Ao abrigo do acordo entre Israel e o Hamas, a fronteira de Rafah, que liga o sul da Faixa de Gaza ao Egito, será reaberta no sábado, ao sétimo dia da aplicação do cessar-fogo. As autoridades egípcias estão a proceder a reparações do seu lado para garantir a reabertura a tempo e a entrada de mais ajuda humanitária no enclave palestiniano. A dúvida parece ser saber quem irá controlar a fronteira de Rafah? O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse esta quarta-fira que Israel continuará a ser responsável pela passagem durante a primeira fase do acordo de cessar-fogo (que deve durar 42 dias). O comunicado foi emitido depois de notícias de meios sauditas indicarem que esse controlo passaria para as mãos da Autoridade Palestiniana (AP, que tem poder na Cisjordânia ocupada, mas foi afastada da Faixa de Gaza pelo Hamas), com “supervisão internacional e das Nações Unidas”.O comunicado acusa a Autoridade Palestiniana, de Mahmud Abbas, de querer “criar a falsa impressão de que controla a passagem”. Contudo, o governo israelita admitiu que ela “desempenha um papel em aprovar os vistos de saída” e que a situação será “avaliada” no futuro. Ainda assim reiterou que o exército israelita continuará presente - segundo a Al Jazeera estão a construir fortificações do lado palestiniano. “Ninguém vai passar sem a supervisão e a aprovação do exército israelita e do Shin Bet [serviços secretos internos]”, indicou o gabinete do primeiro-ministro, que sempre se mostrou contra a ideia de a AP ter um papel na futura administração da Faixa de Gaza. O jornal israelita Haaretz revelou que, a partir do 14.º dia de trégua, 50 militantes do Hamas feridos vão ser autorizados diariamente a deixar o enclave para poderem ser tratados no Egito. Algo não confirmado por Israel. A fronteira de Rafah foi fechada em maio, depois de as forças israelitas terem assumido o controlo do lado palestiniano, alegando querer impedir a entrada de armas para o Hamas. O Egito, um dos países que ajudou a negociar o cessar-fogo junto com o Qatar e os EUA, terá exigido que os palestinianos recuperem o controlo da passagem e permitido que a Missão de Assistência Fronteiriça da União Europeia para Rafah esteja ali estacionada.A reabertura da fronteira em Rafah poderá facilitar ainda mais a entrada de ajuda humanitária em Gaza. O acordo previa a entrada diária de pelo menos 600 camiões, 50 deles com combustível. Segundo as Nações Unidas, nos primeiros três dias de trégua entraram no enclave palestiniano mais de 2400 camiões - 630 no domingo, 915 na segunda-feira e 897 na terça-feira - havendo registo de pequenos incidentes com roubos. As entradas estão a ser feitas pelas passagens de Zikim (no norte) e Kerem Shalom (na tripla fronteira entre Israel, Egito e a Faixa de Gaza). susana.f.salvador@dn.pt