Polícia decide oferecer recompensa pela captura de “rambos brasileiros”
A polícia brasileira decidiu oferecer 15 mil reais, cerca de três mil euros, a quem forneça informações que possam levar à captura de Deibson Cabral Nascimento, conhecido como Tatu, e Rogério da Silva Mendonça, chamado por Querubin, fugidos há quase duas semanas da prisão de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, no Brasil, apesar dos mais de 500 polícias, de cães farejadores, de helicópteros e de drones colocados à disposição nas buscas.
Os investigadores afirmam que os fugitivos, os primeiros da história a conseguirem escapar de um dos cinco estabelecimentos prisionais de segurança máxima do país, pagaram cinco mil reais, o equivalente a aproximadamente mil euros, para utilizar uma casa no meio do mato, onde a polícia encontrou roupas, comida e até duas redes onde eles supostamente descansaram. Foi encontrado ainda um pequeno túnel utilizado, segundo as autoridades, para a dupla escapar do alcance dos drones, que medem mapas de calor humano, revelou o programa Fantástico, da TV Globo.
Queixam-se ainda os agentes das chuvas constantes na região tropical, que vão apagando vestígios dos criminosos, e das plantações abundantes de fruta, que os vão auxiliando a permanecer bem alimentados.
Como a fuga duradoura incomoda o governo brasileiro, até Lula da Silva já se manifestou. “Parece que houve conivência de alguém de lá de dentro do sistema”, justificou o presidente da República.
O executivo autorizou na semana passada o envio de um reforço de 100 agentes da Força Nacional em auxílio dos cerca dos 300 agentes da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), das forças policiais civil e militar, a que já se haviam juntado 25 integrantes do Comando de Operações Táticas, unidade de elite da PF, e sete polícias do Grupo de Resposta Rápida da PRF, exaustos após infrutíferas buscas dia e noite. Os polícias contam com a ajuda de três helicópteros, drones e cães farejadores.
Em conferência de imprensa logo após a fuga, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o recém nomeado Ricardo Lewandowski, atribuiu a fuga inédita de uma prisão federal “a uma sucessão de coincidências negativas”, entre as quais ser madrugada de terça para quarta-feira de carnaval, o que pode ter relaxado a vigilância, e de o estabelecimento estar em obras.
Os prisioneiros terão escapado, por volta das 03h30 da madrugada de quarta-feira pelo teto de cada uma das suas celas individuais, na zona onde estão os candeeiros, passado por uma região onde se encontravam ferramentas usadas naquelas obras, como alicates, e graças a eles furado tapumes e arame farpado até ao exterior do edifício. Só às 05h00 os guardas deram pela falta da dupla.
Para retirar esses candeeiros usaram cabos de ferro situados debaixo das mesas das respetivas celas e com eles foram alargando o buraco até conseguirem sair. Usaram ainda, segundo a perícia, sabão para ser mais fácil escorregar e escapar.
Como os presos mais perigosos daquela ala estão impedidos de se comunicarem e como o processo para arrancar os candeeiros e abrir o buraco faria naturalmente ruído forte, há suspeita de que funcionários da cadeia possam ter contribuído para a fuga. O então diretor da Penitenciária Federal de Mossoró foi afastado e um interventor foi nomeado para comandar a unidade. O ministro da Justiça determinou a revisão de todos os equipamentos e protocolos de segurança e suspendeu o banho de sol e as visitas sociais nas cinco penitenciárias federais do país.
A Corregedoria do Sistema Prisional afastou os responsáveis pelas áreas de segurança, inteligência e administração da prisão de Mossoró até à conclusão das investigações. A PF abriu uma investigação da PF irá apurar eventuais responsabilidades de natureza criminal de pessoas que podem ter facilitado a fuga dos presos, que são ligados à organização criminosa Comando Vermelho. Outra investigação, que ocorre de forma paralela, para apurar as responsabilidades da fuga pode levar a um processo administrativo. Lewandowski anunciou que o governo de Lula da Silva vai agora investir na melhoria do sistema de vigilância por vídeo e na construção de muralhas em redor das cinco prisões federais, como a de Mossoró.
Os nomes e as fotos dos fugitivos foram incluídos na lista de difusão vermelha (para criminosos procurados).
Antes de ser descoberta a permanência numa casa, os dois fugitivos, descritos como “de alta periculosidade” pelas autoridades brasileiras, fizeram uma família refém dentro de uma habitação na zona rural de Mossoró, jantaram, levaram telemóveis, ovos e laranjas com eles, e, segundo o casal feito refém, vibraram ao ver que eram abertura do Jornal Nacional, o principal noticiário da TV Globo. Mas desanimaram-se quando souberam, na ocasião, que estavam a apenas três quilómetros de distância da prisão, o que os levou a concluir que andaram em círculos.
Logo após a fuga, Tatu e Querubin foram vistos a correr por moradores, que se fecham a sete chaves nas suas casas. A polícia também encontrou vestígios de pegadas, roupas de presidiário, toalhas e um lençol espalhados pela mesma região. Foi relatado que a dupla invadiu uma casa rural, de onde furtou comida e roupas.
"Tatu", de 33 anos, é natural de Rio Branco, capital do estado Acre, e está ligado a mais de 30 processos por crimes como organização criminosa, tráfico de drogas e roubo.
No total, tem 81 anos de prisão em condenações. De acordo com o promotor Bernardo Albano, este fugitivo é um dos fundadores do Comando Vermelho (CV), segunda maior organização criminosa do Brasil, no Acre, no final de 2013.
Autor de uma fuga espetacular ainda no Acre, “Tatu” foi condenado, entre outros crimes, por tentativa de roubo seguida de morte em Brasiléia, no interior daquele estado, em agosto de 2015. A vítima reagiu ao assalto, foi atingida a tiros na região da cintura e morreu ao chegar ao hospital da cidade. No mesmo mês, ele foi apontado como principal suspeito pelo sequestro de uma família no município de Filadélfia, na Bolívia. Na ocasião, exigiu 50 mil dólares pela libertação.
“Querubin” cumpre 74 anos acumulados de prisão por crimes como homicídio e roubo. Ele é natural de Sena Madureira, no interior do Acre, e também faz parte do CV. Entre as penas, foi condenado a mais de 32 anos por, de dentro de uma prisão, mandar matar um adolescente, Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, membro do CV, por este ter feito um comentário que desagradou um superior.
“Foi por um motivo fútil. O menor fez um comentário que não agradou um deles, que estava preso, chamou ele de alguma coisa. Teve uma espécie de julgamento sumário e deram um tiro na cabeça dele", disse na época o então delegado do caso, Marcos Frank, citado pelo portal G1.
“Querubin” esteve em todas as prisões do Acre, registou mau comportamento em todas e de todas tentou fugir, segundo o seu cadastro prisional. Os dois foram transferidos para Mossoró em setembro do ano passado após se envolverem numa rebelião noutra prisão, a Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos, três deles decapitados.
O líder histórico do CV, Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, também está preso em Mossoró, condenado a mais de 309 anos de prisão. Marcos Camacho, o Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital, maior organização criminosa do Brasil, está noutra prisão federal, a de Brasília, a cumprir pena de 342 anos. Além de Mossoró e Brasília, há prisões de segurança máxima em Catanduvas, no Paraná, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e em Porto Velho, em Rondônia.