Quem é o brasileiro amigo de Trump que ergue e derruba os presidentes?

Quem é o brasileiro amigo de Trump que ergue e derruba os presidentes?

Joesley Batista, milionário que quase provocou queda de Temer e arruinou carreira de Aécio, reuniu-se em setembro com o presidente americano, para ajudar Lula, e nesta semana com Nicolás Maduro.
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Joesley Batista pode ser um dos homens mais ricos do Brasil, como sócio da JBS, principal exportadora de proteína animal do planeta, e ter uma fortuna, segundo a revista americana Forbes, de cerca de 4,1 mil milhões de dólares, mas é a influência que vem demonstrando na política, e até na geopolítica, que mais impressiona no empresário brasileiro de 53 anos, de Formosa, pequena cidade de 115 mil habitantes no estado de Goiás.

No dia 23 de novembro, Joesley foi notícia no Brasil, nos EUA e no mundo por se ter reunido, por iniciativa própria mas conhecimento prévio da Casa Branca, com Nicolás Maduro e pedido ao presidente da Venezuela para deixar o governo de forma pacífica. 

Dias antes, Donald Trump, que pedira o mesmo a Maduro mas por telefone, havia anunciado o fecho do espaço aéreo do país sul-americano num dos últimos episódios de uma escalada da tensão entre Washington e Caracas que pode derivar na primeira guerra na região desde o conflito nas Malvinas, em 1984. Os resultados da mediação do empresário ainda não são conhecidos mas vistos como promissores pela imprensa americana.

Entretanto, menos por questões geopolíticas e mais por motivos económicos, Joesley já tinha chegado às manchetes no Brasil, nos EUA e no mundo dois meses antes, quando se reuniu dessa vez com o próprio presidente norte-americano na Sala Oval. 

Como a JBS e as outras empresas da holding J&F, que as administra, empregam mais de 70 mil norte-americanos no país de Trump em áreas como a alimentação, a energia, o mercado financeiro, a mineração, a comunicação, a celulose e a higiene e limpeza, Joesley terá convencido o republicano a amenizar as tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil e a promover o diálogo comercial entre as duas maiores nações do continente americano. 

Mais uma vez, agiu sozinho, à margem do governo brasileiro mas, na sequência, Trump e o presidente brasileiro Lula da Silva encontraram-se na Assembleia Geral da ONU, trocaram afagos e iniciaram uma improvável relação que resultou, de facto, numa redução substancial das taxas comerciais e até na colaboração entre os países no combate ao crime organizado.

Não é de hoje, entretanto, que Joesley influencia a vida de presidentes e presidenciáveis. Em 2017, depois de ter sido investigado pela polícia nas operações Sepsis, Greenfield, Cui Bono, Carne Fraca e Bullish, a primeira das quais derivada da Lava Jato, decidiu assinar um acordo de delação premiada com as autoridades. E fê-lo à sua maneira. Marcou reunião fora da agenda oficial com o então presidente Michel Temer na residência oficial deste, já a noite de 7 de março ia alta, e gravou a conversa com um equipamento escondido na roupa. 

A determinada altura, Temer disse “tem de manter isso aí, viu”, uma frase que marcaria a política brasileira da época, depois de Joesley lhe ter dito que estava a pagar pelo silêncio de Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, entretanto preso no âmbito da Lava-Jato, que liderara o processo de impeachment de Dilma Rousseff no ano anterior que alçara o vice-presidente a presidente. 

O dia seguinte à divulgação da gravação, 17 de maio de 2017, ficou conhecido na bolsa de valores de São Paulo, a Bovespa, como “Joesley Day” por ter sido marcado por uma queda de valor das ações de 12% em menos de uma hora e pelo aumento do dólar em 10% no mesmo período. 

Na política, o Supremo Tribunal Federal determinou a abertura de um inquérito contra Temer por corrupção passiva, obstrução à justiça e organização criminosa que, segundo a Constituição brasileira, teria de ser autorizada pelo Congresso Nacional, que a rejeitou e livrou o presidente da deposição depois de meses de alta tensão em Brasília.

Em paralelo, Joesley gravou também um telefonema mantido com Aécio Neves, que havia perdido a eleição presidencial de 2014 para Dilma por uma margem pequena e ambicionava candidatar-se em 2018, após o governo tampão de Temer, com legítimas esperanças de vitória. Na chamada, porém, Aécio pede a Joesley dois milhões de reais, cerca de 550 mil euros ao câmbio da época, para pagar a advogados que o defendessem da Lava-Jato.

A divulgação desse e de outros trechos comprometedores arruinaram a carreira política do então presidenciável pelo PSDB, partido de centro-direita que também nunca mais se reergueu depois do episódio. E abriu caminho à eleição em 2018 de Jair Bolsonaro, que aproveitou a crise, não só no PSDB, mas também no PT, a outra força dominante da política local pós-redemocratização, atingida ainda com mais veemência pela Lava-Jato, para protagonizar um discurso antissistema.

Joesley, com o irmão Wesley, é o responsável pela internacionalização da empresa familiar JBS formada em Goiás por José Batista Sobrinho (a marca tem as iniciais do nome do patriarca), pai de ambos e de Junior, o primogénito, também empresário. 

Hoje, a JBS, via holding J&F, é dona de marcas como Swift, Seara ou Friboi, na área do processamento de carne bovina, do Pic Pay e Banco Original, no setor financeiro, da Âmbar, no segmento energético, do Canal Rural, na área da comunicação, da Eldorado, gigante do papel e celulose, da Flora, no setor de limpeza e cosméticos, e da LHG, do segmento da extração de minérios. 

Casado com Ticiana Villas Boas, ex-apresentadora de telejornais da Rede Bandeirantes, Joesley teve, segundo as revistas de celebridades da época, o casamento em risco ainda na fase das gravações a Temer e a Aécio por ter enviado, por engano, outros áudios à polícia, que se tornaram públicos, nos quais falava de casos extraconjugais. 

Esses áudios enviados por engano, aliás, revelaram além disso outros crimes cometidos pelo próprio Joesley relacionados ao ministério da Agricultura que o levaram à prisão preventiva por seis meses, entre 2017 e 2018. Solto em março, voltou à cadeia em novembro daquele ano mas apenas por três dias. 

A partir daí passou por um período de atuação discreta, enquanto assistia ao crescimento imparável dos negócios, ao ponto de se tornar próximo de Trump, de influenciar uma relação comercial entre nações gigantescas e até de negociar a suspensão de uma guerra.    

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