Por que Portugal é tão estratégico para o governo de Minas Gerais?Minas Gerais tem, com toda ã certeza, o maior património histórico e cultural português fora de Portugal. Acho que em nenhum outro lugar do mundo você vai ter monumentos como Ouro Preto, Mariana, Congonha, Serro, Diamantina e outros mais. E isso, do meu ponto de vista, abre um grande potencial para nós recebermos mais portugueses. A maioria dos portugueses não tem, talvez, noção dessa riqueza histórica que nós temos lá de Portugal, já que Minas Gerais foi a principal província durante o período colonial, muito em virtude da extração da Era do Ouro - que durou quase 200 anos no Estado. Nós passámos a ter voos [diretos] com Lisboa, não faz tanto tempo assim, e hoje já são diários. Temos observado que há potencial para ter até 10 voos por semana, ou mais, à medida que esse fluxo aumenta. Temos também estreitado as relações com Portugal. O Vila Galé vai inaugurar o seu primeiro hotel em Minas Gerais agora, em abril, e já tem previsão de iniciar um segundo na cidade de Brumadinho, no Museu de Inhotim. E nós temos ainda a Mocoffee, que vai produzir cápsulas de café em Varginha, no sul de Minas, o que é de grande interesse nosso. Muito melhor do que exportar o café em grão é já exportar o café pronto para utilizar no caso da cápsula. Então, eu vejo um potencial muito grande e quando você conversa, tem o mesmo idioma, tudo fica mais fácil, não precisa de tradução, e há uma afinidade natural que você já não encontra com qualquer outro país de língua distinta. O que eu tenho tentado é exatamente nós trabalharmos cada vez mais em conjunto e estamos com novas frentes em Minas que têm tudo a ver com Portugal..A produção de vinho aumentou no Estado. Existe uma inspiração portuguesa?A nossa produção de vinho tem crescido a taxas elevadíssimas, 25% ao ano nos últimos anos. Tudo que cresce a 25% ao ano, fica grande em 10, em 15 anos, é só uma questão de tempo. Nós temos tido conversa e uma cooperação muito grande com viticultores portugueses que já têm uma larga experiência. O bom é que o nosso vinho já começa a ser produzido com altíssima qualidade. Estão nas primeiras safras, mas já com qualidade equivalente aos melhores do Rio Grande do Sul e outros de outros países. Outro produto que também tem uma semelhança muito grande com Portugal é a produção de azeite. Temos o azeite tradicional e temos ainda um azeite de abacate, já que ele armazena também muito óleo ali na sua polpa. Tudo isso nós queremos aprender aqui com os portugueses, que são especialistas em azeite e em vinho. Já estamos criando lá as nossas rotas do vinho e do azeite, que são produções que atraem turistas. Ninguém quer ver como se produz um produto industrializado, mas uma iguaria todo o mundo quer ver. Também está dentro desta questão o queijo artesanal, que inclusive deve ser declarado Património da UNESCO. Pouquíssimos alimentos no mundo são declarados Patrimónios da Humanidade e o queijo mineiro, que é uma tradição portuguesa, levado pelos portugueses. Tudo isso aproxima-nos..Como avalia os dias de trabalho aqui em Lisboa?Também estive na China e em Baku, na COP. Aqui em Lisboa, eu destaco o lançamento do Compete Minas que teve a participação de diversas startups. É o Estado de Minas oferecendo, para aqueles projetos que nós julgamos que atendem os pré-requisitos que são viáveis, um aporte financeiro a fundo perdido para poder ter em Minas Gerais startups operando, levando soluções para o governo ou criando empregos no Estado. Antes era restrito a startups mineiras e agora nós abrimos para o mundo todo. Tivemos ainda o evento do LIDE, frequentado também por investidores e mostrando o potencial de Minas Gerais. O mesmo jantar no Vila Galé, mostrando o potencial turístico que eu comentei no início. Há um património histórico lusitano muito rico no nosso Estado e, com esses voos que existem hoje entre Lisboa a Belo Horizonte, temos condição de termos muito mais portugueses conhecendo Minas. Tive também uma reunião com o secretário de negócios internacionais aqui do Governo português, mostrando para ele tudo isto que estamos comentando aqui. Nós queremos fomentar essas relações que, no meu entender, ainda são muito tímidas e cooperando mais. Estamos abrindo perspectivas para o futuro..No Brasil nós tivemos Eleições Municipais recentemente. Como avalia o resultado, de maneira geral?Ficou muito claro, pelo resultado das eleições, um avanço mais dos partidos de direita e um recuo dos partidos mais de tendência de esquerda. Parece que é uma tendência que sinaliza, muito provavelmente, o que pode acontecer em 2026, quando tivermos eleições para governadores, para deputados federais e para presidente. Eu fiquei satisfeito com o resultado. Em Minas Gerais, que é o meu Estado, 853 municípios, nós vimos os partidos de centro direita e direita avançarem em detrimento daqueles de esquerda..A avaliação de alguns analistas é de uma caminhada ao centro, fugindo dos extremismos. Concorda?Eu sou otimista. Acho que tudo o que é extremo, tudo o que é radical, acaba cegando, acaba prejudicando o debate, o diálogo. Acho que pessoas mais moderadas podem contribuir muito mais. Porque só pegar pedras e mandar nos outros, nada resolve. E parece que o radicalismo leva a isso. Em vez de sentar, argumentar, debater, você só está acusando, só está agredindo, isso também vai cansando a população. Acho que é questão de tempo também para esse tipo de política, de candidato, de proposta, começar a dar sinais de fadiga. As pessoas vão vendo que é infrutífero..Em 2026, pensa em concorrer à Presidência do Brasil?Para 2026 eu já tenho como certo que vou ter um ano muito atribulado. Primeiro, vou trabalhar muito em 2026 para que o meu vice-governador, o professor Mateus, seja eleito governador de Minas e dê continuidade a todo este trabalho. São muitos projetos de longo prazo, que nós temos, que precisam continuar. E vou estar trabalhando muito também na campanha presidencial. Não sei se como candidato ou apoiando alguém. Eu, pessoalmente, não tenho nenhum plano de poder, eu não sou do mundo político, sou governador de Minas de forma muito improvável, fui eleito há seis anos. Sou do setor privado, mas quero estar contribuindo com propostas de centro-direita que eu vejo que são as melhores para o Brasil. Nós precisamos de um Estado mais racional, de um Estado que se preocupe com gastos, porque à medida que o Estado fica com a condição melhor, principalmente, de equilíbrio orçamental, ele pode, inclusive, fazer mais ações sociais. Sou favorável a ações sociais. E sou contra os gastos indiscriminados, que me parece que é o que tem acontecido. Que outro país tem 39 ministérios? Que loteia cargos estatais para pessoas que não têm nenhuma competência e fazem, inclusive, com que os resultados caiam drasticamente? Então, eu vou estar trabalhando muito por uma proposta de um Brasil melhor. Ser ou não candidato, para mim, é algo secundário, pois quero contribuir para um Brasil melhor..Como viu a tentativa de atentado em Brasília, quando um homem se fez explodir?Eu olho para esse episódio como um ato de uma pessoa desequilibrada. Não tem nenhuma organização, um grupo por trás disso. Foi um ato totalmente isolado e até eu fico espantado por ocupar tanto espaço na comunicação. Eu acho que tudo é aproveitado de acordo com a forma de se interpretar o ato. Para mim, é um desequilibrado. Parece que o histórico dele, pelo que eu li rapidamente, prova isso com toda certeza. Então, na minha opinião, daqui a 30 dias, isso vai ser um assunto praticamente esquecido, encerrado, mas que, na hora, causa todo esse clamor e acaba, infelizmente, diante do que nós estamos falando aqui, servindo até para radicalizar o discurso. Foi uma pessoa isolada, não um exército. Que a democracia seja preservada e que as pessoas não usem um ato de um total desequilibrado como pretexto para dizer que tinha um Exército por trás dele, porque não tinha. Está muito claro.