A “líder das forças democráticas da Venezuela”, María Corina Machado, e o “presidente-eleito”, Edmundo González, são os vencedores do Prémio Sakharov de 2024. Uma distinção do Parlamento Europeu para os representantes de “todos os venezuelanos dentro e fora do país que lutam por restaurar a liberdade e a democracia”. Mas, quase três meses depois das presidenciais e apesar das pressões internas e externas, o presidente Nicolás Maduro prossegue nos seus planos para a nova tomada de posse a 10 de janeiro..O anúncio do vencedor do Prémio Sakharov para a Liberdade do Pensamento foi feito pela presidente do Parlamento Europeu. “Edmundo e María continuam a lutar por uma transição de poder justa, livre e pacífica e defendem, destemidamente, os valores que milhões de venezuelanos e este Parlamento tanto prezam: a justiça, a democracia e o Estado de Direito”, disse Roberta Metsola. “Estamos confiantes de que a Venezuela e a democracia acabarão por prevalecer.” Em 2017, já a “oposição democrática na Venezuela” tinha ganho o Sakharov..Os dois galardoados reagiram “honrados” nas redes sociais, lembrando que este prémio é de todos os venezuelanos que lutam pela recuperação da democracia. “Este reconhecimento é para cada preso político, cada exilado e cada cidadão do nosso país que defende o que pensa, a verdade, e que se levanta todos os dias com o desejo e o trabalho permanente de conseguir a liberdade para a Venezuela”, escreveu Corina Machado, que esta semana assinalou um ano da sua vitória nas primárias opositoras..A ex-deputada lusodescendente, de 57 anos, era a favorita às presidenciais de 28 de julho, mas foi impedida de se candidatar pelo Supremo Tribunal (controlado pelo Governo). Em seu lugar acabou por concorrer o ex-embaixador Edmundo González, de 75 anos, que acredita ter ganho com 70% dos votos, partindo dos dados das atas eleitorais..Contudo, Maduro foi proclamado vencedor com 51% dos votos. Mas nunca mostrou as atas oficiais, como pedem muitos países, recusando reconhecer a sua vitória e pressionando para o diálogo. O Parlamento Europeu (ao contrário do português) reconheceu, em setembro, a vitória de González, que entretanto optou por continuar a luta no exílio em Espanha - e que deverá viajar até Estrasburgo a 18 de dezembro para receber o prémio Sakharov..“Os meus compatriotas foram os protagonistas do grande feito democrático ocorrido no dia 28 de julho. Embora milhões de pessoas tenham sido impedidas de votar, aqueles que o conseguiram fazer ultrapassaram todo o tipo de obstáculos. E graças à sua coragem e organização, não só a ditadura foi derrotada nas urnas, como também conseguimos provar esta retumbante vitória eleitoral”, escreveu o candidato no X..“Mas a luta não acabou”, lembrou. “O regime persiste em bloquear a mudança política, incorrendo em cada vez mais violações dos direitos humanos e crimes contra a humanidade. Em três meses aumentou o número de presos políticos de 300 para dois mil”, incluindo mulheres e crianças. “Por isso os democratas, dentro e fora da Venezuela, devemos trabalhar unidos para fazer cumprir o mandato soberano do povo venezuelano”, concluiu. .Apesar da repressão, Corina Machado acredita ainda num outro futuro. Num evento do Fórum de Mulheres pela Economia e a Sociedade, em que participou remotamente, defendeu esta quinta-feira que Maduro está mais “fraco” do que nunca e mais “isolado” - apesar de ter viajado agora para a Rússia, para a cimeira dos BRICS. “A única coisa que resta a Maduro é a violência e parte das Forças Armadas que reprimem, é tudo o que lhe sobra”, acrescentou, defendendo que o presidente só vai negociar a transição quando entender que o custo de ficar no poder é maior do que o custo de sair. Admitiu contudo que ainda não estamos nesse ponto, instando a comunidade internacional a continuar a pressioná-lo. .susana.f.salvador@dn.pt