Quando em outubro de 2023 Sahra Wagenknecht saiu do Die Linke para formar o seu próprio partido, muitos viram nisso um sinal da profunda crise na esquerda alemã. Passado um ano e meio, e perante a subida vertiginosa da extrema-direita - a Alternativa para a Alemanha (AfD) surge em 2.º lugar em todas as últimas sondagens para as eleições antecipadas do próximo dia 23 -, não só a Aliança Sahra Wagenknecht se consolidou como força política que poderá chegar aos 5% que lhe garantem um lugar no Bundestag, como o Die Linke (literalmente A Esquerda) tem registado nas últimas semanas um aumento de novos militantes.Segundo a revista alemã Der Spiegel, citada pelo Politico, desde o início do ano mais de 23 500 pessoas inscreveram-se no Die Linke, fazendo o número de militantes subir para 81 mil, o número mais alto desde 2009. Fundado em 2007, de uma fusão entre o Partido do Socialismo Democrático (herdeiro do partido comunista da RDA), de Gregor Gysi, e o Alternativa Eleitoral para o Trabalho e a Justiça Social, de Oskar Lafontaine, o Die Linke tem beneficiado da mobilização dos eleitores de esquerda face ao crescimento da extrema-direita.A AfD vem a subir nas sondagens muito à boleia das suas propostas para endurecer as leis da imigração. E há dias, ao aprovar uma proposta de lei para tornar mais difícil a entrada de estrangeiros na Alemanha com o apoio da AfD, o líder da União democrata cristã (CDU), Friedrich Merz - que as sondagens apontam como sendo o próximo chanceler alemão -, quebrou um tabu. Este piscar de olho de Merz - que já tinha anunciado a intenção de fechar as fronteiras a imigrantes ilegais, mesmo os que tenham direito a proteção, apesar de negar a intenção de se aliar à AfD - à extrema-direita, aliado a uma série de incidentes violentos nos últimos meses ligados a imigrantes e requerentes de asilo, também não serão alheios ao aumento de apoio ao Die Linke. E são sobretudo jovens, e mulheres, a inscrever-se como militantes de A Esquerda, deixando adivinhar alguma margem da formação para crescer. Segundo o jornal Tagesspiegel, também citado pelo Politico, a média de idades dos novos militantes é de 29 anos e 53% são mulheres.“As pessoas querem uma política mais justa”, afirmou ao mesmo jornal Jan van Aken, colíder do Die Linke com Heidi Reichinnek, sendo ambos candidatos a chanceler. Para Van Aken, os eleitores “sabem que podem confiar em nós”, com o líder a mostrar-se convicto de que este aumento de militantes reflete a maior preocupação de muitos alemães com o rumo que o país está a tomar, virando cada vez mais à direita.A última sondagem do instituto INSA dá 30% de intenções de voto à CDU, 22% para a AfD, os sociais-democratas do SPD, do atual chanceler Olaf Scholz, surgem em 3.º, com 15,5%, logo seguidos dos Verdes com 13%. O Die Linke surge com 6% e a Aliança Sahra Wagenknecht com 5,5%, garantindo ambos a entrada no Parlamento. O FDP, com 4%, ficaria de fora.Em discursos ontem no Bundestag, tanto Merz, como Scholz rejeitaram futuras colaborações com a AfD. “Colaborar com a AfD está fora de questão para nós”, garantiu Merz, acusando a coligação de governo entre SPD, Verdes e liberais do FDP, que ruiu em novembro devido a desentendimentos na discussão do plano para o Orçamento, de ser responsável pela subida da AfD.Num outro momento, Scholz acusou Merz de “estar a candidatar-se para levar a Europa para a cova, com o líder da CDU a ripostar que “este governo federal foi o mais negligente de sempre a lidar com a Europa”.