O Ministério da Defesa da Rússia anunciou este domingo ter recuperado o controlo de quatro localidades na região de Kursk, num revés para a Ucrânia, que espera usar o território russo que conquistou em agosto como uma moeda de troca em eventuais negociações de paz. O ex-presidente russo Dmitry Medvedev alega que as forças de Kiev estão quase rodeadas e, em breve, serão expulsas desta região. Um cenário negativo em véspera das negociações entre Ucrânia e EUA na Arábia Saudita.O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vai encontrar-se esta segunda-feira com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman. A viagem à Arábia Saudita devia ter acontecido em fevereiro, durante o seu périplo pelo Médio Oriente, mas foi adiada depois das negociações entre russos e norte-americanos em Riade, a 18 de fevereiro. Os ucranianos criticaram essa reunião, reiterando que as decisões sobre o fim da guerra não podem ser tomadas sem Kiev.Zelensky não vai ficar para a reunião com os norte-americanos, prevista para esta terça-feira, em Jidá, enviando antes vários representantes militares e políticos, incluindo o seu chefe de Gabinete, Andriy Yermak, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Andriy Sybiha, e o titular da Defesa, Rustem Umerov. Do lado dos EUA, a equipa é liderada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que na agenda tem também prevista uma reunião com o príncipe herdeiro saudita.Este será o primeiro encontro entre representantes da Ucrânia e dos EUA desde a fatídica reunião entre Zelensky e o presidente Donald Trump na Sala Oval. Tal como nessa ocasião, em cima da mesa deverá estar o acordo sobre os minerais ucranianos - que os EUA consideram o primeiro passo para poder negociar a paz.“Da nossa parte, estamos totalmente empenhados no diálogo construtivo e esperamos discutir e concordar com as decisões e medidas necessárias”, escreveu Zelensky no sábado, no X. “A Ucrânia tem procurado a paz desde o primeiro segundo desta guerra. Propostas realistas estão em cima da mesa. O segredo é agir de forma rápida e eficaz”, acrescentou o líder ucraniano. Mas, segundo a NBC News, Trump ainda não perdoou Zelensky e já fez saber aos seus conselheiros que não irá retomar o apoio militar e de informação a Kiev, mesmo se os ucranianos assinarem o acordo dos minerais. O presidente dos EUA quer ver uma mudança na postura de Zelensky em relação às negociações de paz com a Rússia e uma disposição de fazer concessões, como entregar territórios ocupados à Rússia, disseram as fontes à NBC News. Perdas ucranianas no terrenoO esforço diplomático para a paz surge numa altura em que a Rússia continua a avançar no terreno. Além das quatro localidades que recuperou em Kursk - Malaya Loknya, Cherkasskoye Porechnoye, Kositsa e Lebedevka -, as forças de Moscovo lançaram ainda um inédito ataque através de um gasoduto, rastejando ao longo de quatro dias até aos arredores de Sudzha para procurar apanhar os ucranianos pelas costas. Kiev disse contudo que estes foram detetados rapidamente e atacados com rockets, artilharia e drones. Os avanços russos, que não se limitam à região de Kursk, surgem mesmo depois do aviso de Trump, na sexta-feira, de que estava a ponderar a imposição de sanções “em grande escala”. Isto depois de dizer que os russos estavam a “martelar” a Ucrânia no campo de batalha. “À Rússia e à Ucrânia: venham já para a mesa das negociações, antes que seja demasiado tarde”, escreveu na TruthSocial. Segundo Zelensky, na última semana, os russos lançaram “centenas de ataques” com “cerca de 1200 bombas inteligentes, quase 870 drones e mais de 80 mísseis de diferentes tipos”. O presidente ucraniano diz que muitas destas armas incluem “mais de 82 mil componentes estrangeiros” que contornaram as sanções. Zelensky apelou ao reforço dessas mesmas sanções: “Continuamos os nossos esforços para aproximar uma paz justa e assegurar garantias de segurança fiáveis”, acrescentou.Starlink de Musk causa discussão O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, acusou o chefe da diplomacia polaco de “inventar coisas” e sugeriu que ele devia era agradecer, após Radoslaw Sikorski ter dito que a Ucrânia pode precisar de uma alternativa ao serviço de satélite Starlink fornecido pela Space X de Elon Musk. A Polónia paga 50 milhões de euros por ano para que Kiev use o serviço, que garante o acesso crucial à Internet. O milionário dono do X escreveu na sua rede social que “toda a linha da frente [da Ucrânia] colapsaria” se ele “desligasse” o Starlink, reiterando contudo que não o fará, mas avisando também que não há qualquer alternativa. “Para ser muito claro, por mais que discorde da política da Ucrânia, a Starlink nunca desligará os seus terminais... Nunca faríamos uma coisa destas ou usaríamos isso como moeda de troca”, indicou.