A manhã desta quarta-feira, 29 de outubro, começou com o anúncio das Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês) de que o cessar-fogo em Gaza estava restabelecido depois dos ataques da noite que haviam feito mais de cem mortos, incluindo crianças, segundo os números das autoridades controladas pelo Hamas. Mas a meio da tarde surgiam notícias de novo bombardeamento israelita, um “ataque direcionado” a um alegado depósito de armas em Beit Lahia, no norte do enclave, segundo os militares, com o objetivo de “eliminar uma ameaça de ataque terrorista”.Pelo meio, o presidente dos EUA, Donald Trump, garantiu que os recentes bombardeamento israelitas contra a Faixa de Gaza não põem em causa o cessar-fogo. A bordo do Air Force One, que o levava do Japão para a Coreia do Sul, onde participa na cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), Trump aproveitou ainda para repetir o alerta ao Hamas para se “comportar” ou arriscar ser “exterminado”. Já a União Europeia apelou a “ambas as partes” para respeitarem a trégua, em vigor desde 10 de outubro. Os 27 têm tido dificuldades em definir uma posição clara sobre a guerra em Gaza, com uns países mais apoiantes de Israel e outros mais solidários com os palestinianos. Mas o porta-voz da Comissão Europeia, Anouar El Anouni, veio ontem afirmar: “exortamos todas as partes a comprometerem-se plenamente com a implementação de todas as fases do plano para pôr fim ao conflito em Gaza e a absterem-se de qualquer ação que possa comprometer o acordo”, acrescentando “Não há solução militar para este conflito.”Mas a questão que se coloca é até quando durará um cessar-fogo que parece só vigorar entre “pausas” para bombardeamentos e ataques contra as tropas israelitas que ainda controlam mais de 50% da Faixa de Gaza?As IDF afirmaram em comunicado que continuariam a respeitar o acordo de cessar-fogo, mas que responderiam “com firmeza a qualquer violação”. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Oren Marmorstein, citado pelo The Guardian, culpou o Hamas pelos ataques e atribuiu o elevado número de mortos ao facto de o grupo usar civis como escudos humanos.Benjamin Netanyahu ordenou os ataques na noite de terça-feira, após um tiroteio entre militantes palestinianos e tropas israelitas, que matou um soldado. O primeiro-ministro israelita está cada vez mais pressionado a agir devido à crescente indignação na sociedade israelita com o Hamas por ter entregue partes do corpo de um refém cujos restos mortais as tropas israelitas haviam recuperado dois anos antes. Depois dos primeiros ataques na terça-feira, o Hamas adiou a devolução de um corpo que tinha anunciado para o mesmo dia.No âmbito do acordo, o Hamas entregou os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldades em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito. Em troca dos reféns, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e entregou 195 corpos.A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas a 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram 1200 pessoas e 251 foram feitas reféns. Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais.