Português na Ucrânia: "Não se via ninguém e só se ouviam sirenes em Kiev"
O dia começou em sobressalto. Depois de semanas de tensão crescente, a guerra começara. Durante a madrugada de quinta-feira (às 2.50 horas de Lisboa, 4.50 em Kiev), o presidente russo Vladimir Putin declarou o início de uma ofensiva militar em território ucraniano com o objetivo principal de "desmilitarizar e desnazificar" o país. Horas depois, soavam alarmes em Kiev que alertavam para um eventual ataque aéreo.
Foi o sinal para Ricardo Cotovio, um dos portugueses que estava na capital ucraniana, sair da cidade. Quando falou ao DN, o nutricionista, que trabalha no clube desportivo Shakhtar Donetsk, já estava fora de Kiev. O objetivo principal era sair da Ucrânia o quanto antes.
"Acordei com os alarmes da cidade", começou por contar, acrescentando: "Nunca tinha ouvido alarmes de guerra e foi surpreendente acordar com isso." A notícia da evacuação não foi recebida como uma novidade, "mas as pessoas diziam que havia muita desinformação a circular e que talvez não fosse haver uma invasão".
Apesar da descrença numa possível ofensiva russa, o pior cenário confirmou-se. Assim que conseguiu, Ricardo deslocou-se à embaixada portuguesa. "Fiz o trajeto a pé, com algum receio", revelou. Ao longo do percurso, de cerca de meia hora, "as ruas estavam muito vazias, com pessoas a carregar sacos de compras e filas à porta dos bancos". Segundo Ricardo, circular em Kiev durante a manhã de quinta-feira "era um pouco assustador. Não se via ninguém e só se ouviam as sirenes de alerta".
Quando chegou à porta da representação portuguesa, Ricardo deparou-se com os funcionários a sair. "Alertei os outros portugueses que conhecia e começámos a preparar-nos para sair", explicou. O grupo onde Ricardo está é composto por 15 portugueses, incluindo Edgar Cardoso, seu colega no Shakhtar.
Apesar do alvoroço, a viagem rumo à evacuação estava "a ser feita sem problemas" até ao momento em que falámos. A única presença militar "foram dois caças ucranianos que avistámos", revelou Ricardo.
As primeiras horas da ofensiva russa na Ucrânia ficaram marcadas pelas imagens de longas filas de trânsito, sobretudo em Kiev. "Por todas as estações de combustível que passámos, aquilo que se via eram filas enormes. Era uma correria autêntica", descreveu.
A noite após o ataque foi passada num abrigo a caminho do local combinado para a evacuação, que por razões de segurança não foi revelado. Ao início da tarde de ontem, Ricardo e o grupo que o acompanhava estavam a "poucos minutos" de conseguir passar a fronteira. "Felizmente, desde ontem [quinta-feira] a viagem correu sem problemas de maior", referiu.
Na altura, os planos imediatos ainda não eram claros. "Assim que passarmos para o outro lado, falaremos com o embaixador e os planos vão ser definidos conforme o que nos disserem", concluiu.
rui.godinho@dn.pt