Sunak enfrenta número recorde de renúncias de deputados
Michael Gove, ministro da Habitação e um dos membros-chave do Governo de Rishi Sunak, tornou-se o mais importante deputado conservador a anunciar que não será candidato nas próximas eleições gerais, que se realizam no dia 4 de julho, conforme informou o primeiro-ministro britânico esta semana, pondo fim a meses de tabu. A subsecretária para a Saúde Pública, Andrea Leadsom, tornou oficial a mesma intenção, elevando assim para 78 o número de conservadores que não se candidatarão novamente, batendo o recorde de 72 registado em 1997, ano em que o trabalhista Tony Blair chegou ao poder.
“Depois de quase 20 anos a servir o maravilhoso povo de Surrey Heath [o seu círculo eleitoral] e mais de uma década no gabinete de cinco departamentos governamentais, tomei hoje a decisão de renunciar”, escreveu Gove na rede social X sexta-feira à noite.
Deputado desde 2005, tutelou várias pastas governamentais desde 2010, como Educação, Justiça ou Ambiente, mas mesmo com este currículo a sua renúncia não surpreendeu alguns analistas, não só pela possível derrota dos conservadores nas próximas eleições gerais, mas também pelo facto de Gove não ter a sua reeleição como deputado garantida, devido à popularidade do candidato Liberal Democrata na sua circunscrição.
“Ninguém na política é recrutado. Somos voluntários que escolhemos voluntariamente o nosso destino. E a oportunidade de servir é maravilhosa. Mas chega um momento em que sabemos que é hora de partir. Que uma nova geração deve liderar”, escreveu o ministro da Habitação.
Já Leadsom - que chegou a ser uma das duas finalistas da disputa pela liderança dos conservadores em 2016 para substituir David Cameron, ganha por Theresa May - garantiu que vai continuar “a apoiar o Partido Conservador durante estas eleições gerais e no futuro”.
O anúncio de Sunak, feito quarta-feira, de que as eleições seriam a 4 de julho já tinha provocado uma nova onda de conservadores a anunciar a renúncia ao cargo de deputado - segundo contas feitas pelos media britânicos, nessa noite, já tinham atingido um total de 70. O nome mais proeminente desta lista é o da ex-primeira-ministra Theresa May, que anunciou em março que não se iria recandidatar.
Para o secretário de Estado do Tesouro, Bim Afolami, “não é antinatural” que deputados tories de alto nível, como Gove, renunciem às próximas eleições. “Não é incomum que pessoas que serviram durante 20, às vezes 30 ou 35 anos, no Parlamento, na faixa dos 50 ou 60 anos, se retirem ou até se aposentem totalmente, que optem por pôr fim às suas carreiras políticas.”
Afolami disse ainda achar que o partido tem um “bom equilíbrio” entre grandes nomes como o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, e deputados mais recentes como ele próprio.
O Partido Conservador tem surgido sempre atrás dos trabalhistas em todas as sondagens desde dezembro de 2021 e o estudo de opinião mais recente, feito pela YouGov para o jornal The Times, já depois de ser conhecida a data das eleições, dá 44% das intenções de votos ao Labour e 22% aos tories.
ana.meireles@dn.pt