Quando Donald Trump tomar posse como próximo presidente dos Estados Unidos, a 20 de janeiro de 2025, o 119.º Congresso da história do país já estará em funções. A nova composição das duas câmaras do Congresso entra em funções duas semanas antes do presidente, a 3 de janeiro, o que significa que Trump entrará na Casa Branca já com o Partido Republicano no controlo de todas as alavancas do poder..Este será um Congresso muito importante, porque dele dependerá a capacidade do presidente de executar as suas promessas eleitorais. E haverá quatro congressistas lusodescendentes sentados no Capitólio, três na bancada democrata e um na bancada republicana. É uma redução em relação à composição atual, em que se contavam cinco luso-americanos no grande centro do poder de Washington..Quem são então e o que defendem estes congressistas, vários dos quais foram reeleitos pela força das comunidades imigrantes portuguesas?.O lado republicano.David Valadão será o único republicano entre os eleitos lusodescendentes no Congresso dos EUA..David Gonçalves Valadão, que na grafia americana perde o c de cedilha e o til, é o único congressista lusodescendente eleito pelo Partido Republicano. Representa o 22.º distrito da Califórnia, uma região rural no vale de São Joaquim, onde há uma forte comunidade de origem açoriana que continua a honrar as suas raízes..Valadão chegou ao Congresso em 2012 e foi sendo reeleito sucessivamente de dois em dois anos, com exceção de 2018: nessas eleições intercalares, os democratas varreram a Câmara dos Representantes com uma maioria esmagadora e Valadão foi destronado por TJ Cox..Mas quando o fervor anti-Trump acalmou, o luso-americano reconquistou o seu lugar. Conseguiu ser reeleito em 2020, 2022 e 2024, apesar de ter irritado a base MAGA do seu partido por ter sido um de apenas dez republicanos que votaram para destituir Trump, no segundo impeachment levantado por causa do assalto ao Capitólio. Valadão, que tinha também sido um dos congressistas que não apoiaram o então candidato em 2016, votou a favor da criação da Comissão que investigou o ataque de 6 de janeiro de 2021..Filho de pais açorianos, Valadão conquistou uma reputação polida, capaz de negociar com congressistas das duas bancadas. Os pais começaram, inclusivamente, por ser filiados do Partido Democrata, registo que mais tarde mudaram para o lado republicano. Tal como muitos imigrantes originários dos Açores na Califórnia, a sua família abriu uma exploração de laticínios e agropecuária, segmento que continua a ser dominado por lusodescendentes no vale central..Esta ligação pessoal à indústria tornou-o defensor de menos regulação governamental, considerando que esta impossibilita a subsistência de muitos negócios, e de maior acesso a água por parte dos agricultores, num Estado onde a seca crónica tem sido constante..Do seu histórico de votações faz parte o voto a favor da manutenção do programa DACA, que protege migrantes que foram levados ilegalmente em criança para os Estados Unidos. Também votou contra um pacote republicano que iria fazer cortes profundos na rede de assistência à aquisição de alimentos por famílias pobres. .Na atual sessão legislativa, faz parte da Comissão Orçamental e da Comissão de Dotações, neste caso com presença nas Subcomissões de Agricultura, Veteranos e Tansportes. Relançou o Caucus Português do Congresso em 2023, com o democrata Jim Costa..John Duarte deixa o cargo a 3 de janeiro, não tendo conseguido a reeleição..O outro lusodescendente republicano que ainda serve no Congresso até 3 de janeiro, John Duarte, não conseguiu a reeleição em novembro passado. Também com origens na agricultura, Duarte perdeu o 13.º distrito da Califórnia para o democrata Adam Gray, por uma margem mínima: apenas 187 votos. Foi a última corrida eleitoral a ser decidida, várias semanas após a ida às urnas, e determinou que o controlo da Câmara dos Representantes pelos republicanos será mais magro do que o esperado - 220 contra 215..O lado democrata.Na bancada que durante os próximos dois anos estará em minoria, há três lusodescendentes, todos eles reeleitos em novembro: Jim Costa, Lori Loureiro Trahan e Eric Swalwell..Costa é o mais veterano dos três, estando no Congresso desde 2005. Aos 72 anos, representa o 21.º distrito da Califórnia, que ocupa porções dos condados de Fresno e Tulare. Apesar de ser uma região rural, o que normalmente favorece candidatos republicanos, Jim Costa é popular entre a comunidade portuguesa e o foco nas questões locais tem-lhe permitido continuar a derrotar os candidatos que lhe cobiçam o assento..Neto de imigrantes açorianos, cresceu a trabalhar na agricultura, tal como os pais e avós, e a frequentar a Igreja Católica. Formou-se em Ciência Política na Universidade Estadual da Califórnia, em Fresno, e começou a carreira política antes mesmo de se licenciar. Trabalhou para vários congressistas antes de se candidatar à Assembleia Legislativa estadual, em 1977, primeiro na câmara baixa e depois como senador estadual. Deu o salto para o Congresso em 2004, ao vencer as eleições contra o republicano Roy Ashburn..Nos primeiros quatro mandatos, representou um distrito com pendor democrata; mas os vários redesenhos e renumerações baralharam as contas. Em novembro passado, venceu contra Michael Maher por 52,6%-47,4%, uma das menores margens desde que chegou a Washington, D.C. .Costa tem-se focado em questões ligadas à agricultura, coliderando pacotes legislativos para proteger agricultores e garantir maior acesso à água..Também é um apoiante vocal de uma reforma estrutural do sistema de imigração, defendendo um caminho para a legalização de migrantes ilegais, ao mesmo tempo que tem votado para aumentar o financiamento da fiscalização na fronteira..Comendador da Ordem de Mérito, distinção que lhe foi entregue pelo então presidente Jorge Sampaio em 1996, Costa faz parte da Comissão da Agricultura e da Comissão de Relações Internacionais, nomeadamente da Subcomissão para a Europa. É copresidente do Caucus Português do Congresso, juntamente com David Valadão..Para o 119.º Congresso, o lusodescendente estabeleceu uma nova ambição: pretende chegar à liderança democrata da Comissão da Agricultura, desafiando David Scott (Geórgia), cuja idade avançada (79) e problemas de saúde o têm afastado do trabalho no Congresso..Eric Swalwell tem ascendência portuguesa do lado da avó..No mesmo lado da bancada e também pela Califórnia, o congressista Eric Swalwell regressará a Washington como representante do 14º distrito, que abrange a parte norte de Silicon Valley e a baía Este. Aos 44 anos, Swalwell tem ascendência portuguesa da parte da avó, que cresceu no Havai. Em 2023, recebeu das mãos do embaixador Francisco Duarte Lopes os registos da viagem da família, quando emigrou de Portugal para os Estados Unidos. .O lusodescendente foi criado por pais republicanos, mas tornou-se um dos membros progressistas mais conhecidos da câmara baixa. Advogado por formação, foi inicialmente eleito para a Câmara dos Representantes em 2012, derrotando o incumbente Pete Stark, que estava no cargo há 40 anos. .Swalwell chegou a candidatar-se às Primárias Presidenciais dos democratas em 2020, mas rapidamente desistiu e endossou Joe Biden..Copresidente da Comissão de Direção e Políticas do Partido Democrata na câmara baixa, Swalwell estava na Comissão de Inteligência e participou na investigação do alegado conluio entre a equipa de Donald Trump e agentes russos, em 2016. No segundo impeachment de Trump, fez parte da acusação. Em 2023, com os republicanos em maioria, foi expulso da Comissão de Inteligência por Kevin McCarthy, que citou receios de segurança nacional..É do outro lado do país, da Costa Leste, que vem a primeira e única mulher lusodescendente no Congresso, Lori Loureiro Trahan. Eleita pelo 3.º distrito de Massachusetts, que cobre Lowell e vários subúrbios de Boston, é neta de portugueses do Porto e dos Açores. O seu distrito alberga uma grande comunidade luso-americana e uma das políticas que defende é a reforma do sistema de imigração..Lori Loureiro Trahan representa o Massachusetts na Câmara..Chegou ao Congresso em 2018, depois de uma carreira na tecnologia e com a ambição de “expandir as oportunidades económicas das famílias da classe trabalhadora”, como a sua. Membro da Comissão de Energia e Comércio, foi uma das proponentes do Green New Deal..Em novembro, venceu facilmente porque não teve opositor, ao contrário do que acontecera em 2022, quando derrotou o republicano Dean Tran com 63,6% dos votos. Na próxima sessão legislativa, voltará a coliderar a Comissão de Políticas e Comunicações dos democratas na câmara baixa..Além do Congresso, há outros luso-americanos eleitos para cargos estaduais importantes, tais como Senados estaduais - Henry Stern na Califórnia, Rick Lopes no Connecticut ou Marc R. Pacheco no Massachusetts. Há ainda mais nas Câmaras dos Representantes estaduais, como Cecilia Aguiar-Curry na Califórnia, Nick Freitas na Virgínia ou Antonio F. Cabral no Massachusetts. As associações que defendem os interesses da comunidade luso-americana querem, no entanto, mais membros a candidatarem-se a cargos públicos no país. O Censo de 2020 contabilizou cerca de 1,5 milhões de pessoas - mais concretamente, 1 454 262 - de origem portuguesa nos Estados Unidos..O regresso de Devin Nunes.FOTO: Diana Quintela/ Global Imagens.O neto de açorianos Devin Gerald Nunes está de volta com a nova Administração de Donald Trump. Depois de ter saído do Congresso em 2021, terminando uma carreira de quase 20 anos na Câmara dos Representantes pela Califórnia, Nunes assumiu a direção-executiva da rede TruthSocial, detida por Donald Trump. Agora, o presidente eleito escolheu-o para liderar o seu Conselho de Inteligência, ao mesmo tempo que se mantém como CEO da rede social. Nunes foi um dos maiores aliados de Trump durante o primeiro mandato do presidente, na altura como chair da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes. Foi nessa posição que divulgou um memorando, em 2018, alegando que havia uma conspiração do FBI contra Donald Trump e levantando uma série de questões sobre a vigilância de um aliado de Trump durante a campanha de 2016. .Em 2019, Lee Smith publicou o livro The Plot Against the President: The True Story of How Congressman Devin Nunes Uncovered the Biggest Political Scandal in U.S. contando a versão do lusodescendente sobre a alegada conspiração do FBI.