Silas Malafaia casou Jair e Michelle Bolsonaro.
Silas Malafaia casou Jair e Michelle Bolsonaro.Mauro Pimentel / AFP

Quem é o pastor amigo de Bolsonaro que pregará em Lisboa no dia das eleições?

Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e televangelista mais mediático e politizado do país, casou Jair com Michelle e organizou a recente manifestação de apoio ao ex-presidente em São Paulo.
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“Messias, Messias, Messias”, gritou Silas Malafaia para Jair Bolsonaro no cimo do trio elétrico estacionado no centro da Avenida Paulista, em São Paulo, durante a manifestação organizada pelo próprio pastor em homenagem ao ex-presidente do Brasil. Antes, sugeriu que os atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes de 8 de janeiro de 2022 foram uma armação de Lula da Silva e do poder judiciário. Depois, orou e pediu um sonoro “amém”. A seu lado no palco, Michelle, a ex-primeira-dama, concordava, em lágrimas, que o marido era “perseguido” por ter sido “escolhido por Deus”.

Este ato ocorreu a 25 de fevereiro. Exatas duas semanas depois, neste domingo, 10 de março, dia das eleições legislativas portuguesas, o mesmo Malafaia estará em Santa Iria, nos arredores de Lisboa, “em pregação”, conforme anunciou nas redes sociais. “Um convite ao povo abençoado de Portugal! Neste domingo, dia 10 de março, eu vou pregar a Palavra de Deus no Culto de Celebração da Assembleia de Deus Vitória em Cristo de Portugal [ADVEC]”, a igreja protestante neopentecostal a que preside. Dois dias depois, fará, no mesmo lugar, o Culto da Vitória. A 17 vai inaugurar uma igreja no Porto. E Elizete Malafaia, sua mulher, ministra já hoje culto em louvor às “mulheres vitoriosas de Portugal”.  

Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro e outras lideranças da extrema-direita do Brasil próximas de Malafaia já manifestaram apoio ao Chega nas eleições de domingo.

A 21 de março de 2013, entretanto, dia em que Jair completava 58 anos e véspera do 31.º aniversário de Michelle, o televangelista Malafaia abençoou o casamento entre ele, então um folclórico e reacionário deputado de baixo clero, e ela, uma anónima assessora parlamentar do marido, na Mansão Rosa, espaço de festas cercado pela Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Em reportagem do jornal Folha de S. Paulo do ano passado, o pastor contou que a ideia do casamento não partiu dos noivos - e sim do próprio. “Você vive com ela, ela tem uma filha sua, e você não se decide se quer casar com ela?”, terá perguntado, em tom de reprimenda, Malafaia a Bolsonaro, referindo-se a Laura, a filha deste de 13 anos que o pai rotulou de “fraquejada” por não ter nascido do sexo masculino. “Você faz o meu casamento então?”, contrapôs o político ao pastor.

Miguel SCHINCARIOL / AFP

E assim o trio viveu feliz para sempre. Ou nem tanto. Em 2017, Malafaia, que até então quando dizia “mata” ouvia Bolsonaro dizer “esfola” no combate contra o que ambos chamavam de “ativismo gay”, zangou-se com o aliado. Como este não o apoiou suficientemente das acusações de lavagem de dinheiro de que era alvo na polícia, o pastor vociferou contra “a direita radical”. Na sequência, Michelle trocou até a ADVEC por uma igreja batista.

A candidatura de Bolsonaro à presidência, porém, pôs uma pedra sobre a desavença e Malafaia seria um dos mais estridentes apoiantes do deputado em campanha, no Planalto e mesmo após a vitória de Lula, como se viu na Avenida Paulista, dia 25.

Malafaia, aliás, sempre defendeu que a ADVEC tivesse um braço político. “É de suma importância termos pessoas que professam a nossa fé em cargos políticos, para expor a nossa necessidade, defender a nossa posição a respeito dos assuntos em pauta e defender leis que estejam em harmonia com a Lei de Deus”, escreveu há mais de 10 anos.

Em 2014, comemorou a eleição de seis dos oito indicados por ele para a Câmara dos Deputados, entre os quais Sóstenes Cavalcante, um dos principais líderes da Bancada Evangélica do parlamento, e nas assembleias legislativas estaduais, como o irmão Samuel Malafaia. Em 2018 e em 2022, aumentou o seu peso político. E, na última semana, um grupo de deputados do Partido Liberal (PL), formação da qual o ex-presidente Jair Bolsonaro faz parte, protocolou mesmo um requerimento para realizar uma sessão solene na Câmara dos Deputados em sua homenagem.

“Reconhecemos e valorizamos os esforços incansáveis do Pastor Silas Malafaia em promover a unidade, a solidariedade e o entendimento entre as diversidades. As suas mensagens inspiradoras têm tocado corações e oferecido orientação espiritual a muitos que buscam conforto e direção”, finaliza o texto assinado pelos bolsonaristas Coronel Chrisóstomo, Sargento Fahur, Carla Zambelli, Roberta Roma, Altineu Côrtes e, claro, Sóstenes Cavalcante. 

Silas Lima Malafaia, 65 anos, natural do Rio de Janeiro, foi classificado numa reportagem do jornal francês Le Monde como “o mais mediático” dos televangelistas brasileiros, “com 2,4 milhões de amigos no Facebook, 1,4 milhão de seguidores no Twitter [atual X] e vídeos que são visualizados centenas de milhares de vezes no Youtube”.

Em 2013, a revista Forbes considerou-o o terceiro bispo mais rico do Brasil, com património avaliado em 150 milhões de dólares, um número que o próprio Malafaia desmentiu categoricamente, embora ostente aviões, carros blindados e anéis com orgulho. “Eu levo minha família toda [a hotéis cinco estrelas] e não tô nem aí pra você, ô mané, que tá me assistindo”, disse num culto, em 2014.

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