A guerra na Ucrânia continua a ser um laboratório para as novas tecnologias ligadas à indústria militar. Nas primeiras horas de quarta-feira, o ataque russo a Kiev saldou-se na morte de pelo menos 31 pessoa, cinco das quais crianças, e de ferimentos em quase 160 outros civis. Com este ataque e os do dia seguinte, a Rússia atacou a Ucrânia com 6297 drones em julho, um número recorde, segundo dados compilados pela AFP. No período homólogo do ano passado, foram contabilizados 426. Mas a tendência é crescente: em junho, o número ultrapassou os 5 mil. Além de aumentar a quantidade, cresce também o perigo. Isto porque, entre os oito mísseis de cruzeiro e os 309 drones de ataque lançados contra Kiev e outras regiões, os russos terão lançado drones com propulsão a foguete. "Há informações preliminares de que houve drones do tipo Shahed com propulsão a foguete, que foram usados contra infraestruturas civis e municipais na Ucrânia e em Kiev várias vezes", disse o ministro do Interior Ihor Klymenko. Num primeiro momento, Klymenko acrescentou apenas que os especialistas estavam a avaliar o número de drones com propulsão a foguete usados por Moscovo. Mais tarde, o analista militar Oleksandr Kovalenko, num artigo publicado no site Obozrevatel, refere-se a oito drones que, com grande probabilidade, serão uma versão russa do modelo iraniano Shahed-238. Este, dado a conhecer no final de 2023, tem várias versões e dizia-se capaz de atingir até 550 km/h. Para Kovalenko, o ataque de 30 de julho foi um teste às capacidades de defesa aérea ucranianas, em especial durante um ataque maciço que inclui tanto mísseis quanto drones sem carga explosiva para saturar as defesas. E é de esperar que a Rússia venha a usar cada vez mais este tipo de drone devido à sua velocidade, embora o especialista refira que esta arma, por si só, não vai mudar a face da guerra. Ainda sobre este drone — fabricado na Rússia como Geran 2, com 3,5 metros de comprimento, envergadura de 3 metros e capaz de transportar uma ogiva de 50 quilos, mas nalguns casos até 90 quilos —, o ucraniano Centro de Combate à Desinformação negou as informações rapidamente postas a circular de que os novos drones são impossíveis de derrubar. "Isso não é verdade, pois as alegações sobre a 'dificuldade irreal' de os intercetar são exageradas", afirmou aquele órgão. No entanto, a probabilidade de serem abatidos é menor, porque além da velocidade, os renovados drones estão a voar mais alto, pelo que as equipas de defesa móvel, equipados com metralhadoras, dificilmente podem contrariar a trajetória dos Shahed/Geran. Por outro lado, não é possível gastar os dispendiosos e escassos mísseis dos Patriot ou abater os drones com mísseis disparados dos caças. Kiev sabe qual é a resposta — drones antidrones —, mas é uma indústria que ainda não está a carburar..Drones antidrones, a nova arma de defesa ucraniana.Ao Kyiv Independent, o especialista Samuel Bendett, do grupo de reflexão Center for a New American Security, afirmou que os drones com propulsão a foguete são "altamente perigosos". Isto porque "conseguem cobrir a mesma distância que um Geran normal, mas em muito menos tempo". Disse ainda acreditar que a indústria russa "aprimorou o design, aumentou o tamanho da ogiva, adicionou mais explosivos e melhorou as capacidades de voo do drone".Os serviços de informações militares da Ucrânia (HUR) esperam que os russos produzam até 4 mil destes aparelhos voadores até ao final do ano, revelou o diretor interino do HUR ao Kyiv Independent. A ameaça dos drones veio para ficar: depois de um sucesso inicial da Ucrânia, a Rússia investiu pelo menos 3 mil milhões de dólares e envolveu 900 empresas russas no seu desenvolvimento entre 2022 e 2025, dizem as estatísticas russas citadas pelo Defense Express. Nos próximos três anos, Moscovo planeia gastar mais 1,3 mil milhões de dólares na expansão da indústria das aeronaves não tripuladas, números que não incluem as despesas do orçamento militar. Apesar das sanções económicas, os resultados estão à vista: a produção de drones de longo alcance cresceu cinco vezes desde 2023.Prova de que há sempre forma de contornar as sanções económicas está o facto de a Rússia empregar carrinhas pick-up de fabrico norte-americano como rampa de lançamento dos Geran 2. Uma reportagem emitida pelo canal russo Zvezda mostrava essa forma de lançar os drones. Uma investigação posterior do citado Kyiv Independent contabilizou pelo menos 130 carrinhas Ram 1500 TRX chegadas ao mercado russo. A larga maioria através dos Emirados Árabes Unidos, mas o mais surpreendente é que oito veículos foram importados diretamente dos EUA através de uma empresa com sede na Virgínia.