A Rússia não pode aceitar o atual formato da proposta dos Estados Unidos para colocar um fim à guerra na Ucrânia pois, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, não aborda os problemas que Moscovo considera terem causado o conflito. Esta declaração foi feita no dia em que foi noticiado que o presidente Vladimir Putin convocou para as Forças Armadas russas 160.000 homens, o maior número de recrutas do país desde 2011.“Levamos muito a sério os modelos e as soluções propostas pelos americanos, mas não podemos aceitar tudo na sua forma atual”, afirmou Sergei Ryabkov, citado esta terça-feira pelos meios de comunicação estatais, à revista russa International Affairs. “Tanto quanto podemos constatar, hoje não há neles lugar para a nossa principal exigência, nomeadamente a resolução dos problemas relacionados com as causas profundas deste conflito. Está completamente ausente e isso tem de ser ultrapassado”, referiu ainda, de acordo com a Reuters.Estas declarações surgem depois de o presidente dos Estados Unidos ter dito, numa entrevista dada no domingo, estar “muito zangado” e “irritado” com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, depois de este ter criticado a liderança do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, pondo em causa a sua credibilidade. Na mesma ocasião, Trump disse ainda que os comentários de Putin “não estavam a ir na direção certa”, ameaçando ainda colocar “tarifas secundárias sobre todo o petróleo proveniente da Rússia”.Falando sobres estas declarações mais duras por parte de Donald Trump a fim de pressionar Vladimir Putin a aceitar um acordo sobre a Ucrânia, o porta-voz do Kremlin garantiu que Moscovo está “a continuar os contactos com o lado americano”.“O assunto é muito complexo. A substância que estamos a discutir, relacionada com o acordo ucraniano, é muito complexa. Isto requer muito esforço extra”, prosseguiu Dmitry Peskov.Entre as pretensões do Kremlin estão a Ucrânia abandonar a sua intenção de aderir à Aliança Atlântica, tomar posse das quatro regiões ucranianas que controla atualmente, mas também a limitação do tamanho do Exército de Kiev. No final da semana passada, Putin sugeriu ainda que a Ucrânia fosse colocada sob controlo temporário das Nações Unidas até que fosse eleito um governo “competente”, afastando Zelensky do poder. Sugestão que provocou a reação exaltada de Trump, apesar de este ter chamado ditador ao ucraniano na sua discussão na Casa Branca em meados de fevereiro. Entretanto, Putin assinou um decreto a ordenar o recrutamento de 160.000 russos entre os 18 e os 30 anos para as Forças Armadas, número que, segundo a BBC, é o maior desde 2011. Este recrutamento teve início na segunda-feira e prolonga-se até 15 de julho e, de acordo com o vice-almirante Vladimir Tsimlyansky, os novos recrutas não serão enviados para combater na Ucrânia. No entanto, o Centro Estatal Ucraniano de Combate à Desinformação tem um entendimento diferente. “Embora as autoridades russas afirmem que os recrutas não são enviados para a zona de combate, uma vez em serviço, são forçados a assinar contratos “voluntariamente” e acabam na linha da frente. Assim, o recrutamento tornou-se uma das ferramentas do Kremlin para compensar as pesadas perdas na frente”, referiu o centro, citado pelo Politico, acrescentando que “esta campanha de recrutamento pode também indicar que, apesar das declarações oficiais sobre a paz, a Rússia procura, na verdade, prolongar a guerra”.Numa visita surpresa feita esta terça-feira a Kiev, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que os esforços de Donald Trump para garantir uma trégua entre Rússia e Ucrânia estão num impasse. E sublinhou que, perante este cenário entre Washington e Moscovo, o apoio contínuo dos europeus à Ucrânia na guerra é “absolutamente crucial”.A alemã revelou ainda que vai aproveitar a reunião dos líderes da diplomacia dos países da NATO - que começa amanhã e contará com a presença do norte-americano Marco Rubio - para dar um recado à Casa Branca. “Deixaremos claro ao lado americano que não devemos envolver-nos nas tácticas de protelação de Putin.”“Só haverá uma paz real e duradoura quando o presidente russo perceber que não pode vencer esta guerra, que a sua destruição não será bem-sucedida”, declarou Baerbock, acrescentando que a Ucrânia tem de “conduzir as negociações de paz a partir de uma posição de força”.