamente irresponsável, perigosa”. Mark Rutte aproveitou para enviar uma mensagem a Putin: “Ponha fim à guerra na Ucrânia, pare de violar o nosso espaço aéreo e saiba que estamos vigilantes e que defenderemos cada centímetro do território da NATO.” O embaixador dos EUA na Aliança Atlântica, Matthew Whittaker, usou palavras semelhantes e garantiu que o seu país está “ao lado dos aliados”. Horas depois, o presidente Donald Trump recorreu à sua rede social para comentar de forma telegráfica e (enigmática) o sucedido: “O que se passa com a Rússia a violar o espaço aéreo da Polónia com drones? Aqui vamos nós!”. A resposta à questão do presidente norte-americano, segundo o Ministério da Defesa russo, terá de ser encontrada pela Polónia, porque este nega que algum drone seu tenha desviado da Ucrânia. A Bielorrússia, por sua vez, alega ter abatido drones e afirma ter avisado a Polónia e a Lituânia sobre a aproximação de “aeronaves desconhecidas “que “haviam perdido a sua trajetória” devido à guerra eletrónica “durante as trocas noturnas de ataques de drones entre a Federação Russa e a Ucrânia”, disse o chefe do Estado-Maior bielorrusso, Pavel Muraveiko. A Bielorrússia acolhe a partir de amanhã exercícios militares com milhares de soldados russos junto à fronteira com a Polónia. Tusk anunciou na terça-feira, horas antes de os drones entrarem no espaço aéreo, que iria fechar a fronteira com a Bielorrússia. “Não temos dúvidas de que não foi acidental”, avaliou o ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski. A chefe da diplomacia europeia também é da mesma opinião. “O que Putin quer é testar até onde pode ir. O que aconteceu é uma verdadeira mudança, e devemos dar uma resposta muito forte” face à Rússia, disse Kaja Kallas. O principal diplomata ucraniano, Andrii Sybiha, também disse que o líder russo está “a testar o Ocidente”. A mesma ideia foi mencionada em Berlim pelo porta-voz do governo: “Mostra uma vez mais a ameaça com estamos confrontados e até que ponto estamos a ser testados pela Rússia.”