Olaf Scholz discursou este sábado no congresso do seu partido, o SPD, em Berlim.
Olaf Scholz discursou este sábado no congresso do seu partido, o SPD, em Berlim.EPA/CHRISTOPH SOEDER

Scholz deixa recado a Trump sobre a Gronelândia e o Panamá. "O princípio da inviolabilidade das fronteiras aplica-se a todos os países"

O chanceler alemão, eleito candidato do SPD para as eleições de 23 de setembro, advertiu o presidente eleito dos EUA, que expressou a hipótese de recorrer à força militar para tomar a Gronelândia e o Panamá.
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, voltou a apelar este sábado a "todos os países, sejam do leste ou do oeste", para que respeitem as fronteiras internacionais, sublinhando que "nenhum país está atrás do tribunal de outro".

"O princípio da inviolabilidade das fronteiras aplica-se a todos os países, quer estejam no leste ou no oeste (...), seja um país pequeno ou um país muito grande e muito poderoso", declarou o chanceler ao seu Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), em Berlim, poucos dias antes da posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, marcada para 20 de janeiro.

Olaf Scholz advertiu diretamente o bilionário republicano esta semana, que declarou querer tomar posse da Gronelândia e do Panamá, admitindo o recurso da força militar, e o Canadá, através da força comercial.

A referência aos objetivos expansionistas de Donald Trump foi hoje óbvia, ainda que não tenha mencionado o nome do futuro Presidente americano. Scholz também denunciou "a impiedosa guerra de agressão da Rússia" contra a Ucrânia.

"A inviolabilidade das fronteiras é um princípio central do Direito Internacional. Nenhum país é o quintal de outro. Nenhum país pequeno deveria ter que temer os seus grandes vizinhos. Isto está no cerne do que chamamos de valores ocidentais", disse o líder alemão.

Scholz eleito como candidato do SPD para eleições antecipadas de 23 de fevereiro

Olaf Scholz foi entretanto formalmente eleito como candidato do SPD às eleições antecipadas de 23 de fevereiro.

Os 600 delegados que participaram no congresso social-democrata em Berlim escolheram Scholz por uma esmagadora maioria, com apenas cinco votos contra.

Pouco antes, Scholz, cujo partido tem cerca de 15% nas sondagens, tinha começado a sua intervenção com um alerta sobre a situação na Áustria, onde a extrema-direita foi encarregada de formar um governo depois do fracasso das conversações entre os restantes partidos.

"Isto é devastador, não podemos simplesmente tomar nota disso sem fazer nada", disse Scholz, apontando implicitamente para o perigo de que o favorito nas sondagens, o democrata-cristão Friedrich Merz (CDU), possa quebrar a sua promessa de não cooperar com a Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita), dado que não terá previsivelmente uma maioria absoluta para governar.

"Há forças que recorrem à incitação e à divisão como modelo político", afirmou, referindo-se à AfD, e sublinhou que, no entanto, "a maioria da Alemanha sabe disso" e por isso apoia as forças democráticas.

Scholz falou de um mundo em que a situação é "muito grave", devido à guerra na Ucrânia, à ascensão do populismo e do nacionalismo de direita e também à incerteza sobre as relações com os Estados Unidos após a tomada de posse de Donald Trump como Presidente norte-americano, no próximo dia 20.

"A Alemanha está numa encruzilhada. Se no dia 23 de fevereiro tomarmos a saída errada, acordaremos num outro país", afirmou.

Scholz acusou o seu principal rival, o conservador Merz, de querer aplicar "velhas receitas" e fazer política "nas costas" do povo, com um programa austero que significará, advertiu, cortes nos cuidados de saúde e colocará em risco as pensões.

Enquanto o SPD quer baixar os impostos sobre as pessoas de baixos rendimentos e reduzir o IVA sobre os alimentos, os democratas-cristãos da CDU pretendem oferecer benefícios fiscais precisamente aos 10% mais ricos dos cidadãos, disse o candidato social-democrata.

Para Scholz, não é possível alcançar um bom futuro com "vantagens fiscais para os milionários".

O chanceler cessante delineou o programa do seu partido, com propostas para relançar a economia, como a realização de investimentos maciços em infraestruturas e energias renováveis e o incentivo a investimentos privados no país com um título "Made in Germany", tudo financiado graças a um abrandamento do travão à dívida.

Além disso, prometeu preservar os empregos em risco devido à difícil situação económica, aumentar o salário mínimo em 15 euros e estabilizar as pensões, entre outras medidas sociais.

A nível internacional, além dos recados a Trump sobre a Gronelândia e o Panamá, Scholz reiterou a sua política de apoio à Ucrânia, prometendo mais uma vez "manter a calma" e agir com moderação para não provocar uma escalada do conflito.

O chanceler, cuja popularidade caiu a pique durante os três anos de mandato - o que fez com que durante algum tempo se considerasse que o seu partido escolheria outro candidato às eleições - também teve um momento de autocrítica.

"Talvez eu devesse ter acabado com a coligação mais cedo", admitiu Scholz, que expulsou os liberais do FDP da coligação tripartida (que incluía também os Verdes) em novembro, o que precipitou a convocação de eleições antecipadas, sete meses antes do previsto.

O chanceler afirmou que, apesar das disputas internas, tentou manter a chamada 'coligação-semáforo' por "responsabilidade", mas reconheceu que "a unidade não pode ser imposta por decreto".

Segundo uma sondagem do INSA para o jornal Bild publicada hoje, o SPD de Scholz obteria apenas 16% dos votos, atrás do bloco conservador CDU-CSU, que perde um ponto para 30%, e da AfD, que ganha dois pontos para 22%, enquanto os Verdes permaneceriam nos 13%.

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