Os deputados israelitas aprovaram esta segunda-feira uma lei que poderá ameaçar o trabalho da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), que presta ajuda à população de Gaza, impedindo-a de operar em solo israelita..O projeto de lei proíbe a UNRWA de realizar "qualquer atividade" ou de prestar qualquer serviço dentro de Israel..A legislação, que não entrará em vigor imediatamente, arrisca-se a colapsar o frágil processo de distribuição de assistência em Gaza, numa altura em que a crise humanitária no enclave se está a agravar e em que Israel se encontra sob crescente pressão dos Estados Unidos (EUA) para reforçar a ajuda aos palestinianos..A votação foi aprovada por 92-10 após um debate aceso entre os defensores da lei e os seus opositores, na sua maioria membros de partidos parlamentares árabes. .No total, o parlamento israelita aprovou três projetos de lei que visam proibir as atividades da agência da ONU para os refugiados palestinianos, acusada de ter ligações com o grupo islamita Hamas..O primeiro projeto de lei, cujo objetivo é proibir a organização de atuar em território israelita, o segundo projeto de lei visa retirar ao efetivo da UNRWA imunidades e benefícios legais concedidos ao pessoal das Nações Unidas em Israel..Por fim, o terceiro projeto de lei procura classificar a agência da ONU como uma organização terrorista, exigindo que Israel rompa os laços com ela.."Não há um dia em que o nosso porta-voz do Exército não publique novas descobertas que liguem a UNRWA ao terrorismo", argumentou a deputada Yulia Malinovsky, do partido nacionalista de direita Israel Beitenu, e uma das apoiantes da nova legislação..UE, EUA e Reino Unido preocupados com legislação de Israel que corta laços con UNRWA.A União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido expressaram preocupação com a legislação que foi aprovada pelo parlamento israelita, que dificulta as operações da agência das Nações Unidas para os palestinianos..Em comunicado em nome da União Europeia (UE), o alto representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, expressou uma "grande preocupação" com os diplomas hoje aprovados no parlamento israelita..De acordo com Josep Borrell, os documentos legislativos "têm consequências de grande alcance" e "dificultam as operações fulcrais da Agência das Nações Unidas aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA)", nomeadamente o fornecimento de "cuidados de saúde, educação e sociais" na Cisjordânia..Para o bloco comunitário, as legislações aprovadas são uma "contradição gritante com a lei internacional e os princípios humanitários fundamentais" e vão "exacerbar severamente as crises humanitárias, coartando potencialmente serviços essenciais" para "milhões de refugiados palestinianos".."A UE exorta as autoridades israelitas a reconsiderarem [as legislações], de modo a impedir disrupções dos serviços essenciais da UNRWA e assegurar o acesso humanitário desimpedido e continuado aos refugiados palestinianos, cumprindo o seu propósito", acrescentou Josep Borrell..O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, disse que Washington instou Telavive a "não aprovar" as alterações legislativas em causa.."Deixámos claro ao Governo israelita que estamos profundamente preocupados com estas propostas", acrescentou o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, recordando o "papel crucial" que a UNRWA tem na região..De Londres também chegaram críticas às propostas entretanto aprovadas. O chefe da diplomacia britânica, David Lammy, expressão "profundo pesar" pelos projetos de lei que o parlamento debateu e aprovou.."É profundamente lamentável que o parlamento esteja a considerar encerrar as operações da UNRWA [...]. As alegações feitas contra os funcionários da UNRWA foram minuciosamente investigadas e não justificam o fim dos laços com a UNRWA", comentou..No início de 2024, Israel acusou a UNRWA de apoiar as atividades terroristas do movimento islamita Hamas e disse que a organização estava a ajudar a financiar aquele grupo miliciano e que era abrigo para 450 combatentes..Apesar de desmentidas imediatamente as acusações, a organização aceitou fazer um inquérito interno para apurar se houve algum funcionário envolvido nas operações do Hamas ou se fundos tinham sido desviados para financiar as atividades terrotistas..A antiga ministra dos Negócios Estrangeiros francesa Catherine Colonna levou a cabo um inquérito independente..As conclusões levaram ao afastamento de nove pessoas alegadamente envolvidas no atentado de 7 de outubro de 2023.