Na oposição pela primeira vez em mais de 14 anos e sem a pressão das últimas mudanças de líder - que implicavam também um novo primeiro-ministro para o Reino Unido -, o Partido Conservador vai escolher com calma o sucessor de Rishi Sunak. O ex-primeiro-ministro anunciou que ia deixar a liderança partidária após a derrota eleitoral de 4 de julho - a pior de sempre para os Tories. Há seis candidatos à sucessão, com o vencedor a ser anunciado apenas a 2 de novembro..O prazo para a inscrição dos candidatos terminou a 29 de julho, com os deputados que aspiravam à liderança a terem que reunir o apoio de pelo menos dez outros conservadores eleitos para a Câmara dos Comuns (neste momento são só 121, num total de 650 deputados). E tinham que provar serem capazes de angariar 200 mil libras para o partido. Seis candidatos passaram esse primeiro obstáculo: James Cleverly, Tom Tugendhat, Robert Jenrick, Mel Stride, Priti Patel e Kemi Badenoch, pela ordem em que anunciaram a candidatura. Esta última é a favorita das apostas, mas a campanha ainda agora começou. .O próximo passo é só dentro de um mês, a 4 de setembro, quando os deputados conservadores, em várias votações, reduzem os candidatos a apenas quatro. Esses terão então oportunidade de apresentar o seu programa e planos para o futuro na convenção nacional do partido, que decorre entre 29 de setembro e 2 de outubro, em Birmingham. Seguem-se mais votações entre os deputados a 9 e 10 de outubro para reduzir ainda mais a escolha, a apenas dois candidatos. .Nessa altura, será a vez de ouvir os mais de 172 mil militantes (os números são de 2022) do Partido Conservador, que se vão expressar por voto eletrónico. Terão entre 15 e 31 de outubro para o fazer. Se tudo correr como esperado - pode haver desistências que levem à aclamação de um dos candidatos -, o nome do novo líder será anunciado finalmente a 2 de novembro, poucos dias depois de Sunak ter cumprido dois anos à frente do partido. .O ex-primeiro-ministro assumiu as rédeas dos Tories (e do país) após o desaire de Liz Truss, que esteve só 45 dias no cargo e que tinha sucedido a Boris Johnson, que saiu do número 10 de Downing Street em 2022, após todas as polémicas em torno das festas durante a covid-19. A sua antecessora, Theresa May (2016-2019), deixou o cargo ao não conseguir um acordo de Brexit, cujo referendo em 2016 tinha levado à demissão de David Cameron - o líder conservador que, em 2010, voltou a pôr os Tories no poder. .O futuro líder vai assumir um partido reduzido ao mínimo na Câmara dos Comuns, face à grande maioria trabalhista (404 deputados) de Keir Starmer. Tem ainda que mostrar que será capaz de reconquistar os votos perdidos para a extrema-direita, para o Reform UK de Nigel Farage, que teve quatro milhões de votos, mesmo se só elegeu cinco deputados..A extrema-direita é acusada de incitar os motins dos últimos dias. Com dois ex-ministros do Interior e um antigo secretário de Estado para a Imigração na corrida, o tema não tem passado ao lado. Cleverly criticou a ideia de Starmer de criar um “exército permanente” de polícias para lidar com estas situações, enquanto Patel quer ver o Parlamento convocado (está de férias), defendendo uma “resposta robusta” contra a violência. Já Badenoch disse ser preciso “deixar de fingir” que a integração funcionou no país..FOTO: XJames Cleverly O ex-ministro do Interior de Rishi Sunak, que foi chefe da diplomacia de Lizz Tuss e ministro da Educação de Boris Johnson, foi o primeiro a anunciar a candidatura. Tem 54 anos e diz querer unir o partido..Tom Tugendhat O ex-secretário de Estado da Segurança, de 51 anos, já tentou a corrida à liderança em 2022. Conhecido pelas posições críticas sobre a China, admite na relação com Bruxelas sair da Convenção Europeia dos Direitos Humanos..FOTO: X.FOTO: XRobert Jenrick Tem 42 anos e foi o primeiro milennial no governo - entrou com Theresa May e foi secretário de Estado da Imigração de Sunak. Saiu em desacordo com o plano do Ruanda, considerando que não ia tão longe como devia. De centrista, passou a ser visto como sendo da ala mais à direita do partido. .Mel Stride Ocupou vários cargos ministeriais desde 2015, o último como titular da pasta do Trabalho e Segurança Social. Diz ser a pessoa certa para recuperar a confiança dos eleitores e reconstruir a reputação do partido. Tem 62 anos..FOTO: X.FOTO: XPriti Patel A ex-ministra do Interior de Boris Johnson era conhecida pela posição forte em relação à imigração e por ser uma das vozes mais à direita do partido. Aos 52 anos, concorre em defesa dos valores conservadores. .Kemi Badenoch A ex-ministra para os Negócios e Comércio, de 44 anos, foi a última a apresentar a candidatura, mas é a grande favorita, depois de ter sido a grande surpresa na corrida à liderança de 2022. Promete devolver o partido “às suas raízes”, sendo popular entre a ala mais à direita..FOTO: X.susana.f.salvador@dn.pt