O Kremlin afirmou esta segunda-feira, 24 de novembro, que a contraproposta europeia ao plano de paz de 28 pontos dos Estados Unidos para a Ucrânia não era construtiva e não funcionava para Moscovo. “O plano europeu, à primeira vista é completamente contraproducente e não funciona para nós”, declarou Yuri Ushakov, conselheiro de política externa da presidência russa. Este conselheiro de Vladimir Putin referiu-se ainda ao documento inicial de 28 pontos dos Estados Unidos, criticado por Kiev e pelos aliados europeus por ser favorável a Moscovo, dizendo que “nem todas, mas muitas das disposições deste plano parecem-nos bastante aceitáveis”, acrescentando que algumas exigiriam uma negociação mais detalhada.Horas antes, e de uma forma mais diplomática, a presidência russa havia dito que iria esperar para ver como se desenrolam as negociações entre os Estados Unidos e a Ucrânia sobre um possível plano de paz, sublinhando que não comentavam notícias e que não tinham recebido nenhum relatório sobre as conversações deste fim de semana em Genebra. Foi ainda dito que não há planos para uma reunião esta semana entre delegações russas e norte-americanas.“Estamos, obviamente, a seguir de perto as notícias que têm chegado de Genebra nos últimos dias, mas ainda não recebemos nada oficial”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Lemos uma declaração de que, após as discussões em Genebra, foram feitas algumas alterações ao texto que tínhamos visto anteriormente. Vamos aguardar. Parece que o diálogo continua”.As delegações dos Estados Unidos e da Ucrânia, novamente reunidas em Genebra, procuraram esta segunda-feira reduzir as divergências ainda existentes entre os dois lados, depois de no dia anterior terem chegado a acordo para modificar uma proposta de 28 pontos elaborada por Steve Witkoff, enviado especial de Donald Trump, e Kirill Dmitriev, enviado especial de Vladimir Putin, e que era favorável a Moscovo. Do documento faziam parte exigências como Kiev retirar das cidades que controla na região leste do Donbass, reduzir as suas Forças Armadas para metade ou abandonar a pretensão de se juntar à NATO.Em comunicado, Estados Unidos e Ucrânia anunciaram ter obtido uma “estrutura de paz atualizada e aperfeiçoada” após as negociações de domingo, sem mais detalhes. No entanto, segundo vários media internacionais, o plano inicial foi revisto e agora inclui apenas 19 pontos.O presidente ucraniano garantiu esta segunda-feira que Kiev vai continuar a trabalhar com os seus parceiros para alcançar a paz, declarações feitas no segundo dia de trabalhos em Genebra entre os Estados Unidos e a Ucrânia. “Todos continuamos a trabalhar com parceiros, especialmente os EUA, para procurar compromissos que nos fortaleçam, mas não nos enfraqueçam”, referiu Voldodymyr Zelensky a partir da Suécia, onde participava numa cimeira de países que procuram a retirada russa da Crimeia. Já Donald Trump usou a Truth Social para indicar que poderia haver novos avanços. “Será mesmo possível que estejam a ser feitos grandes progressos nas conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia??? Não acreditem até verem com os vossos próprios olhos, mas pode estar a acontecer algo de bom”, escreveu o presidente norte-americano. Várias fontes garantiram ontem à Reuters que Zelensky e Trump poderão encontrar-se ainda esta semana na Casa Branca para discutir a paz na Ucrânia.De acordo com o Guardian, esta segunda-feira, após regressar a Kiev, a delegação ucraniana vinda de Genebra informou Zelensky que a mais recente versão do plano é mais realista. O mesmo jornal referiu que o líder ucraniano falou com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, tendo pedido o envolvimento dos países europeus no processo de paz, pedido com o qual Vance terá concordado.Europa tem de estar unidaOs aliados europeus foram apanhados de surpresa com o plano de paz dos Estados Unidos e da Rússia e não se inibiram em criticá-lo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da França, por exemplo, a descrevê-lo como a “capitulação” da Ucrânia, referindo ainda que as negociações teriam de contar com a participação da Ucrânia, mas também da Europa.Nesse sentido, Alemanha, França e Reino Unido elaboraram uma contraproposta, também com 28 pontos, documento esta segunda-feira considerado inaceitável por Moscovo. O documento sublinha a soberania da Ucrânia, propõe um pacto de não agressão envolvendo a Rússia, a Ucrânia e a NATO, e estabelece um Conselho de Paz para monitorizar a implementação do plano, à semelhança do que consta do plano de Trump para Gaza. Em Luanda para a Cimeira UE-África, os líderes dos 27 reuniram-se esta segunda-feira de forma informal para discutir a situação da paz na Ucrânia, tendo antes disso António Costa falado com Zelensky, conforme informou através do X. No final do encontro, o presidente do Conselho Europeu elogiou o “novo ímpeto” nas conversações de paz e afirmou que, embora “algumas questões ainda necessitem de ser resolvidas, o rumo é positivo”. “É também evidente que as questões que dizem diretamente respeito à União Europeia, como o alargamento das sanções ou os ativos fixos, exigem o pleno envolvimento e a decisão da União Europeia”, prosseguiu.Ao seu lado, Ursula von der Leyen ressalvou que “embora ainda haja trabalho a ser feito, existe agora uma base sólida para avançarmos. Ao fazê-lo, devemos permanecer unidos e continuar a colocar os melhores interesses da Ucrânia no centro dos nossos esforços”.Na opinião da presidente da Comissão Europeia “a partir de agora, o território e a soberania da Ucrânia devem ser respeitados” e garantiu que apenas a “Ucrânia, como país soberano, pode tomar decisões relativas às suas forças armadas”.O primeiro-ministro polaco, por seu turno, adiantou que os líderes europeus estão inclinados a avançar nas discussões sobre o que fazer com os ativos russos congelados, notando que “não podemos permitir que a Europa acabe por pagar pelas ações da Rússia”.“A Europa precisa de estar unida. Faremos tudo o que pudermos para que os EUA estejam do nosso lado. Devemos conversar [agir em relação à Rússia] como NATO, em conjunto, e não como Estados individuais”, acrescentou Donald Tusk. O chanceler alemão afirmou que a Europa deve ser consultada e concordar com qualquer plano de paz para a Ucrânia e apelou à Rússia para se sentar à mesa das negociações. Friedrich Merz notou ainda que, embora “algumas questões tenham sido esclarecidas” em Genebra, “também sabemos que a paz na Ucrânia não acontecerá de um dia para o outro”..Marco Rubio fala em "progressos tremendos" após reunir com Ucrânia