Depois de entrevistar Ronaldo Caiado, o primeiro pré-candidato assumido à presidência da República, o DN conversa com o segundo a apresentar-se: é Romeu Zema, empresário de 60 anos, governador de Minas Gerais pelo Novo, partido com proposta semelhante à Iniciativa Liberal em Portugal, aprovado por 55% dos mineiros, segundo sondagem Quaest divulgada em agosto, dias depois de lançar a candidatura.Quais seriam os eixos principais de um governo federal seu?Nenhum país do mundo dá certo se não tiver os gastos controlados. O governo Lula-PT gasta muito mais do que arrecada, o que gera inflação. Hoje o Brasil tem a segunda maior taxa de juros do mundo, 15%. E isso demonstra que ninguém mais confia no governo federal. A dívida pública cresce assustadoramente e, portanto, o país ruma para o abismo. Temos de fazer reformas administrativa e previdenciária e de rever benefícios, muitos precisam continuar recebendo mas outros se recusam a ocupar os milhões de vagas em aberto para não perder os benefícios. Além disso, precisamos combater o crime organizado: há anos o Brasil é o campeão do mundo em homicídios, são 40 mil por ano, as guerras no mundo somadas não matam metade desse número. O governo faz vista grossa, acostumou-se. Eu indigno-me. Temos de equiparar essas organizações a grupos terroristas e termos penas longas e rígidas. O crime tem custos enormes para o país em vidas, na saúde e 50 milhões de brasileiros já vivem em áreas dominadas pelo crime organizado, são extorquidos, pagando mais caro pelo gás, energia, água, internet ou transporte. O governo não arrecada esse tipo de receita e fica cobrando de quem produz e trabalha. E sou favorável a mais transparência, tudo o que faço aqui em Minas, estado com 21 milhões de habitantes, é publicado no mês seguinte. Em Brasília, há sigilos de 100 anos, quem está escondendo o que faz é porque não está confortável. Queremos ainda revogar leis que só servem para tornar o ambiente empresarial mais complexo e afugentar investimento..Como avalia o governo Lula até agora? O governo Lula tem sido acima de tudo o governo do ressentimento. Toda a estrutura dos poderes judicial e executivo tem sido direcionada para perseguir inimigos políticos. Um exemplo claríssimo é essa questão de considerar uma manifestação popular como tentativa de golpe, golpe em que não se usou força, nem armas. E, neste governo que se alega democrático, Lula anda ao lado dos maiores ditadores do mundo, aliando-se a regimes autocráticos e distanciando-se de regimes democráticos - é o célebre ‘diz-me com quem andas, te direi quem és’. O governo, por outro lado, não tem nenhum plano de longo prazo, é imediatista e populista, mais focado em dar auxílios à população, do que em criar oportunidades para quem quer emprego. Aqui em Minas temos um governo que foi na direção da criação de oportunidades e não ficar dependendo eternamente de uma ajuda governamental. Depois, é um governo fora de contexto, que não se modernizou, as propostas são as mesmas de há 30 anos. Além disso, o PT já esteve quase 20 anos no poder e com ele o Brasil cresceu bem menos que a média mundial. O governo não tem um plano económico sustentável, cresce só via anabolizantes. Acha compatível a sua pré-candidatura, a de Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e a, eventual, de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo?Na minha visão, quanto mais a direita tiver candidatos mais se fortalece. Ninguém em Minas teria mais votos do que eu, que sou bem avaliado, o mesmo acontece com outros governadores de direita nos respetivos estados. Na segunda volta, todos estaremos juntos contra a esquerda, contra o PT. E a transferência de votos para o candidato que passar, será muito maior se a direita tiver os governadores atuando nos seus estados. Temos de caminhar juntos sim mas na segunda volta. Como vê a crítica de filhos de Bolsonaro aos pré-candidatos?Lamento. Dei em 2022 o meu apoio ao presidente Bolsonaro e fiz isso em troca de nada, só por acreditar nas propostas da direita. Então, acho que essa postura só desagrega a direita mas vejo-a como fruto de um momento difícil da família Bolsonaro. Concorda que, embora muito bem avaliado em Minas, tem de percorrer o país para se tornar mais conhecido nacionalmente?Sim. Mas mais difícil foi fazer o que eu fiz no passado: sair do total desconhecimento para governador de Minas. Disputei a primeira eleição em 2018 sem nunca haver participado, era um nome completamente fora do setor público. Então temos de mostrar ao Brasil o que foi feito aqui, nenhum governador assumiu um estado tão arrasado pelo PT, nós tirámos o Titanic do fundo do mar, agora está à superfície, na direção certa, mostramos que é possível, sim, consertar os erros do PT. Queremos fazer isso no Brasil, falta ainda um ano e isso pode ser mostrado.Em Portugal moram muitos eleitores brasileiros. Tem uma mensagem para eles?Tenho orgulho de ter em Minas Gerais talvez o maior património colonial. Temos aqui quase um Portugal histórico. Entretanto, temos tido o maior zelo com a gestão pública, não há as mordomias que outros governadores tinham, com 32 empregados no Palácio das Mangabeiras, a residência oficial, que hoje deixei aberta ao público, porque eu vivo em casa e pago o meu aluguer e a minha empregada. Eu não trouxe parentes para aqui, escolhi as pessoas em empresas de recursos humanos, cada um ocupa o cargo por ser competente na área, nenhuma seleção de futebol vai bem se não tiver craques. Tudo com transparência, sem a caixa preta que o PT e a esquerda adoram..Romeu Zema: “Candidato presidencial? Não tenho plano de poder”