Mais de um ano depois de ter assumido a presidência da Generalitat, o socialista Salvador Illa vai reunir-se esta terça-feira (2 de setembro), em Bruxelas, com o antigo líder catalão, o independentista Carles Puigdemont. “Agora é o momento”, disse Illa numa entrevista à rádio e à televisão pública catalã, explicando que a reunião visa enviar a mensagem de que “o diálogo é o motor da democracia”. Para muitos, o encontro é o prenúncio de outro, com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.Puigdemont liderou o processo independentista de 2017 e escolheu exilar-se para escapar à justiça - outros ficaram, foram condenados e cumpriram pena de prisão até serem indultados por Sánchez em 2021. Três anos depois, o Congresso espanhol aprovou uma amnistia para os independentistas catalães, como parte de um acordo para garantir a investidura de Sánchez. ."Não é de fiar". Puigdemont ameaça retirar apoio parlamentar a Sánchez e exige moção de confiança.Mas o Supremo Tribunal alega que essa amnistia não inclui o crime de peculato e manteve a ordem de detenção contra Puigdemont, que arrisca ser preso se voltar a Espanha. Já em junho, o Tribunal Constitucional validou a amnistia, rejeitando as queixas do Partido Popular, mas ainda tem que decidir sobre a recusa do Supremo em aplicá-la. E o Tribunal de Justiça da União Europeia também está a deliberar se a lei se ajusta ao direito europeu. “Era o momento de fazer isto. A amnistia é constitucional”, indicou Illa na entrevista. “Teria gostado que a reunião fosse aqui, no salão da Virgem de Montserrat [no Palácio da Generalitat] e que tivesse acontecido há vários meses. Mas vamos fazê-lo agora, desta maneira”, referiu. O encontro será à porta fechada às 16h30 locais (15h30 em Lisboa) na delegação do Governo da Catalunha na União Europeia, em Bruxelas.Puigdemont era o único antigo líder da Generalitat com quem Illa ainda não tinha reunido desde que, a 10 de agosto de 2024, assumiu a presidência do governo catalão. Os críticos lembram que até se encontrou com Jordi Pujol, que aos 95 anos aguarda com os sete filhos o julgamento por corrupção (vai começar na Audiência Nacional em novembro).O secretário-geral do Junts per Catalunya, partido presidido por Puigdemont, disse à rádio catalã que o encontro já vem tarde. “Foi ele [Illa] que pediu a reunião agora. Por um grande respeito institucional à presidência da Generalitat, a reunião será agora”, indicou Jordi Turull.Apesar de a reunião poder ser vista como mais uma de Illa com um antigo líder catalão, os socialistas consultados pelo jornal conservador La Razón acreditam que o verdadeiro objetivo é “preparar a foto” de Puigdemont com Sánchez, alegando que Illa não faz nada sem consultar o primeiro-ministro espanhol. Já o El País cita fontes governamentais para falar de “um passo que ajuda a normalizar” a situação política. Uma aproximação entre os socialistas e os independentistas, em vésperas de um orçamento que é prioritário para Sánchez e cuja aprovação não está garantida - por causa da resistência, entre outros, do Junts. As mesmas fontes alegam contudo que as duas coisas não estão relacionadas e que a reunião não facilita a aprovação das contas. Sánchez nunca escondeu estar dispostos a reunir-se com o ex-líder catalão, até fora de Espanha, mas só se houvesse algo importante na agenda - talvez o Orçamento. No ano passado, o Governo optou por prorrogar o orçamento de 2024 para 2025, diante da impossibilidade de aprovar as contas. O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, critica a possibilidade de Sánchez poder repetir esse gesto este ano, falando em “despotismo orçamental”.