Políticos, artistas e clubes unem-se em apelos por oxigénio para Manaus

Situação caótica nos hospitais de Manaus, no Brasil, com pacientes a serem assistidos através de ventiladores mecânicos, que são equipamentos que precisam do auxílio de uma pessoa para funcionar

A falta de oxigénio nos hospitais de Manaus, no Brasil, levou vários políticos, artistas e clubes desportivos a unirem-se em apelos e doações para ajudar os pacientes internados naquelas unidades de saúde, que entraram em colapso.

O investigador Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Amazónia, citado pelo jornal Folha de S.Paulo, disse esta quinta-feira ter recebido vídeos, áudios e relatos telefónicos de pessoas que atuam na linha de frente de unidades de saúde com informações dramáticas.

"Estão relatando efusivamente que o oxigénio usado para tratar pacientes em estado grave acabou em instituições como o Hospital Universitário Getúlio Vargas e serviços de pronto atendimento, como o SPA José de Jesus Lins de Albuquerque", afirmou Orellana.

"Acabou o oxigénio e os hospitais viraram câmaras de asfixia (...) Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes", acrescentou o investigador.

O reitor Sylvio Puga, da Universidade Federal do Amazonas, que administra o Hospital Universitário Getúlio Vargas, explicou que, por falta de oxigénio, os pacientes receberam atendimento por meio de ventiladores mecânicos, que são equipamentos que precisam do auxílio de uma pessoa para funcionar, acrescentando que os funcionários do hospital trabalham para evitar a morte dos pacientes.

Pacientes que estão sendo tratados em casa também relataram dificuldade de reabastecer os cilindros de oxigénio alugados.

A situação, considerada caótica por médicos e familiares de pacientes, obrigou o governador do estado do Amazonas, cuja capital é Manaus, a transferir os doentes infetados com covid-19 para outras cidades do país.

"Expresso a minha gratidão como ministro de Estado pela atitude humanitária dos governadores que aceitaram de imediato receber pacientes com covid-19 vindos do Amazonas. Eles serão alocados inicialmente em hospitais universitários federais para um atendimento justo. Ninguém fica para trás! Somos uma só Nação!", escreveu no Twitter o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Ramos.

Vários atores, cantores, comediantes e youtubers comoveram-se com a situação, que deixou sem oxigénio centenas de pessoas no Amazonas, e usaram as redes sociais para apelar à ação política e anunciar a doação de cilindros de oxigénio.

"Providenciando 20 cilindros de 50 litros de oxigénio para distribuir nas unidades mais urgentes em Manaus! 'Alô' meus amigos artistas! Na hora de fazer espetáculos é tão bom quando o público nos recebe com carinho, não é? Vamos retribuir?", apelou no Twitter Whindersson Nunes, um dos maiores youtubers brasileiros.

Além de Whindersson, também artistas brasileiros como Tata Werneck, Marília Mendonça e Wesley Safada~o anunciaram a doação de cilindros de oxigénio.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram as próprias famílias de pacientes a transportar para os hospitais tanques de oxigénio que adquiriram por conta própria.

No universo desportivo, vários clubes de futebol usaram a hashtag #OxigenioParaManaus para chamar a atenção para a crise de saúde que se abate sobre o estado do Amazonas, no norte do país.

"Uma pausa neste dia de comemorações para unir a nossa voz num pedido de socorro: #OxigenioParaManaus", escreveu no Twitter o Santos Futebol Clube.

"Fiel, é hora de chamar atenção para um assunto muito grave. #OxigenioParaManaus", apelou por sua vez o clube Corinthians nas redes sociais.

A falta de oxigénio nos hospitais do Amazonas fez com que vários políticos responsabilizassem o atual Governo, presidido por Jair Bolsonaro, que classificaram de "incompetente".

"O que está a acontecer em Manaus é criminoso! Falta oxigénio nos hospitais e pacientes estão a ser transferidos para outros estados. Faltam camas! Uma tragédia sem precedentes, que conta com a omissão de um Governo Federal incompetente!", criticou no Twitter o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues.

"A falta de oxigénio em Manaus, o atraso na vacina, a falta de coordenação com estados e municípios são resultado da agenda negacionista que muitas lideranças promovem. Está na hora de todas as forças se unirem para salvar vidas", escreveu por sua vez o presidente da Câmara dos Deputados brasileira, Rodrigo Maia.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou o Amazonas esta semana e afirmou que Manaus é "prioridade nacional neste momento".

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (207.095, em mais de 8,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.979.596 mortos resultantes de mais de 92,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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