Os romenos voltam este domingo às urnas para uma reedição das presidenciais, depois da eleição original ter sido anulada a dois dias da segunda volta devido a suspeitas de interferência russa e outras irregularidades, uma decisão inédita no país. Calin Georgescu, um candidato de extrema-direita pró-russo quase desconhecido que surgia nas sondagens com cerca de 5% das intenções de voto, ganhou a primeira volta em novembro com 23%, deixando para trás os favoritos. Em março, o Constitucional confirmou a decisão de afastar Georgescu dos boletins de voto, mas, mesmo assim, a Roménia poderá vir a ter um presidente de extrema-direita, fação política que tem mais de um terço dos assentos do parlamento. “A primeira volta das eleições presidenciais romenas em novembro de 2024 causou choque em todo o mundo e gerou grande preocupação tanto a nível nacional como internacional. Enquanto o país se prepara para uma nova ronda de eleições no domingo, ainda existem incertezas e preocupações sobre se as autoridades aprenderam com os erros do passado e podem garantir um processo justo e transparente”, escreveu no International Politics and Society o advogado romeno Cristinel Buzatu. Este especialista em Direitos Humanos nota ainda que um “aspeto alarmante destas eleições é a ascensão do extremismo e da ideologia fascista. O facto de termos candidatos que abraçam abertamente o fascismo - e de um deles quase se ter tornado presidente - indica uma falha sistémica a vários níveis. Como é que um candidato com visões tão radicais conseguiu passar despercebido? A resposta reside, em parte, na ineficácia dos pesos e contrapesos estabelecidos”. As sondagens indicam que entre os 11 candidatos deste domingo quatro têm hipóteses de passar à segunda volta, agendada para dia 18. À frente das intenções de voto está George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (AUR), uma força de extrema-direita e o segundo maior partido do país, com 33,1% numa sondagem MKOR conhecida esta semana. Com a saída de cena de Calin Georgescu, todas as forças nacionalistas uniram-se para apoiar Simion, de 38 anos, um crítico de Bruxelas e do apoio à Ucrânia que descreve o seu partido como um “aliado natural” dos republicanos dos Estados Unidos e “alinhado ideologicamente” com o movimento MAGA de Donald Trump, sendo visto frequentemente a usar os seus famosos bonés vermelhos. Ao mesmo tempo, é favorável à permanência da Roménia na NATO - motivado pelo facto de o país, no âmbito da Aliança, albergar mais de 1700 militares americanos - e não é um particular fã de Moscovo, lembrando que Bucareste foi afetada pelo “imperialismo russo”.Depois de ter classificado como um “golpe de Estado” a anulação das eleições de novembro, Simion disse ao Politico que estava agora em campanha “para restabelecer a democracia, a vontade do povo, o Estado de direito e a ordem constitucional”. A seguir vem o independente Crin Antonescu, apoiado pela coligação governamental composta pelos sociais-democratas (PSD) e pelo Partido Nacional Liberal (PNL), com 21%, e o autarca de Budapeste, Nicusor Dan, um independente apoiado pelo reformista União Salvem a Roménia (USR), com 19,4%. Estes dois candidatos são pró-União Europeia e NATO, defendendo também a ajuda à Ucrânia. O quarto nome com mais intenções de voto - 14,8% na mesma sondagem - é Victor Ponta, um antigo primeiro-ministro do PSD que nos últimos anos adotou uma retórica mais nacionalista, mas mantendo-se pró-europeu. No boletim de voto estará também Elena Lasconi, a segunda candidata mais votada em novembro, mas a sondagem MKOR não lhe dá mais do que 7,3%, resultado que pode ser explicado pelo facto de não ter o apoio formal do seu partido, o USR, que optou por apostar em Dan.Embora as sondagens na Roménia estejam longe de ser fiáveis (os resultados de novembro são disso um bom exemplo), há ainda que ser tido em conta que muitos eleitores não estão seguros de quem vão escolher este domingo - a percentagem de indecisos ou abstencionistas aumentou cinco pontos no último mês, para 33,1%. Numa potencial segunda volta, dependendo dos candidatos, entre 41% e 55% dos eleitores dizem estar indecisos. “A forma como a Roménia irá navegar neste momento crítico definirá a força e a resiliência da sua democracia nos próximos anos.”, conclui Cristinel Buzatu.