Rússia vê resultados "quase nulos" na Cimeira de Paz e acusa NATO de intimidar ao falar sobre ogivas nucleares
A Rússia considerou esta segunda-feira que a Cimeira de Paz para a Ucrânia, realizada no fim de semana na Suíça sem participação russa e chinesa, teve resultados quase nulos.
"Se falarmos sobre os resultados desta reunião, eles são quase nulos", comentou o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitri Peskov, citado pela agência francesa AFP.
Segundo Peskov, muitos dos participantes compreenderam "que qualquer discussão séria não tem futuro sem a presença da Rússia".
"Nós também observámos isso", afirmou.
Na cimeira, o Ocidente reforçou o apoio a Kiev e rejeitou os termos apresentados por Moscovo para um cessar-fogo.
Quanto à futura participação russa numa cimeira para resolver o conflito, Peskov disse que a posição da Rússia é clara e foi definida na sexta-feira pelo Presidente Vladimir Putin.
"A iniciativa de paz que o Presidente Putin apresentou no final da semana passada ainda está na ordem do dia", afirmou.
Putin condicionou a paz na Ucrânia à retirada das tropas ucranianas das quatro regiões anexadas por Moscovo, ao reconhecimento por Kiev das quatro regiões e da Crimeia como territórios russos e ao abandono de planos de adesão à NATO.
Se Kiev aceitasse as condições, Putin disse que ordenaria imediatamente a cessação da ação militar e o início de negociações de paz.
A iniciativa incluiria ainda o levantamento de todas as sanções ocidentais contra a Rússia.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e os principais líderes ocidentais rejeitaram a proposta de Putin, afirmando que se tratava de uma rendição da Ucrânia.
"Continuaremos a trabalhar com todos os países que o desejarem. Esta é a posição do nosso Presidente, que continua aberto ao diálogo", disse Peskov, citado pela agência espanhola EFE.
A Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014 e, na sequência da invasão do país vizinho em fevereiro de 2022, fez o mesmo às regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia.
Kiev, que rejeita as anexações, disse que as tropas russas ocupam atualmente cerca de 20% do território da Ucrânia.
A cimeira na Suíça reuniu mais de 90 países, incluindo Portugal, que esteve representado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo chefe da diplomacia, Paulo Rangel.
O documento final da conferência foi assinado por países tidos como próximos da Rússia, como a Hungria, a Turquia e a Sérvia.
Sobre a decisão desses países, Peskov disse que o Kremlin tomou nota e continuará a explicar-lhes os seus argumentos.
Disse também que a assinatura do documento pelos países amigos de Moscovo não vai prejudicar as relações da Rússia com eles.
Em declarações à agência oficial TASS, o chefe dos serviços secretos russos, Serguei Narishkin, advertiu hoje esta segunda-feira os requisitos para uma futura paz serão mais duros se a Ucrânia não aceitar a proposta de Putin.
"As próximas condições em que será possível alcançar a paz e assinar algum tipo de acordo serão mais difíceis e mais duras para a Ucrânia", afirmou Narishkin, citado pela agência espanhola Europa Press.
Narishkin acusa Stoltenberg de tentar intimidar ao falar sobre ogivas nucleares
Narishkin defendeu ainda que as declarações do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre as consultas entre os membros da Aliança sobre o número de ogivas nucleares que devem estar operacionais constituem "um desejo de intimidar".
"Compreendo que se trata de um desejo de intimidar [...]. Não acho que se deva dar importância a isso. Devemos manter a calma", disse.
Sábado, numa entrevista publicada pelo jornal britânico The Daily Telegraph, Stoltenberg disse que os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) tinham iniciado consultas sobre o estatuto e a capacidade operacional das suas armas nucleares, tendo como pano de fundo a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.
"Não vou entrar em pormenores operacionais sobre quantas ogivas nucleares devem estar operacionais e quais devem ser armazenadas, mas temos de nos consultar sobre estas questões. É precisamente isso que estamos a fazer", afirmou então Stoltenberg.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que os comentários do secretário da NATO "são apenas mais uma escalada de tensão".
Peskov sublinhou que o Presidente russo, Vladimir Putin, nunca fala sobre armas nucleares "por sua própria iniciativa" e que, quando o faz, é em resposta a perguntas dos jornalistas.
A 26 de maio, a Rússia iniciou exercícios táticos com armas nucleares em resposta a "ameaças do Ocidente", de acordo com o comando militar russo.