PP esquece pacto e tira o tapete a Arrimadas

Governo de Múrcia, liderado pelos conservadores, mantém-se graças a três trânsfugas do Ciudadanos. Líder do partido alvo de críticas.

Sem ter chegado a fazer parte do executivo de Espanha, o Ciudadanos, partido fundado na Catalunha em 2006 com um ímpeto reformista e regenerador, vive uma crise própria dos partidos de poder. Dois dias depois de o grupo parlamentar da assembleia regional de Múrcia ter aceitado por unanimidade romper a coligação com o Partido Popular e avançar com uma moção de censura em coordenação com o Partido Socialista, três dos seis deputados deram o dito por não dito e impediram a substituição do governo de Fernando López Miras, a quem acusavam até há horas de chefiar uma equipa corrupta.

Em troca, a deputada Isabel Franco mantém a vice-presidência e os outros dois passam a fazer parte do executivo. O caso mais curioso é o de Maria del Valle Miguélez, que estava a negociar com os socialistas a moção de censura e ao mesmo tempo (ou pouco depois) a partilha de poder com os conservadores. O caso está a causar ondas de choque em Espanha, até porque em novembro os principais partidos reafirmaram um pacto contra os trânsfugas e ampliaram-no a todas as administrações eleitas, para impedir situações desta natureza.

Na memória dos espanhóis está bem viva a traição cometida por dois deputados socialistas da Comunidade de Madrid, que em 2003 impediram a tomada de posse do colega de partido ao ausentarem-se da votação. O escândalo ficou conhecido como Tamayazo (um dos deputados dava pelo nome de Eduardo Tamayo), como lembra o La Vanguardia.

Ao que explica o El Diario, o caso explica-se mais pela dinâmica local do que outra coisa: os trânsfugas fazem parte do chamado "clã de Alcantarilla, feroz inimigo da atual coordenadora e candidata a presidente na moção de censura, Ana Martínez Vidal". Só que o caso rebenta nas mãos da líder do Ciudadanos, Inés Arrimadas, que havia dado luz verde ao fim de um governo manchado por suspeitas de corrupção e de um escândalo relacionado com a vacinação contra a covid - e em consequência perde a presidência de Múrcia e também a coligação na região de Madrid. Pouco depois de a moção de censura ter sido anunciada, a presidente de Madrid Isabel Díaz Ayuso dissolveu a assembleia e convocou eleições na região mais rica de Espanha.

Apanhada de surpresa pela manobra do PP em Múrcia, que inclusive levou o secretário-geral dos conservadores a deslocar-se àquela cidade, Inés Arrimadas ficou mais fragilizada: parte dos colegas de partido não viram com bons olhos o acordo com o PSOE e face a esta reviravolta exigiram explicações. Arrimadas acabou por convocar para segunda-feira o comité executivo do partido que em 2018 liderava as sondagens a nível nacional e que está agora em quinto, com 5,4%, segundo a mais recente publicada no El Mundo.

cesar.avo@dn.pt

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