O presidente do conselho de administração da BBC pediu esta segunda-feira, 10 de novembro, desculpa pela emissora pública britânica e reconheceu um "erro de julgamento" após a transmissão de uma reportagem com uma montagem enganosa de um discurso do presidente norte-americano, Donald Trump."Reconhecemos que a forma como o discurso foi editado deu a impressão de um apelo direto à ação violenta. A BBC deseja pedir desculpas por este erro de julgamento", escreveu Samir Shah na carta ao presidente da comissão parlamentar de Cultura e Media, publicada esta segunda-feira na Internet. . O caso, revelado na terça-feira pelo jornal conservador The Daily Telegraph, diz respeito a um documentário transmitido no programa Panorama uma semana antes das eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro de 2024. .Diretor-geral e CEO da BBC demitem-se devido a edição polémica de discurso de Donald Trump. A BBC é acusada de ter editado diferentes partes de um discurso de Donald Trump datado de 6 de janeiro de 2021 — dia em que centenas de apoiantes do líder republicano invadiram o Capitólio (sede do Congresso) — insinuando que o presidente norte-americano disse aos seus apoiantes que iria caminhar com eles até ao Capitólio para “lutar como demónios”.No entanto, na frase original, Trump dizia: “Vamos caminhar até ao Capitólio e vamos encorajar os nossos corajosos senadores e representantes no Congresso”.A expressão “lutar como demónios” correspondia, na verdade, a outra passagem.Donald Trump recusava-se então a admitir a derrota nas urnas frente ao democrata Joe Biden.Sobre a edição desta passagem, Shah sustentou que "o objetivo da edição do clipe era transmitir a mensagem do discurso do presidente Trump para que o público do Panorama pudesse entender melhor como ele tinha sido recebido pelos apoiantes e o que estava a acontecer naquele momento".Desde que a existência de um memorando interno, elaborado por Michael Prescott, antigo conselheiro externo independente do comité de normas editoriais do canal estatal britânico, chegou à comunicação social, a empresa pública recebeu "mais de 500 queixas" que estão a ser processadas através de canais formais e que estão a provocar "uma reflexão mais profunda por parte da BBC", disse Shah. .Reconhecimento por outros erros da BBC. Além disso, o responsável reconheceu outros erros do canal na cobertura de outros casos de grande visibilidade, como a informação sobre o número de vítimas na Faixa de Gaza, indicando que "as medidas adotadas nestas áreas têm variado desde a publicação de correções e esclarecimentos até à emissão de novas diretrizes editoriais".Nesse sentido, mostrou o "compromisso da BBC com a melhoria contínua" e sustentou que "por vezes, os erros são pontuais e outras vezes podem indicar problemas de fundo", pelo que, sustentou, "o trabalho nunca está terminado".Quanto a outros elementos criticados, como o serviço árabe da empresa, que é acusado de seguir uma linha editorial distante da empresa-mãe da BBC e com uma alegada parcialidade a favor do movimento radical palestiniano Hamas, Shah sustentou que foram tomadas medidas."A equipa árabe da BBC foi reestruturada, foi nomeado um novo chefe de qualidade e padrões editoriais de língua árabe no serviço mundial e foi criada uma nova unidade de investigação nas redes sociais para verificar aqueles que aparecem no serviço", disse, respondendo ao aparecimento recorrente de fontes ligadas de alguma forma ao Hamas.Sobre uma hipotética queixa de Trump contra a BBC, Shah, numa entrevista transmitida pela rede pouco depois da divulgação do comunicado, disse que não tem conhecimento, mas reconheceu que o líder norte-americano "é um indivíduo muito controverso", pelo que a rede deve "estar preparada para qualquer cenário".Shah também negou qualquer "viés sistémico" da BBC, como sugerido no memorando de Prescott, algo que disse estar "longe da realidade".No entanto, afirmou que tinham sido tidas em conta várias questões suscitadas no documento e que estavam a ser tomadas medidas a esse respeito."O ADN e a cultura da BBC são a imparcialidade", sublinhou.O caso levou à demissão, no domingo, da diretora da BBC News, Deborah Turness, e do diretor-geral da BBC, Tim Davie.Turness afirmou hoje aos jornalistas que “a estação não é institucionalmente tendenciosa, é por isso que é a fonte de notícias mais confiável do mundo", acrescentando que "foram cometidos erros, mas não existe um viés institucional".Donald Trump comemorou no domingo a demissão dos responsáveis, a quem chamou de “jornalistas corruptos”.“São pessoas muito desonestas que tentaram influenciar o resultado das eleições presidenciais. Como se não bastasse, são de um país estrangeiro, que muitos consideram o nosso aliado número um. Que terrível para a democracia!", acrescentou. . Também o Governo de Israel exigiu que a BBC assuma “total responsabilidade” pelo que considerou “erros editoriais” na cobertura da ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza.“Pedimos que se exija total responsabilidade aos responsáveis pelas falhas editoriais da BBC em árabe e que se realize uma reforma completa para garantir que as suas futuras reportagens cumpram os padrões esperados pela BBC”, afirmou a embaixada de Israel no Reino Unido..Israel exige responsabilização por “falhas editoriais” sobre Gaza após demissões na BBC