A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.FOTO: OLIVIER MATTHYS/EPA

Tarifas: von der Leyen acorda sob chuva de críticas

Governantes e empresários de vários países europeus criticam acordo comercial que fixa em 15% as tarifas sob produtos europeus. Primeiro-ministro francês fala de "dia negro" para a UE.
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Está a ser uma manhã de segunda-feira difícil para a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen. Depois de este domingo, 27 de julho, ter conseguido fechar um acordo comercial com Donald Trump - " o maior acordo de todos", nas palavras do presidente norte-americano -, a presidente da CE está a receber críticas em toda a linha.

José Luís Carneiro, secretário-geral do PS, referiu logo no rescaldo do anúncio que o acordo comercial que prevê tarifas aduaneiras de 15% sobre os produtos europeus que entrem nos EUA não é o ideal, mas o possível.

Em declarações à agência Lusa, o líder do PS disse que os 15% de tarifas cobradas pelos Estados Unidos da Américas (EUA, são menos que os 25% que os que estão a ser cobrados, e não é pior que aquilo que o Japão obteve. “O mais importante é estabilizar as expectativas e acabar com a incerteza. Impor tarifas só aumentaria o custo dos produtos nos nossos mercados”, vincou.

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União Europeia e Estados Unidos fecham acordo comercial
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Vão ser 15%: Trump chega a acordo comercial com a União Europeia após partida de golfe

Já o primeiro-ministro francês foi um pouco mais longe. François Bayrou disse que a Europa se submeteu aos EUA, num "dia sombrio" para o bloco económico europeu.

"É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar os seus valores e defender os seus interesses, decide submeter-se", publicou Bayrou na rede social X.

Ao início da manhã, o ministro francês do Comércio Externo, Laurent Saint-Martin, já tinha dito também que o acordo entre a UE a e os EUA é desequilibrado e que o bloco europeu deve afirmar-se como uma potência económica.

Laurent Saint-Martin disse à France Inter, sem especificar, que o acordo tem como fundo uma questão política e que a Europa deve assumir-se como uma potência económica, sobretudo no setor dos serviços. 

"Eu não quero que fiquemos pelo que aconteceu ontem [domingo]", disse o ministro francês considerando que o acordo com os Estados Unidos é "desequilibrado".

No mesmo sentido, Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, participou num podcast onde referiu que "Donald Trump comeu Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço".  Foi isto que aconteceu e que suspeitávamos que aconteceria", afirmou ainda o governante, citado pela Antena 1.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Viktor Orbán: "Donald Trump comeu Von der Leyen ao pequeno-almoço"

Já o chanceler alemão, Friedrich Merz, saudou rapidamente o acordo, afirmando que evitou "uma escalada desnecessária nas relações comerciais transatlânticas" e impediu uma guerra comercial potencialmente prejudicial, escreve o The Guardian. Que dá também conta de que os exportadores alemães se mostraram menos entusiasmados.

A poderosa federação de grupos industriais BDI afirmou que o acordo terá "repercussões negativas consideráveis", enquanto a associação comercial química VCI do país afirmou que o acordo deixou as taxas "demasiado altas".

A Irlanda, que é um dos principais exportadores da UE para os EUA, disse no domingo que acolhia com satisfação o acordo por trazer "uma medida de certeza muito necessária", mas que "lamenta" a tarifa de base, numa declaração do seu vice-primeiro-ministro, Simon Harris.

Também é claro que a tarifa de 15% dos EUA sobre produtos automóveis representará um fardo para as empresas alemãs num altura em que enfentam demasiadas dificuldades devido às transformações que têm levado a cabo nos últimos anos.

A presidente da federação da indústria automóvel VDA, Hildegard Müller, disse que era "fundamentalmente positivo" que um acordo-quadro tivesse sido alcançado, mas avisa que os virão daí custos enormes.

As bolsas europeias, por seu lado, atingiram no início da negociação o valor mais elevado dos últimos quatro meses, com os investidores a reagir com claro alívio ao entendimento entre os dois blocos. Este acordo comercial põe fim a sete meses de incerteza nas relações entre UE e EUA. O Dax alemão chegou a subir 0,86% e o índice francês CAC 40 francês disparou mais de 1,1% na abertura dos mercados. Em Lisboa, o PSI 20 abriu a subir 0,7%. Apesar do alívio que entretanto se registou nos principais índices acionistas europeus, o sentimento continua a ser positivo.

Comissário para o Comércio defende acordo

O acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os EUA traz estabilidade, referiu esta segunda-feira, em Bruxelas, o comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, salientando estar 100% seguro de que é melhor do que uma guerra comercial.

Feitas as contas, garantiu Sefcovic, “tenho 100% de certeza que este acordo é melhor do que uma guerra comercial com os EUA”.

“Se eu tivesse de resumir este acordo UE-EUA numa frase, diria que traz uma estabilidade renovada e abre a porta à colaboração estratégica”, referiu ainda o comissário, em conferência de imprensa, um dia depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente dos Estados unidos, Donald Trump, terem fechado na Escócia (Reino Unido) um acordo que prevê a taxa de 15% sobre produtos europeus e o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (643 mil milhões de euros) e o investimento de 600 mil milhões (514 mil milhões de euros) adicionais, além de aumentar as aquisições de material militar.

O acordo, explicou Sefcovic, inclui a proposta de uma “aliança metalúrgica”, para gerir o aço, o alumínio e o cobre, com contingentes pautais e tratamento preferencial e inclui igualmente aquisições estratégicas de chips de energia e de inteligência artificial para reforçar a competitividade tecnológica.

O comissário para o Comércio sublinhou também que o executivo comunitário (que tutela a política comercial europeia) fez tudo para manter os 27 Estados-membros informados a cada passo das negociações.

Os EUA e os países da UE trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços.

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