Primeiro-ministro neerlandês demite-se depois de partido de extrema-direita se retirar do governo de coligação
O primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof, anuncou a demissão esta terça-feira (3), horas depois de o populista Geert Wilders, líder do maior partido do Governo, ter abandonado a coligação de direita.
O primeiro-ministro e os restantes elementos do governo permanecerão no cargo a título interino, segundo disse aos jornalistas. Não foi definida uma data para eleições, mas é improvável que aconteceça antes de outubro.
Nos últimos dias, Dick Schoof avisou que derrubar o governo deria "desnecessáro e irresponsável".
A decisão de Dick Schoof foi o culminar de um dia de turbulência política, depois de o líder da extrema-direita dos Países Baixos, Geert Wilders, ter retirado o partido (PVV) da coligação governamental devido a um desacordo sobre a imigração, abrindo assim caminho para eleições antecipadas.
"Não há acordo para o nosso plano de asilo (...). O PVV abandona a coligação", escreveu Wilders nas redes sociais.
Para o líder da extrema-direita, não havia outro caminho. "Não podíamos fazer outra coisa. Prometi aos eleitores a mais rigorosa política de asilo de sempre, mas não vos foi concedida", justificou Wilders.
O líder do partido de extrema-direita referia-se ao programa que tinha apresentado e que visava reforçar a política em relação aos imigrantes e aos requerentes de asilo.
A coligação governamental dos Países Baixos, formada por quatro partidos políticos, liderada pelo primeiro-ministro, Dick Schoof, foi constituída há 11 meses.
Schoof, um funcionário público de carreira sem filiação partidária, comentou que, quando foi convidado para primeiro-ministro, aceitou o cargo "com a convicção de que poderia contribuir de alguma forma para a solução dos problemas que o país enfrenta".
Afirmou ainda que "mantém essa convicção" e, por isso, continuará a trabalhar a título interino até que seja formado um novo governo.
"Estamos a enfrentar grandes desafios a nível nacional e internacional e, mais do que nunca, precisamos de determinação para garantir a segurança, a resiliência e a economia", justificou.
Schoof ficará acompanhado por ministros do partido liberal VVD, dos Democratas Cristãos (NSC) e do Partido dos Agricultores (BBB), mas desconhece-se quem ocupará temporariamente os cinco ministérios deixados pelos políticos ligados ao PVV.
"Num mundo em rápida mudança, para todas as pessoas nos Países Baixos que estão preocupadas em encontrar um lar, com o seu rendimento, para os agricultores e horticultores que desejam um futuro, e também para retomar o controlo da migração. Tudo isto requer ação, não atrasos", prosseguiu Schoof.
O Governo cessante tomou posse em 02 de julho do ano passado, após meses de negociações entre os quatro partidos da coligação que se formou no seguimento das eleições de novembro de 2023.
Após acaloradas negociações de última hora com o objetivo de salvar a coligação de quatro partidos, Wilders declarou que não tinha outra alternativa a não ser retirar os seus ministros.
"Integrei-me para uma política de asilo mais rigorosa, não para o colapso do país", argumentou Wilders, de 61 anos, cujo partido emergiu como o surpreendente vencedor das eleições de novembro de 2023.
A retirada dos ministros do PVV abre um período de incerteza política no país, a quinta maior economia da União Europeia (UE), à medida que partidos de extrema-direita ganham terreno em todo o continente.
Os Países Baixos também acolhem a próxima cimeira da NATO dentro de apenas algumas semanas.
As sondagens indicam que o PVV permanece em primeiro lugar, mas a diferença para os seus rivais mais próximos está a diminuir, seguido de perto pela aliança dos Verdes e dos Sociais-Democratas, liderada pelo antigo vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans.
O partido liberal VVD, tradicionalmente um ator importante na política neerlandesa, também está perto do topo das sondagens e a próxima eleição será provavelmente bastante disputada.
*Com Lusa