Delegação russa em Istambul
Delegação russa em IstambulERDEM SAHIN/EPA

Rússia diz ter proposto à Ucrânia tréguas de "24 a 48 horas" e aceitado troca de presos

Negociador-chefe russo rejeitou uma possível cimeira entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sem antes ser alcançado um acordo de paz.
Publicado a

O chefe da delegação russa às conversações de paz com representantes ucranianos em Istambul disse esta quarta-feira, 23 de julho, ter proposto a Kiev tréguas de "24 a 48 horas" nas linhas da frente e aceitado nova troca de prisioneiros.

"Mais uma vez, propusemos ao lado ucraniano que considere (...) estabelecer breves tréguas de 24 a 48 horas nas linhas da frente para que as equipas médicas possam retirar os feridos e os comandantes possam recuperar os corpos dos seus soldados", disse Vladimir Medinsky em conferência de imprensa.

O negociador russo referiu ainda que Rússia e a Ucrânia acordaram, no final das negociações, uma nova troca de prisioneiros envolvendo 1.200 pessoas de cada lado, e Moscovo ofereceu a Kiev os corpos de mais 3.000 soldados.

"Dando continuidade à troca de prisioneiros de guerra, concordamos que pelo menos 1.200 prisioneiros de guerra adicionais serão trocados por cada lado num futuro próximo", disse Medinsky.

Segundo disse à AFP um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia, o encontro entre as delegações turca, russa e ucraniana começou no Palácio Çiragan (em Istambul), pelas 19:00 [17:00 em Lisboa], na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hakan Fidan, e do diretor do MIT (serviços de informações turco), Ibrahim Kalin.

Tratou-se da terceira ronda de negociações entre a Ucrânia e a Rússia nos últimos meses, numa nova tentativa de pôr fim a mais de três anos de guerra, apesar das posições distantes dos dois países.

As últimas duas rondas, a 16 de maio e a 02 de junho, acabaram sem resultados sobre um acordo para um potencial cessar-fogo. Kiev e Moscovo conseguiram acordar trocas de prisioneiros de guerra e de corpos de combatentes.

A delegação de Moscovo foi chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky, e a equipa de Kiev pelo antigo ministro da Defesa e atual secretário do Conselho de Segurança Nacional, Rustem Umerov.

No final, o negociador-chefe russo rejeitou uma possível cimeira entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sem antes ser alcançado um acordo de paz.

"Na realidade, a reunião [entre presidentes] não se destina a discutir o acordo, mas sim de o finalizar e assinar", disse o conselheiro do chefe do Kremlin em conferência de imprensa.

O chefe da delegação negocial ucraniana, Rustem Umerov, afirmou ter proposto à Rússia, durante a ronda de negociações que Zelensky e Putin se reunissem antes do final de agosto, na presença dos seus homólogos turco e norte-americano, Recep Tayyip Erdogan e Donald Trump, para promover uma solução negociada para a guerra.

Também numa conferência de imprensa realizada após a reunião, Umerov adiantou que Kiev voltou também a propor um cessar-fogo que, no mínimo, acabaria com os ataques às infraestruturas civis.

"Enfatizamos que o cessar-fogo deve ser genuíno e incluir a cessação total dos ataques a civis e a infraestruturas críticas", disse Umerov.

Segundo Vladimir Medinsky, as posições dos dois países ainda estão "bastante distantes", três anos e meio depois do início da invasão russa.

"Discutimos longamente as posições apresentadas pelas nossas partes nos memorandos transmitidos da última vez. Essas posições estão bastante distantes", disse Medinsky no final do encontro.

Por seu lado, Umerov acrescentou que a delegação russa concordou com a troca de pessoas mantidas em cativeiro durante mais de três anos, especialmente se estiverem gravemente feridas ou forem jovens.

Em Kiev, Zelensky, anunciou o regresso de mais um grupo de prisioneiros de guerra ucranianos, na nona troca realizada por ambas as partes após os acordos assinados entre o seu país e a Rússia nas duas primeiras rondas de negociações em Istambul.

"Os combatentes doentes e gravemente feridos estão a regressar a casa", disse Zelensky nas redes sociais, revelando que mais de mil reclusos já regressaram à Ucrânia no âmbito das trocas acordadas na Turquia.

 Este novo encontro em Istambul acontece depois de Donald Trump ter ameaçado Moscovo com sanções e aumento de tarifas caso a Rússia não chegue a um acordo de paz com Kiev no prazo de 50 dias, ou seja, antes de setembro.

Kiev e os aliados ocidentais acusam Moscovo de bloquear as negociações ao manter exigências maximalistas, enquanto o exército russo, mais numeroso e melhor equipado, prossegue os bombardeamentos e os ataques na linha da frente, onde continua a ganhar terreno.

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.

Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.

Delegação russa em Istambul
As exigências de Kiev e Moscovo para pôr fim à guerra
Diário de Notícias
www.dn.pt