Rachel Reeves, a "ministra das Finanças" britânica, com a pasta vermelha do Orçamento à saída da residência oficial, o número 11 de Downing Street.
Rachel Reeves, a "ministra das Finanças" britânica, com a pasta vermelha do Orçamento à saída da residência oficial, o número 11 de Downing Street.EPA/TOLGA AKMEN

Reino Unido enfrenta o maior "choque de contratação" dos países do G7 após agravamento fiscal

A agravar o crescimento económico anémico -- de 0,1%, -- o mercado laboral britânico entra em fase de estagnação: empresas suspendem recrutamento para absorver custos de 28,6 mil milhões de euros.
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O mercado de trabalho do Reino Unido está a registar a retração mais severa entre as principais economias mundiais (G7), num fenómeno que especialistas descrevem como um "congelamento estratégico". Segundo os dados mais recentes do ManpowerGroup Employment Outlook Survey (relativos ao último trimestre deste ano), a confiança dos empregadores britânicos sofreu uma queda de 17 pontos percentuais em termos homólogos -- a maior descida global registada pelo índice este ano.

A principal causa apontada para este cenário é o impacto direto do novo Orçamento do Estado do governo trabalhista. A medida central, o aumento das contribuições patronais para o Seguro Nacional (National Insurance, o equivalente à nossa Segurança Social) representa um encargo adicional de 25 mil milhões de libras (cerca de 28,66 mil milhões de euros).

De acordo com a KPMG e o Recruitment & Employment Confederation (REC), no seu relatório de dezembro de 2025, o índice de colocações permanentes fixou-se nos 45,5 pontos (valores abaixo de 50 indicam contração). As empresas, confrontadas com este aumento súbito nos custos fixos de pessoal, optaram por suspender planos de expansão para priorizar a retenção interna.

Crescimento anémico e comparação internacional

Este bloqueio na mobilidade laboral ocorre num contexto de fragilidade macroeconómica. Dados do Office for National Statistics (ONS, o equivalente ao nosso INE) confirmam que o PIB britânico cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre de 2025, tendo mesmo registado uma queda mensal de -0,1% em outubro. Em comparação, no mesmo período, a Zona Euro cresceu 0,3% e a França 0,5%, sublinhando o isolamento do Reino Unido na cauda do crescimento do G7.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu as suas previsões, apontando para um crescimento anual de apenas 1,3% para 2025, um valor considerado insuficiente para dinamizar o mercado de capitais e atrair o investimento estrangeiro necessário.

O país enfrenta agora um dilema estrutural: 76% dos empregadores relatam dificuldades em encontrar competências específicas, particularmente nos setores da tecnologia e transição energética. Embora a procura global tenha caído, os salários iniciais para funções altamente qualificadas continuam a subir ligeiramente, à medida que as empresas tentam atrair talento especializado da concorrência em vez de criar novos postos.

Analistas do setor de recrutamento indicam que, embora o mercado possa ter atingido o seu ponto mais baixo, a recuperação dependerá de sinais de maior estabilidade fiscal e incentivos diretos à produtividade no próximo ano.

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